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Oscar pra Del Toro renova a fantasia

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Por Rodrigo Fonseca
Guillermo Del Toro dá instruções às atrizes Octavia Spencer e Sally Hawkins nos sets de "A Forma da Água", Oscar de Melhor Filhe em 2018 - Foto de divulvação: Cortesia 20th Century Fox  

Rodrigo Fonseca Confirmando expectativas e apostas, o "Pinóquio" da Netflix ganhou o Oscar de Melhor Longa de Animação, merecidamente. Foi o troféu que inaugurou a festa, aliás. Envolvido já com uma nova experiência animada, chamada "The Buried Giant", baseada na literatura de Kazuo Ishiguro, e engajado num documentário sobre o colega Michael Mann, o mexicano Guillermo Del Toro foi o primeiro cineasta a colocar as mãos numa estatueta na cerimônia da Academia de Artes e Ciências Cinematográfica de Hollywood do último domingo. Há cinco anos, o diretor esteve lá para buscar os prêmios de Melhor Filme e Direção pela fantasia "A Forma da Água" ("The Shape Of Water"), que lhe garantiu ainda o Leão de Ouro de Veneza, em 2017. Dá pra conferir as razões de sua vitória, naquela ocasião, zapeando o Starplus (ou Star+), que incluiu a oscarizada produção sobre um tritão apaixonado em sua grade. Á época, o projeto de Del Toro, orçado em US$ 20 milhões, faturou cerca de nove vezes mais, contabilizando US$ 195 milhões. É uma celebração da força pop da fábula. Conhecido por "Scaramourche", Rafael Sabatini dizia que "nos momentos em que o mundo se mostra louco, o herói é aquele que mantém o senso de humor". Pois "A Forma da Água" é bem-humorado, porém sua dimensão fabular fala mais alto do que seu potencial cômico. É um ensaio sobre o lugar essencial do "Era Uma Vez..." em tempos de colapso moral. E faz essa ode à Carochinha em forma de história de amor. Pode existir algo mais transgressor? Sua vitória no Oscar 2018 simbolizou uma vitória da fabulação em dias de saturação do Real e de hibridismo documental. Trata-se de uma investigação sobre o lugar da fábula como bunker de resistência para os esvaziamentos simbólicos e o sucateamento da moral. Desde que conquistou o Leão de Ouro de Veneza, em setembro, esta mistura de "Splash - Uma Sereia em Minha Vida" com "O Monstro da Lagoa Negra" vem funcionando como uma carta de intenções da fantasia, preservando o sagrado direito da invenção de desafiar as castrações do realismo. O sucesso de Del Toro é uma reação ao esgotamento que já se faz sentir nas narrativas documentais - cada vez mais perto do hibridismo entre fato e ficção. O boom do documentário é um binômio da espetacularização da notícia a partir das coberturas de guerra da CNN no Iraque com a midiatização da Morte no 11 de Setembro. Dali surgiu o modismo do reality show e toda uma escola de documentaristas pop (Michael Moore, por exemplo). Mas aquela euforia do Real começou a se saturar, salivando por metafísica. Eis que Del Toro, com todo o seu cabedal de folclorista mexicano, lança-se como uma possível solução para nossas carências de representação. E o prestígio dele potencializa a América Latina nas telonas, via México.

"Pinóquio" foi dirigido por Guillermo em duo com Mark Gustafson - Crédito da foto: Netflix  

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Em 2018, ao ser convidado para uma masterclass no Festival de Marrakech, Del Toro explicou o que pretendia (e fez): "Vou levar a história do boneco de madeira que precisa se humanizar para poder ser amado para o contexto do fascismo italiano, para a Itália de Mussolini. Será uma fábula política pois precisamos mais do que nunca de metáforas. É por meio de parábolas que as religiões se edificam. E, neste momento em que a Humanidade vive numa guerra de ficções, a partir das fake news que são inventadas nas redes sociais, produzindo uma lógica onde tudo é maniqueísta, uma parábola humanista pode trazer outros conceitos. Pinóquio sempre me fascinou por encarnar a imperfeição, não apenas no ato de mentir, mas por ser uma espécie de Frankenstein de pau, um monstro típico daqueles que eu adoro". O que o cineasta - numa codireção com Mark Gustafson - faz com Pinóquio é algo similar à operação estética feita por Francis Ford Coppola com o Conde Dracula, há 31 anos. Até Gary Oldman aparecer, ora de coque branco, ora de cartola e óculos escuros, no papel do empalador da Transilvânia, o signo que traduzia o vampiro era uma figura de terno e capa, como Bela Lugosi (1882-1956) o eternizou em 1931. Coppola promoveu uma ressignificação. Del Toro faz o mesmo, apoiado nua discussão sobre a História da Itália em que Il Duce em pessoa, ou seja, Mussolini, cruza com Pinóquio.

p.s.: Sucesso durante a pandemia em sessões virtuais, a comédia interativa "O Auditório", protagonizada por Heder Braga, faz agora sua estreia presencial, com apresentações gratuitas, dias 15 e 16/03, na Sala Baden Powell, em Copacabana, e, dia 17/03, na Areninha Hermeto Pascoal, em Bangu. Com texto de Pedro Henrique Lopes e direção de Diego Morais, a peça é inspirada na infância do ator no interior do Pará e mistura realidade e ficção ao homenagear apresentadores que marcaram a vida de Heder: Hebe, Bolinha, Silvio Santos, Gugu, Faustão, Xuxa, Angélica, Chacrinha, Márcia Goldschmidt e outros.

p.s.2: Uma das grandes poetas brasileiras, Ana Cristina Cesar (1952-1983) tinha uma grande exigência em relação à escrita, desde que começou a se interessar por literatura, ainda criança. Era uma "jovem envelhecida", como se autodefiniu. Percebia em si um rigor excessivo e uma obsessão na "busca pela palavra exata". O espetáculo "inconfissões", que estreia dia 22 de março, no Espaço Sergio Britto - Unidade CAL Glória, é norteado por essa busca rigorosa ao entrelaçar vivências pessoais da atriz Laura Nielsen, como atleta de nado sincronizado durante sua adolescência, com poemas e narrativas da "atleta verbal" Ana C. Com dramaturgia de Marcela Andrade e Laura Nielsen, direção de Marcela Andrade e supervisão artística de Gabriela Lírio, o monólogo faz uma homenagem à poeta, cuja morte precoce completa 40 anos em 2023.

p.s.3: O espetáculo "Maria Leopoldina - Pedras, Perdas e Partos", que reflete sobre a formação da sociedade brasileira a partir da trajetória da Imperatriz, está em cartaz no Teatro Café Pequeno, no Leblon, e faz circulação por diferentes espaços da cidade. Com direção de mariah miguel, a peça se debruça sobre as próprias contradições na trajetória da imperatriz para levantar discussões sobre o Brasil, que envolvem questões identitárias de gênero e raça, reconhecendo suas diferenças e contradições. A ideia é levar o público a pensar novas possibilidades para o futuro do país. A peça faz apresentações gratuitas na Arena Carioca Jovelina Pérola Negra, na Pavuna (dia 10/03), às 19h; na Arena Carioca Fernando Torres, em Madureira (11/03, às 19h); no Centro Cultural de Artes Escuola Di Cultura, em Niterói (17 e 18/03, às 19h), e no Museu da Maré (20 e 21/03, às 19h30).

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