RODRIGO FONSECA Laureado com os prêmios de Melhor Filme e Melhor Atriz, dado a Glória Pires, no Festival de Tóquio em 2015, o arrebatador "Nise: O Coração da Loucura", do diretor carioca Roberto Berliner, vai abrir um debate sobre um sistema manicomial brasileiro na TV aberta hoje à noite, numa projeção mais do que imperdível na TV Brasil, às 22h. É um filme comovente, que conquistou a láurea de Júri Popular no Festival do Rio, há sete anos. É um dos trabalhos mais inspirados do diretor de documentários como "A Pessoa É Para O Que Nasce" (2003). Com uma finíssima embalagem de drama histórico, na reconstituição da vida no Rio de Janeiro dos anos 1940, o longa-metragem faz um recorte (bem) demarcado na biografia da alagoana Nise da Silveira (1905-1999), médica responsável por uma rediscussão das práticas violentas no atendimento a pacientes com distúrbios mentais. Com uma inflamável Glória Pires no papel central, o longa se debruça sobre um período estimado em cerca de uma década, no qual Dra. Nise é reintegrada ao serviço público e vai cuidar dos internos do Centro Psiquiátrico Pedro II, no Engenho de Dentro. Lá, Berliner alinhava um estudo sobre a peleja feroz entre vaidade e altruísmo no campo clínico.
Há correspondência direta de métodos de filmagem e mesmo de abordagem entre o filme de Berliner e um clássico nacional nas telas: "Memórias do Cárcere" (1984), de Nelson Pereira dos Santos. Ambos se instauram num ambiente de confinamento, ambos têm como eixo uma radiografia das micronarrativas de cada indivíduo que integra seus ambientes e ambos focam em um protagonista idealista. Mas os muros que cerceiam a liberdade dos encarcerados de "Nise" são patrulhadas por jalecos brancos de médicos e enfermeiros e não por fardas policiais. Na direção, Berliner extrai uma atuação magistral dos coadjuvantes encarregados de interpretar os pacientes de Dra. Nise, que se destacaram nas artes, sobretudo dos atores Simone Mazzer, Fabrício Boliveira, Roney Villela (genial em cena), Roberta Rodrigues (como a jovem Dona Ivone Lara), Augusto Madeira e Cláudio Jaborandy.
p.s.: Segunda-feira tem "Escobar: A Traição" (2017), com o casal Penélope Cruz e Javier Bardem, na "Tela Quente", às 23h55.
p.s.2: Nesta quinta, um dos mais refinados diretores de arte do cinema brasileiro, o artista plástico Alexandre Murucci, inaugura a exposição "O Fio de Ariadne", no Centro Cultural Correios.
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