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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Neste 21 de abril, Oswaldo Caldeira vai borbulhar invenção na tela da TV Brasil

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Por Rodrigo Fonseca
Rodolfo Bottino cria um mefistofélico Silvério dos Reis no longa "Tiradentes", que a TV Brasil exibe nesta sexta, às 22h30 - Fotos e cartaz: Acervo TV Brasil  

RODRIGO FONSECA É difícil medir o quanto o P de Pop deve ao cineasta mineiro Oswaldo Caldeira, um professor brilhante que nos deu aula na UFRJ, nos anos 1990, e volta a brilhar esta noite, na televisão aberta, com uma projeção de seu belíssimo "Tiradentes" (1998) na TV Brasil. A transmissão começa às 22h30. Vale rever esse mergulho áspero na formação da brasilidade. Assim como é capaz de depurar o vinho, transformando o passar dos anos em sabor, o Tempo, esse moleque travesso, tem a habilidade de decantar o que certos filmes têm de mais vigoroso, filtrando suas fragilidades e imperfeições, realçando seu requinte estético, num revisionismo que se faz mais imponente no caso de produções que não foram valorizadas em sua inteireza quando estrearam. É o caso de "Tiradentes". Trata-se de um autoralíssimo exercício de reflexão sobre a dicotomia entre decadentismo e heroísmo. Exercício esse feito por um habilidoso pensador dos vazios afetivos e existenciais da alma brasileira, lembrado mais por "O Bom Burguês" (1983). Professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ele formou cabeças com reflexões sobre a "filmologia" de Christian Metz (1931-1993) e os rizomas de Noël Burch, em seu curso sobre Linguagem Cinematográfica.

Reprodução do cartaz do longa, que estreou no fim dos anos 1990, abrindo um debate sobre decadentismo e heroísmo  

Caldeira fechou a década de 1990 com uma empreitada sobre Joaquim José da Silva Xavier (1746-1792), aquele que "foi traído, e não traiu jamais". O resultado das incursões do realizador de "Ajuricaba, o Rebelde da Amazônia" (1977) pela Inconfidência de Minas Gerais é um dos mais corajosos exercícios de desconstrução do imaginário histórico brasileiro. As pedras que o acolheram à época, por ousadias como tocar Bob Dylan em meio a uma cavalgada nas Gerais, hoje repousam inertes no chão. Já o filme... ele rola, roda nas TVs, encanta. Caldeira ousou ao fundir um star system televisivo com figuras icônicas do nosso imperfeito pretérito, com um detalhismo ímpar na direção de arte de Anísio Medeiros (1922-2003). É uma espécie de "'Game of Thrones' meets Humberto Mauro", com um astro popular, Humberto Martins, emprestando a persona e o carisma para a recriação de Joaquim José para além da imagem do angry man beatnik. E merece aplausos a atuação de Rodolfo Bottino (1959-2011) como Silvério dos Reis, "o traidor do país", numa interpretação cheia de nuanças. A entrada dele no longa lembra a chegada de Max von Sydow (1929-2020) em "O Exorcista" (1973), numa evocação do Mal... um Mal sobre o qual Caldeira, distante das telas desde "Histórias de Alice" (2016), soube pensar com extrema maturidade.

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