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'Levante' é premiado em Cannes

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Por Rodrigo Fonseca
A cineasta paulista Lillah Halla com o Prêmio da Crítica da Fipresci em Cannes, por "Levante" - Fotos de @Rodrigo Fonseca  

RODRIGO FONSECA Horas depois de celebrar a vitória do elenco coletivo de indígenas de "A Flor do Buriti" na mostra Un Certain Regard, o Brasil emplaca mais uma vitória em Cannes: o Prêmio da Crítica, dado pela Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica (Fipresci), à realizadora paulista Lillah Halla por "Levante". Na década de 1980, essa mesma láurea consagrou "Memórias do Cárcere", de Nelson Pereira dos Santos (1928-2018). Egresso da Semana da Crítica, o inquieto (e inquietante) longa-metragem de Lillah, editado com a fluidez de um trem-bala (pela sempre impecável Eva Randolph), impôs-se como um dos títulos mais desafiadores aos códigos morais da contemporaneidade. Egressa do Teatro e formado pela Escuela de San Antonio de Los Baños, em Cuba, Lillah assina a direção apoiada na força da atriz Ayomi Domenica Dias. É uma trama sobre os dilemas morais mais medievais do país, dissecados a partir do processo de uma jovem atleta que engravida sem desejar e opta por aborto. Como de costume, a Fipresci escolhe três longas, um de cada seção de Cannes, para consagrar. Este ano, o eleito da competição oficial foi "The Zone of Interest", de Jonathan Glazer. Na já citada Un Certain Regard, o vitorioso foi "Los Colonos", de Felipe Galvez, do Chile. "Este roteiro foi sendo construído ao longo de sete anos, período em que cada acontecimento novo na vida brasileira ia sendo absorvido pela gente", disse Lillah ao Estadão, definindo seu filme como um exemplar da estética queer. "Ele gera espaços de resposta e imagens de um futuro possível. É importante entender que queer é muito além de uma sexualidade, embora a sexualidade nunca seja um detalhe. Queer é a criação de espaços seguros".

WIm Wenders com a láurea do Júri Ecumênico dada a seu "Perfect Days"  

Momentos depois da vitória dessa trinca, "Perfect Days", do alemão Wim Wenders, ganhou o Prêmio do Júri Ecumênico. É, atualmente, o filme mais cotado para a Palma de Ouro, sendo considerado um dos melhores longas de todo o festival e o melhor longa de ficção Wenders desde "O Hotel de Um Milhão de Dólares" (2000) - lembrando que ele ganhou o troféu principal de Cannes em 1984, com "Paris, Texas". Todo ambientado em Tóquio, seu novo filme se calça numa interpretação mesmerizante de Kôji Yakusho no papel de um zelador cuja rotina diária é limpar as privadas dos banheiros públicos de sua cidade - missão que ele executa com orgulho e fé. Em casa, ele escuta rock, em fitas K-7 e lê livros, indo e vindo da poética de Lou Reed em suas preferências musicais, É uma ode às coisas simples da vida. "Sei que em 'Asas do Desejo' eu filmei anjos, mas eu sinto que o personagem de Yakusho é um desses querubins", disse Wenders ao Estadão. "Figuras angelicais passam desapercebidas por nós, mas estão ao nosso redor". Neste sábado, foi entregue ainda o troféu L'Oeil D'Or de Melhor Documentário, que foi para a Tunísia, via "Les Filles d'Olfa", de Kaouther Ben Hania, em empate com "La Mère De Tous Les Mensonges", da marroquina Asmae El Moudir. Láurea LGBTQIA+, a Queer Palm foi dada a "Monster", de Hirokazu Kore-eda, no qual um menino de 13 anos não sabe como lidar com o que sente por um colega.

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