Qual é a medida da palavra "política" para a escrita de um roteiro como "Domingo"? O quanto um roteirista tem licença pra imprimir poética política num roteiro? LUCAS PARAIZO:
Acho que no roteiro do "Domingo" a política passa pelas relações familiares dos personagens e por suas posições sociais. Considero esse um filme político sem ser panfletário. Tudo nele é dramaturgia. Não tem nenhum discurso gratuito. As esferas pública e privadas se cruzam numa espécie de "vaudeville" num dia histórico do Brasil (a posse do Lula em 2003) que culmina com um final que ressignifica a história.
Que dimensão trágica ou cômica de Brasil os personagens de "Domingo" espelham? LUCAS PARAIZO:
Muitas. O Brasil é trágico e cômico, assim como as famílias dos protagonistas de "Domingo". Cada um ali tem sua máscara prestes a cair. A intimidade familiar reforça a hipocrisia e coloca os personagens em dilemas éticos e morais. Depois desse sábado com gosto de domingo, esses personagens já não poderão mais voltar atrás, assim como o Brasil -- mesmo apesar da (dura) realidade política que vivemos hoje.
Como é o processo de concepção de dramaturgia que a sua experiência na TV traz para um projeto de filme autoral como esse? LUCAS PARAIZO:
Quando estudei cinema em Cuba, na Escuela Internacional de Cine y Televisión en San Antonio de Los Baños, sempre ouvi que deveria escolher escrever para o cinema OU a TV. Mas sempre fui contra essa divisão. O cinema e a TV se retroalimentam no meu trabalho, com o dinamismo de um e a poesia do outro. Juntos, eles me fazem ser mais criterioso, rigoroso e aproveitar o que cada "formato" me ensina e proporciona.
Quais serão os seus próximos passos no cinema? LUCAS PARAIZO:
Um projeto novo com a
Flávia Castro
(diretora de
"Deslembro"
) que não posso falar muito ainda.