De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'Mr. Church' é o filme mais injustiçado do ano

PUBLICIDADE

Por Rodrigo Fonseca
Henry Church é um cozinheiro que dedica duas décadas de sua vida à criação de uma menina: Eddie Murphy dá ao personagem uma doçura na medida precisa  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA

PUBLICIDADE

Não restam dúvidas de que a mais arrebatadora interpretação masculina de um protagonista entre todos os filmes cotados para o Oscar 2017 é a de Casey Affleck em Manchester à Beira Mar, mas isso não é justificativa para a deselegância que as associações de críticos dos EUA e os sindicatos de Hollywood andam fazendo com o comediante Eddie Murphy, ao ignorar seu sublime (não há outra palavra) desempenho em Mr. Church. Engolfada por um mimimi politicamente correto, avesso à ideia de um negro trabalhar para uma família branca com uma disposição generosa, esta produção de US$ 8 milhões foi uma das atrações do Tribeca Film Festival, realizado em abril em Nova York, tendo como chamariz não apenas o fato de o eterno Tira da Pesada estar fazendo drama, mas a grife do cineasta australiano Bruce Beresford. São dele A Força do Carinho (1983), pelo qual Robert Duvall foi oscarizado, e Conduzindo Miss Daisy (1989), melhor filme pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas em 1990.

Não se fala em racismo em Mr. Church porque não existem conflitos sociais ou étnicos nele, apenas discussões sobre carência e sobre o enfrentamento de perdas. Afrodite à inglesa, Natascha McElhone abre o filme no papel de Marie, mãe solteira de uma garotinha ranzinza. Portadora de um câncer no seio terminal, ela teve um amante rico que, como prova de amor eterno, contrata um cozinheiro profissional para trabalhar para sua ex-amada como um faz-tudo. O chef em questão é Henry Chunch (Murphy), um fã de jazz, pianista dos bons e leitor contumaz de clássicos da Literatura. Caberá a ele dar cabo da educação formal e sentimental da filhinha de Marie, Charlie, que, ao crescer, ganha como intérprete a talentosa Britt Robertson.

 Foto: Estadão

Nas raias do melodrama, dos mais açucarados, a relação entre Charlie e Church tem algo de pai e filha, galvanizado pelos segredos que ele carrega sobre seu passado e sobre sua predileção por um clube de jazz. Não espere muito desses segredos. Não se trata de um filme de viradas, nem de revelações. É apenas um filme sobre uma ave rara chamada amizade, tirando Murphy de seu habitat para testar talentos que ele poucas vezes - fora Showgirls - expôs ter. Mas ele exercita uma persona mais séria com uma competência invejável.

p.s.: Louco para ver Mr. Church na versão dublada, para conferir mais um bom desempenho de Mário Jorge, a voz nacional de Eddie Murphy.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para cadastrados.