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'O Som Ao Redor' no Visions du Réel

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Por Rodrigo Fonseca
Mauricéia Conceição e Gustavo Jahn em "O Som Ao Redor", produção laureada com o Redentor de Melhor Roteiro e de Melhor Filme no Festival do Rio de 2012, quando fez sua estreia mundial, em Roterdã - Foto: @Cinemascópio

RODRIGO FONSECA Convidado para exibir "Retratos Fantasmas" no Festival de Cannes, em maio, o diretor Kleber Mendonça Filho vai integrar o júri do Visions du Réel, uma das maiores e mais prestigiadas maratonas de documentário do mundo, que começa nesta sexta-feira na Suíça. No sábado, ele vai exibir por lá seu primeiro longa-metragem de ficção: "O Som ao Redor" (2012). Batizado de "Neighboring Sounds" nos EUA e de "Les Bruits de Recife" na França, a produção está comemorando dez anos de sua estreia em circuito comercial. Em 4 de janeiro de 2022, entrou em cartaz o thriller de observação social (sobretudo da classe média) que transformou o pernambucano Kleber Mendonça Filho no mais festejado realizador brasileiro da atualidade. Ganhador de 38 láureas internacionais, incluindo o Troféu Redentor de Melhor Filme do Festival do Rio 2012, o longa-metragem começou sua carreira em Roterdã, na Holanda, de onde saiu com o Prêmio da Crítica, que é dado pela Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica (Fipresci). Na trama de "O Som ao Redor", os moradores de um condomínio de prédios de uma área abastada da geografia recifense têm sua rotina desestruturada pela chegada de uma milícia de seguranças. Irandhir Santos lidera o grupo de vigias, que circula entre moradores. Lá vivem tipos como o corretor João (Gustavo Jahn), recém-chegado de uma estadia no exterior, e seu avô, o coronelista Francisco (W.J. Solha). Destaque no elenco para o desempenho de Maeve Jinkings, brilhante em cena, no papel de uma chefa de família incomodada com os latidos do cão de seu vizinho. DJ Dolores assina a trilha sonora. Pedro Sotero e Fabricio Tadeu cuidam da direção de fotografia, que evita exotismos ao fazer sua crônica de costumes... e distorções. Exótica (se é que essa é a melhor palavra) a cena de um banho de sangue revela muito sobre nossos espectros coloniais e imperiais. É um banho numa cachoeira, na zona de um velho engenho de açúcar, onde residem fantasmas de um Brasil arcaico e dominador. Virou o set piece do longa. Set piece é o termo que designa sequências que sintetizam filmes no nosso imaginário, como o voo de E.T., de bicicleta, à luz da lua, ou a dança de Uma Thurman e John Travolta em "Pulp Fiction". Thales Junqueira foi quem cuidou da arte. Kleber escreveu e montou o filme numa edição em dupla com João Maria). O cineasta trabalhou com um orçamento de R$ 1,8 milhão, sob a finíssima produção de Emilie Lesclaux.

 

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Nas bilheterias brasileiras, o longa vendeu cerca de 100 mil entradas, chegando ao circuito com múltiplos mimos em seu currículo, como o Kikito de melhor direção, conquistado em Gramado, seis meses antes. Dali Kleber partiu para "Aquarius" (2016) e "Bacurau", codirigido por Juliano Dornelles, que conquistou o Prêmio do Júri em Cannes, em 2019.

p.s.: Cannes prometeu que ia ter uma animação em destaque em sua seleção oficial e fez jus à sua promessa: vai encerrar sua seleção no dia 27 com a projeção de "Elemental", de Peter Sohn. Mas ainda há expectativa de que o novo longa de Hayao Miyazaki, "How Do You Live?", possa concorrer à Palma de Ouro. Ainda falando da Croisette, o evento revelou hoje seu cartaz oficial.

Photo © Jack Garofalo/Paris Match/Scoop - Graphic design © Hartland Villa  

p.s.2: Há uma leva de longas que andam encantando o festival É Tudo Verdade nas sessões competitivas. Mas nenhum merece tanto ser encarado como "O" evento da maratona documental desde ano como "Nada Sobre Meu Pai", uma aula de aeróbica narrativa, com metonímias (a parte pelo tudo) para descrever o périplo de sua realizadora à cata de sua figura paterna: um militante de esquerda equatoriano. Na direção (e no protagonismo) Susanna Lira deu ao documentário brasileiro seu "Paris, Texas", um road movie movido pelo músculo da resiliência mas fiel ao jorro poético da memória, igualzinho Wim Wenders fazia. Revela-se por frestas, das maneiras mais belas, bem devagar, compondo a cartografia de uma ausência.

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