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Antonio Pitanga preside o júri da Première Brasil

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Por Rodrigo Fonseca
Aos 83 anos, com uma série de filmes para esterar, Antonio Pitanga assume o posto de presidente da competição de curtas e longas do Festival do Rio antes de partir para a Bahia, para finalizar seu novo trabalho como realizador: "Malês" Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Às vésperas de o Festival do Rio 2022 começar, com a projeção de "Império da Luz", de Sam Mendes, a direção da Première Brasil, a ala nacional (e menina dos olhos) do evento, anuncia a escolha do ator baiano Antonio Pitanga como presidente do júri da competição de 2022. Ao lado dele estarão a atriz Andréia Horta; o curador, programador e jornalista Bernard Payen; as produtoras Eleonora Granat Jenkinson e Clélia Bessa; e o cineasta João Jardim. A presença de Pitanga nesse posto coincide com a carreira internacional de seu mais recente trabalho como protagonista nas telas, "Casa de Antiguidades". Lançado na França em agosto, depois de um périplo mundial iniciado nos festivais de Toronto e de San Sebastián, o filme de João Paulo Miranda Maria deu ao ator baiano de 83 anos seu personagem mais ousado desde "A Idade da Terra" (1980), no qual viveu o Cristo Negro de Glauber Rocha. Agora ele é Cristovam, goiano que trabalha em um laticínio de uma família austríaca no Sul do país. Um Sul separatista, que não digere a presença de populações negras. Perseguido por crianças que zombam dele, Cristovam vai parar numa casa repleta de quinquilharias. Os objetos fazem com que ele reveja sua história e vão servir de arma (ou de alegoria) na sua peleja contra a intolerância. Na entrevista a seguir, Pitanga fala sobre seu compromisso com os concorrentes ao troféu Redentor, prometendo concluir no início de 2023 um longa que assina como diretor, "Malês".

O ator baiano no set do brilhante "Casa de Antiguidades", com João Paulo Miranda Maria  

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Como o senhor encara essa convocação para presidir o júri da Première Brasil? Antonio Pitanga: Vejo esse gesto da Ilda (Santiago), da Vilma (Lustosa), da Walkiria (Barbosa) e de todo o povo das cabeças do Festival do Rio como um sinal de admiração por uma carreira que começou ainda nos anos 1950. Eu já havia sido convidado antes e não pude aceitar por ter algum filme em rodagem ao mesmo tempo. Agora, deu certo. Agora, no lugar de presidente, eu assumo uma responsabilidade com jovens diretoras e diretores que estão submetendo seus trabalhos à nossa apreciação. E levo comigo nessa tarefa todas as trocas que tive com Glauber, com Cacá Diegues, com Leon Hirszman, com Roberto Pires e todos os grandes nomes do nosso Cinema Novo que começaram comigo.E essa tarefa se dá no momento em que o senhor prepara a fase final de seu segundo longa de ficção como diretor: "Malês". Antes, no fim dos anos 1970, houve "Na Boca Do Mundo", um longa seu que arrancou elogios da crítica francesa. Seu novo projeto é centrado num levante do século XIX. Em que pé ele está? Antonio Pitanga: Rodamos já uma parte, uns 30%, em Maricá, cidade com casas e fazendas que aparentam uns 200 anos, o que ajuda a gente, uma vez que se aproxima do período que estamos recriando. Agora, filmamos o que falta na Bahia. O Flávio Tambellini, meu produtor, tá comigo nesse projeto há uns 15, 20 anos, sempre próximo, sempre fiel. Tivemos que parar as filmagens, depois dessa fase de Maricá, por conta da pandemia e de chuvas que acidentaram a Bahia. Tenho uma história de época (sobre a maior revolta da intelectualidade negra do século XIX, muçulmana, contra a escravidão) feita com orçamento pequeno. Não poderia correr o risco de parar tudo. Agora, retomamos, entre janeiro e fevereiro. Retomamos para falar de liberdade e questionar o racismo.Qual é a importância de "Casa de Antiguidades", que foi exibido no Festival do Rio em 2021, para a sua carreira no cinema? Antonio Pitanga: O João Paulo Miranda Maria, meu diretor, é um cineasta do interior. Vem do interior de São Paulo. Glauber Rocha também vinha do interior da Bahia. João é, hoje, o que Glauber foi à sua época: alguém que representa a coragem. Filmando com ele eu olhava um retrovisor onde via Cacá Diegues, Roberto Pires, Carvana e tantos outros. Ele exigiu de mim a minha garra. Cristovam é um corpo que implode sob a covardia que lhe impõem até explodir num jorro selvagem contra o racismo. Eu tenho muitos filmes que foram feitos em meio à pandemia e que estão saindo agora. "Tinnitus" é um deles. Mas tem mais. Há alguns anos, a Camila, minha filha, e o Beto Brant, enxergaram a minha história e filmaram a minha vida em forma de documentário, fazendo as pessoas olharem pra mim. Estou aí, filmando.p.s.: Com texto e direção de Cecilia Ripoll, o espetáculo "PANÇA" fará uma série de apresentações no Rio de Janeiro a partir deste sábado, 8 de outubro. A fábula se inspira no surgimento da máquina de imprensa, inventada por Gutenberg no século 15, para refletir sobre a comunicação humana, a noção de verdade e a manipulação de discursos na sociedade contemporânea. As sessões, com ingressos gratuitos, serão no Centro Cultural Casa Uivo, em Paracambi (08/10, às 16h); Espaço Cultural Código, em Japeri (15/10, às 15h); Biblioteca do Centro Cultural Justiça Federal (22/10, às 16h); Faculdade de Letras da UFRJ (25/10, às 10h) e Sede das Cias (03 a 06/11, às 20h).

p.s.2: O musical "A Menina do Meio do Mundo - Elza Soares para Crianças" encerra temporada neste domingo (09/10), no Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea. Numa grande homenagem à cantora, o novo espetáculo do premiado projeto "Grandes Músicos para Pequenos" enaltece a força da mulher negra e reúne sucessos como "Meu Guri", "A Carne", "Se Acaso você Chegasse", "Mas que nada", "Lata D'Água", "A Mulher do Fim do Mundo" e muitos outros, em arranjos pensados para as novas gerações.

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