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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Novo Damián Szifron se candidata a hit

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Por Rodrigo Fonseca
A policial Eleanor (Shailene Woodley) é a chave da investigação de assassinatos em série na Baltimore de "Sede Assassina", novo longa do cineasta argentino que nos deu a joia "Relatos Selvagens" - Foto: Diamond

RODRIGO FONSECA Papo do fim de semana nos interiores do Espaço Itaú, em Botafogo: "Que filmaço esse policial que o cara do 'Relatos Selvagens' fez, hein?". Você entra na Blooks, o bunker de resistência literária do RJ, mantido pela livreira Elisa Ventura, e a conversa segue assim: "Já viu o filme do argentino que fez aquele longa em episódios com o Darín? É bom pacas". Aí você segue até o pipoqueiro e, enquanto espera o milho estourar e ganhar uma camada de Leite Moça, ouve o seguinte: "Esse 'Sede Assassina' é de f..., né não? Que virada de roteiro!". Essa conversa em terras e telas cariocas tá se repetindo pelo Cine Santa Teresa, pelo UCI Kinoplex Norte Shopping, pelo UCI Campo Grande, pelo Rio Sul, pelo Cinesystem Américas, pelo Downtown do Praia Shopping. Por onde se respira cinema na cidade do Rio de Janeiro se fala no diretor argentino Damián Szifron e seu primeiro longa-metragem depois do fenômeno "Relatos Selvagens", que lhe rendeu uma indicação à Palma de Ouro, em 2014, e ao Oscar, em 2015. É uma produção em língua inglesa, com Shailene Woodley em estado de graça em cena, amparada pelo vozeirão à la Paulo César Peréio do australiano Ben Mendelsohn (o vilão Orson de "Rogue One"), gênio que Hollywood ainda há de oscarizar. "Talvez o que exista de conexão aparente entre meus filmes, desde 'Tiempo de Valentes', até aqui, seja o interesse em estudar os personagens por suas fragilidades e entender como elas os humanizam", diz Szifron via Zoom ao Estadão, pouco antes de ter integrado o time de jurados do 76º Festival de Cannes, sob a batuta do diretor sueco Ruben Östlund, que deu a Palma de Ouro ao tensíssimo "Anatomie D'Une Chute", da francesa Justine Triet.

Damián Szifrón integrou o júri da Palma de Ouro de 2023 - Foto: Festival de Cannes

Tensão é algo que não falta a "Sede Assassina", que se ambienta em Baltimore. Em sua trajetória internacional, o longa teve dois títulos: "To Catch A Killer" e "Misanthrope", sendo o primeiro o mais usual. É uma mistura de "CSI" com Brian De Palma. "Sempre enxerguei essa história pelas vias da cumplicidade entre dois colegas enfraquecidos pela vida e por um incidente que se unem para superar as dificuldades", explica Szifron, que há 20 ano mostrou a seus conterrâneos de América Latina que era bom de suspense ao lançar "El Fondo Del Mar", com Daniel Hendler."Relatos Selvagens" potencializou essa manha do diretor em mexer com os nervos da plateia. De seu maior sucesso, visto por cerca de 3,8 milhões de pagantes em sua Argentina natal, ele trouxe para o set de "Sede Assassina" o fotógrafo Javier Julia, responsável por chiaroscuros de aterrorizar a alma. Filmado em locações em Montreal, no Canadá, no início de 2021, e só agora lançado, o frenético "Sede Assassina" nos leva a uma investigação para deter um atirador de elite de mira infalível que espalha cadáveres pelas ruas de Baltimore sem razões aparentes. Ninguém sabe por que ele mata e o que quer para parar. É num réveillon que os primeiros crimes desse serial killer são registrados, com dezenas de mortos. Seu gatilho é espartano. O número de vítimas deixa as autoridades em polvorosa e demanda a presença de um diretor do FBI com vasta experiência de campo, o taciturno Lammark, vivido brilhantemente por Mendensohn. Ao chegar no local das mortes, ele descobre uma policial, Eleanor (papel de Shailene), que teve um corajoso desempenho no caso, tentando proteger potenciais alvos. O passado dela é conturbado, com direito a uma incursão pelas drogas. Mesmo assim, ela parece ser a única pessoa em quem ele pode confiar. "Em tempos de individualismo, o encontro deles, com posições de poder e gerações distintas, forma uma conexão rara", diz Szifron, que define sua forma de manipular as CNTPs da plateia numa analogia com filmes de monstro dos EUA. "Pensei a relação dos protagonistas com o assassino em referência a 'Predador', a 'Aliens', a monstros que não vemos, mas nos acossam".

p.s.: Hamilton Vaz Pereira é um alquimista infalível, sempre capaz de pegar qualquer metal vital (de gente ansiosa pra adentrar no teatro) e transformá-lo em ouro. Seu novo espetáculo, ainda em fase de experimentação, chamado "Covil das Moças Ruivas", ainda em etapa de proveta, mas já instalado no Espaço Cultural Sérgio Porto, no RJ, é um jogral dos mais potentes acerca da fabulação e dos quebra-molas que pavimentam a estrada do amor. É uma trama sobre um clube boêmio que brota no coração do Bairro da Lua Azul, uma Pasáraga suburbana, atraindo pessoas que se querem sem entenderem bem como é difícil amar. Tem muita gente iniciante (e cheia de talento) no serelepe elenco, que traz uma turma já profissa, com destaque pra Lazuli Barbosa (delicadíssima em sua forma de esgrimar com as palavras), Denys Vasconcellos (habilidoso com as gradações de tom e voz da cena) e uma espécie de Sam Rockwell carioca chamado Igor Salmito que inflama a cena. Fora isso, é um presente ver Iris Bustamente, diva da década de 1990, espécie de Meg Ryan da geração Ploc, brilhando nos palcos com sua lividez de estrela. É um texto divertidíssimo, que, ainda em construção, aponta para o que pode ser uma das grandes peças do homem que tocou o trombone da invenção.

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