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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'Drive My Car' é o Melhor Filme de 2022 para a ACCRJ, que coroa ainda 'Eduardo e Mônica'

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Por Rodrigo Fonseca
 Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Ganhador do Oscar de Melhor Filme Internacional de 2022, coroado antes com o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes, "Drive My Car", do japonês Ryûsuke Hamaguchi, foi eleito em primeiro lugar na votação Os Melhores Filmes do Ano, promovida pela Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ), neste sábado. É possível conferi-lo hoje na grade da plataforma MUBI, clicando a URL www.mubi.com. Com uma bilheteria mundial de US$ 15 milhões, esse aclamado (melo)drama foi idealizado a partir de uma releitura das historietas da coletânea "Homens Sem Mulheres" (2014), de Haruki Murakami, um dos maiores escritores da atualidade. Essa releitura conquistou o Globo de Ouro de Melhor Filme de Língua Não Inglesa; o Prêmio do Júri Ecumênico e o Prêmio da Crítica, dados pela Croisette; e outras 73 láureas de múltiplos eventos. Em setembro, no Festival de San Sebastián, a Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica (Fipresci) - à qual a ACCRJ é filiada - concedeu à tocante narrativa de Ryûsuke uma honraria especial, designando-o como longa-metragem de maior potência estética do ano passado. Dedicado neste momento a um novo projeto, chamado "Our Apprenriceship", esperado para estrear em maio, Hamaguchi integrou o júri da Berlinale, em fevereiro passado.

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"É sempre uma surpresa ver a conexão que o meu olhar vem conseguindo estabelecer com as plateias do mundo, pois o meu cinema está atento ao isolamento, num reflexo da minha condição de japonês, egresso de uma geografia insular", disse Hamaguchi ao Estadão em Berlim. "O meu cuidado é deixar que as atrizes e os atores ao meu lado desafiem qualquer risco de artificialidade inerente ao processo artístico de criação".

Além de "Drive My Car", a ACCRJ votou ainda em outros nove títulos para montar seus Dez Mais anuais, nos moldes do que pilares da crítica, como a revista "Cahiers du Cinéma", fazem. Sobem no pódio carioca, ao lado de Hamaguchi: "Não! Não Olhe" ("Nope"), de Jordan Peele; "Nada de Novo no Front" ("Im Westen nichts Neues"), de Edward Berger; "Batman", de Matt Reeves; "Licorice Pizza", de Paul Thomas Anderson; "Argentina, 1985", de Santiago Mitre; a animação em stop motion "Pinóquio" ("Pinocchio"), de Mark Gustafson e Guillermo Del Toro; "Belfast", de Kenneth Branagh; "Elvis", de Baz Luhrmann; e "Top Gun: Maverick", de Joseph Kosinski, que foi maior fenômeno de bilheteria do ano passado, com uma receita de US$ 1,4 bilhão.

"Essas escolhas carregam a força da globalização, mostrando, com a eleição de 'Drive My Car', o quanto um representante de uma filmografia oriental muito particular, como a japonesa, é capaz de ser bem-vindo e bem-visto num país tropical como o nosso, retratando a resiliência de uma cultura que já havia se aproximado de nós com Kurosawa e tantas outras vozes", diz o crítico Ricardo Largman, atual presidente da associação carioca, ao Estadão. "A qualidade de um filme faz com que as barreiras se abram para ele".

"Eduardo e Mônica"  Foto: Estadão

Ao passar em revista as principais expressões de brasilidade vistas na tela grande e mesmo via streaming, de janeiro a dezembro de 2022, a associação do Rio de Janeiro escolheu "Eduardo e Mônica", dirigido por René Sampaio e produzido por Bianca de Felippes, como o Melhor Filme Nacional de 2022. A produção, vista por 400 mil pagantes em circuito, é inspirada na canção homônima de Renato Russo (1960-1996) e recria a Brasília dos anos 1980 a partir da história de amor entre um vestibulando adolescente (Gabriel Leone) e uma artista plástica com algumas primaveras (e muitas experiências culturais) a mais do que ele (Alice Braga). "É um filme que vem da música, da cultura pop, e mostra que o cinema brasileiro é capaz de alcançar uma a harmonia entre uma história bacana - já bem contada oralmente antes, em forma de rock, de canção - e o audiovisual", diz Largman, lembrando que a ACCRJ vai prestar homenagens póstumas ao craque maior de nosso futebol - Edson Arantes do Nascimento, o Pelé -, que atuou em vários filmes, e ao cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard, mito supremo da semiologia na arte de filmar.

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Iniciativa Cinematográfica do Ano para a ACCRJ: a obra do diretor carioca Clementino Júnior  Foto: Estadão

Ao selecionar a Iniciativa do Ano, premiando o empenho de quem fez diferença estética e ética na conexão entre o cinema e as lutas sociais, a ACCRJ concedeu uma distinção honrosa à arte e à batalha antirracista do diretor carioca Clementino Júnior. Realizador de joias como "Trem do Soul" e "Curai-vos", Clementino tem um histórico singular como educador, voltando-se para o uso da linguagem cinematográfica como ferramenta de inclusão. Dono de uma obra prolífica, ele fez parte da Première Brasil do último Festival do Rio com "Romão". O documentário é uma homenagem póstuma ao ativista social e jornalista Marcos Romão, morto em 2018, que deixou um legado extenso na defesa da dignidade humana com o SOS Racismo. Pra quem não viu "Drive My Car", nele acompanhamos a saga de um ator e diretor de teatro, Kafuku (Hidetoshi Nishijima), em fase de reinvenção após a morte de sua mulher. Ele acaba por construir laços afetivos com uma jovem motorista profissional, a chofer Misaki (Tôko Miura), enquanto se dedica à encenação de uma peça de Tchekov, em Hiroshima. As cicatrizes afetivas de ambos vão formar uma trança sentimental avessa a clichês, com direito a sequências memoráveis nas quais a fumaça de dois cigarros acesos transborda a necessidade de libertação de seus protagonistas. Em 2022, Hamaguchi, hoje com 44 anos, também esteve nas telonas brasileiras com o drama "Roda do Destino" ("Wheel of Fortune and Fantasy"), do qual saiu com o Grande Prêmio do Júri, na forma de um Urso de Prata. Badalada mundialmente, essa produção narra três histórias autônomas, todas protagonizadas por personagens femininas. As três falam dos encontros e desencontros da vida, de desejos represados e do poder do acaso na transformação e nos relacionamentos humanos. "Procuro sempre, na minha forma de dirigir, dar atenção à liberdade dos sentimentos e saber ser rígido com o que é superficial e supérfluo", diz Hamaguchi, hoje um dos diretores asiáticos de maior visibilidade sob os holofotes da indústria.

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