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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Malu Galli ilumina o vetor Tempo de 'Bocaina'

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Por Rodrigo Fonseca
Malu Galli é uma das forças que torna "Bocaina" um dos files brasileiros mais exuberantes do ano Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Esta entrevista foi concedida ao P de Pop em meados de 2020, quando o mundo parecia viver numa distopia, em função do primeiro lockdown da covid-19, mas existe nela uma atualidade essencial para se entender o Brasil de hoje, que é inerente à maneira como a atriz Malu Galli vê o mundo. Ela é uma das estrelas de "Bocaina", filme que sacudiu a competição pelo troféu Redentor do Festival do Rio e, agora, mexe com os brios da Mostra de São Paulo. A direção é de Ana Flávia Cavalcanti e Fellipe Gamarano Barbosa. É um ensaio sobre o Tempo, centrado na convivência de três entes, duas mulheres (Malu Galli e a própria Ana Flávia) e um homem (Alejandro Claveaux), numa paisagem rural, solapada por estranhos acontecimentos. Na quarta e na quinta, Malu será vista ainda em "Propriedade", de Daniel Bandeira, em sessões nos dias 26 (às 20h20, no Instituto Moreira Salles Paulista) e 27 (às 16h10, no Espaço Itaú Augusta 4). A trama: Para proteger-se de uma revolta dos trabalhadores da fazenda de sua família, uma reclusa estilista enclausura-se em seu carro blindado. Separados por uma camada impenetrável de vidro, dois universos estão prestes a colidir. O que disse Malu, que é uma gigante nas telas? O que ela disse lá atrás, sobre um filme que desafia vetores do passado e do presente, soa vivíssimo hoje.Qual é a percepção do Tempo que permeia "Bocaina"? De que maneira os três personagens lidam com a questão do confinamento? Malu Galli: O tempo em "Bocaina" é um tempo alargado, um tempo recheado de subjetividades. As personagens habitam não só aquele espaço, mas também aquele tempo outro que é o da vida simples, repleta de pequenos acontecimentos, percepções, convergências e significados. O confinamento em "Bocaina" é relativo, não há privação de liberdades, nem de convívio. O que há é um mergulho na vida daquele lugar, nos silêncios que contém tantos pequenos sons, e numa solidão acompanhada de natureza.Qual foi a dinâmica de atuação em Bocaina e como foi a construção do roteiro, pensando, em especial, uma noção de liberdade e de improviso? Malu Galli: A atuação quase totalmente improvisada, baseada principalmente na relação presente com os estímulos reais: estar em cena e realizar ações concretas, ouvir o outro e acolher os acontecimentos. O roteiro foi escrito a cinco mãos, a partir de uma ideia central que surgiu das nossas limitações: três atores, uma locação. A partir daí fomos tendo ideias e muitas discussões.O que aqueles três personagens constroem em termos de interação, de convivência? Que angústias unem essas três pessoas? Malu Galli: A convivência dos três personagens perpassa os conceitos de intimidade/ estranhamento; eu/ outro. A presença do outro/ estranho pode ser transformadora. E também, há a noção de acolher, cuidar, como ação revolucionária nestes tempos. A angústia que une os três? Não sei... Talvez a de não poder ser um...

p.s.: Ao programar sua vida para a Mostra, nesta terça, não se esqueça de "PIAFFE", de Ann Oren. Veio lá da competição de Locarno. Um clima de mistério digno do cinema de Apichatpong Weerasethakul se faz sentir nesta crônica urbana, nas raias do extra-ordinário, a tendência do momento na fantasia, na qual fatos inusitados ocorrem, sem explicação. Neste caso, tudo envolve uma relação entre irmãs. Abalada pela crise nervosa de sua mana, Eva assume um trabalho como captadora de som na filmagem de um comercial. Mas seu corpo vai entrar em mutação. E é uma mutação que faz seus sentimentos desabrocharem. Onde ver: Instituto Moreira Salles Paulista, 14h.

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