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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'Disque Jane' dá um alô pra Amazon Prime

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Por Rodrigo Fonseca
Wunmi Mosaku e Elizabeth Banks trocam experiências sobre a perda nos EUA dos anos 1960 em "Disque Jane", na no Amazon Prime - Fotos de divulgação: @Wilson Webb  

RODRIGO FONSECA Um dos achados da Berlinale 2022, indicado ao Urso de Ouro, pede passagem pelo streaming, na grade da Amazon Prime: o arrebatador "Disque Jane" ("Call Jane"). Passou no Festival do Rio, mas não teve chance em circuito. Tá no ar online já, com direito a uma versão brasileira eficaz, recheada de dubladoras potentes. Sigourney Weaver é um dos motivos pelos quais o longa-metragem pilotado pela diretora teatral e dramaturgia Phyllis Nagy pode se consagrar no olhar do público. Sigourney vive a ativista que, nos EUA do fim dos anos 1960, lidera uma associação que poderia ser traduzida como As Janes.

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"Eu valorizo painéis históricos em que a inquietação humana é tão forte quanto o olhar sobre o tempo", disse Sigourney em Berlim, quando o projeto, egresso de Sundance, encantou a crítica.

Pautado numa discussão sobre o direito das mulheres ao próprio corpo, "Disque Jane" confia seu protagonismo à atriz e cineasta Elizabeth Banks, que lançou hoje no Brasil o ótimo "O Urso do Pó Branco". Ela atua numa mescla de sofreguidão e perplexidade, num processo doído de reeducação sentimental. "Venho seguindo a carreira de Banks há uns dez anos, pelo menos, e sei como ela pode brilhar em tela, sobretudo em prol da comédia", disse Phyllis ao P de Pop em Berlim. "Quando eu embarquei nesse projeto, dando a ele um olhar pessoal, percebi que ninguém conhecia direito essa história real, na qual um grupo de mulheres, muitas delas estudantes, resolveram trabalhar juntas para ajudar quem precisava fazer aborto, principalmente pessoas pobres, que careciam de acolhimento e apoio".

Reprodução do cartaz do filme, que concorreu ao Urso de Ouro da Berlinale  

Dona de casa nos moldes da classe média americana do fim dos anos 1950, Joy, personagem de Elizabeth, precisa interromper sua segunda gravidez, a todo custo, por problemas cardíacos que podem custar sua vida. Por pudores morais, os médicos estão se lixando pra ela, preocupados apenas com o bebê, sem lidar com a variante de que a criança possa nascer órfã. Desesperada para abortar, no auge da patrulha de bons costumes do fim dos anos 1960, ela se depara com o anúncio de um grupo de acolhimento que atende pelo nome de Jane. A sigla é "Disque Jane". É tipo um "Chama a Jane" cuja líder é a feminista Virginia (Sigourney, em sua interpretação mais inspirada em anos). A função do grupo é garantir que mulheres como Joy, desesperadas pra evitar uma maternidade indesejada ou arriscada, possam escolher sem próprio destino sem punição.

Autora de peças aclamadas, entre elas "Weldon Rising", Phyllis retrata os homens sem jamais resvalar em caricaturas, como comprova a complexa figura do advogado Will, companheiro de Joy, que ela confiou ao ótimo Chris Messina. Igualmente complexo é o médico aborteiro Dean (Cory Michael Smith). Sua figura é tratada sem julgamentos. A diretora ainda foi feliz em abrir frentes de debates sociais perpendiculares à exclusão do sexismo, como se vê no debate contra o racismo, concentrado na figura de Gwen (Wunmi Mosaku), uma das Jane, preocupada com "suas irmãs" do movimento Panteras Negras.

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