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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'Arena': a obra-prima da HQ brasileira de 2022

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Por Rodrigo Fonseca

RODRIGO FONSECA Desde "A Confluência da Forquilha" (1991), o quadrinho brasileiro não usava o preto & branco de maneira tão arrebatadoramente sinestésica quanto se vê em "Arena", "a" obra-prima da HQ brasileira de 2022, lançada em capa dura pela ed. Pipoca & Nanquim. Recém-saído de um mergulho em "Authority & Superman" da Panini, o P de Pop foi atraído pelas páginas em P&B do desenho de Alan Patrick à força de um visual digno do grande dragão Van Damme em "Leão Branco, Lutador Sem Lei" ("Lionheart", 1991), de Sheldon Lettich. Bastaram poucas páginas (de uma escrita na navalha do intimismo) pra que o roteiro de Alexandre Callari levasse o Estadão a nocaute. E lá fomos madrugada adentro, lendo um gibi sobre reinvenções, que evoca a arte de Paul Gulacy ("Batman Acossado"). Seu protagonista, Rômulo Cruz, o Triturador, lembra Mickey Rourke no seminal "O Lutador" ("The Wrestler"), Leão de Ouro em Veneza em 2008. Callari aplica todos os códigos das narrativas de superação, num enredo sobre segunda chance no universo das artes marciais mistas, fintando clichês.

 

Frustrado com os percalços da vida e fustigado por um inimigo on the rocks, Rômulo é convidado por José Prado, um antigo colega de tatame, a participar de um evento que pode mudar seu destino, o Arena, um torneio de MMA que busca ser tão grande quando o UFC. Aos 39 anos de idade, trabalhando como instrutor de defesa pessoal e sem perspectiva de vida, Rômulo reluta em aceitar. O que ele não sabe é que o Arena está afundado em dívidas e, por conta de um capricho do destino, sua participação pode ser a única virada no destino de José, hoje refém de um perigoso agiota. Mas Rômulo prefere passar as noites em uma casa noturna, assistindo aos shows da garota de programa e dançarina Ana Maya, por quem é apaixonado em segredo. A personagem é uma Marina Tomei do interior, que injeta (ultrar)romantismo a um romance gráfico com alusões a "Rocky, um Lutador" (1976). Um romance que domina habilmente toda a cartilha da ação, em sequências de batalha avassaladoras. É uma leitura a ser ruminada, revisitada e consagrada, capaz de fazer uma ode à efervescência da noite paulistana. Que o júri do troféu Jabuti, lá pelo fim do ano, não se esqueça de uma joia verdadeiramente reluzente. É um motivo de orgulho pro quadrinho nacional.

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