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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Pedro Costa expõe no Pompidou

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Por Rodrigo Fonseca
O cineasta português com o Leopardo de Ouro de Locarno de 2019, conquistado por "Vitalina Varela", que está na grade da MUBI Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Termina hoje a edição n. 75 do Festival de Locarno, na Suíça, com a entrega do Leopardo de Ouro ao filme que melhor se destacou ética e estéticamente nas telas da cidade, como aconteceu com "Vitalina Varela", do lisboeta Pedro Costa, em 2019. Lançado em circuito só este ano no Brasil, onde foi parar na grade da plataforma MUBI, o longa, que rendeu ainda o troféu de Melhor Atriz à dona Vitalina, é evocado atualmente numa exposição de fotos clicadas por Costa no Centre Pompidou, em Paris. A seção dedicada a ele se chama Filhas do Fogo.

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Um dos experimentos visuais mais esplendorosos do cinema contemporâneo, "Vitalina Varela" chegou à streaminguesfera brasileira no www.mubi.com abrindo espaço para a estética de Pedro Costa nas plataformas digitais. Trata-se de uma experiência cinematográfica que repensa o Tempo a partir da errância de uma cabo-verdiana pela capital portuguesa, na região das Fontainhas, em busca de seus mortos, após a morte de seu marido, atrás de sentido. "Não tenho pressa. Naquele mundo dos cabo-verdianos de Portugal eu encontro tantas experiências que não vejo razão de correr. Os filmes se desenham aos poucos a partir de um processo de vivência. Estudando aquelas pessoas de Cabo Verde, que tanto me deram e tanto me dão, há tantos anos, tive a percepção de que existem mulheres sentinelas, à olhar para o mar, à espera, sem resposta, dos maridos, do continente, da vida", disse Costa ao Estadão.

Considerado um dos mais requintados estetas do nosso tempo no audiovisual, Costa ganhou notoriedade por longas-metragens como "Cavalo Dinheiro" (Melhor Direção em Locarno em 2014), "Juventude em Marcha" (indicado à Palma de Ouro em 2006) e "No Quarto de Vanda", laureado no festival Cinéma du Réel em 2001. Este era um dos filmes favoritos de Eduardo Coutinho (1933-2014), aclamado documentarista responsável por cults como "Edifício Master" (2002) e "Santo Forte" (1999). Em sua experiência de trabalho com Costa nos sets, Dona Vitalina dizia: "Se houver amor, as coisas vão dar certo!". Ela cedeu muito de suas vivências à caracterização de sua personagem a caminho das Fontainhas, bairro onde o cineasta ambienta suas aclamadas tramas, oferecendo ao espectador uma missa estética de reflexão sobre a resiliência dos imigrantes d'África no Velho Mundo. "A urgência é má conselheira. Filmo como uma equipe muito reduzida, com quatro pessoas por trás das câmeras, para que meu elenco de não atores tenhas as melhores condições de criar. Não se deve ser urgente, no cinema, nem no documentário, formato que aspira a ter um contato mais terra a terra com a realidade", disse o diretor ao Correio da Manhã em sua passagem pelo Rio, há três anos.

 Foto: Estadão

Desde Locarno, o longa de Costa já soma 23 prêmios e ganhou uma sessão nobre no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova Iorque, no âmbito de um ciclo dedicado ao melhor da produção cinematográfica de 2020. Nessa narrativa de requintado visual, Vitalina leva às telas suas experiências com o luto e a ressaca diante do sexismo. No fim do ano passado, Costa lançou o livro "Vitalina Varela - Cadernos de Rodagem", no qual faz um balanço de seu método de trabalho, reunindo fotografias tiradas nos subúrbios de Lisboa e na ilha de Santiago, Cabo Verde, entre 2017 e 2019. "Existem pessoas com um viver muito rico que vieram d'África para se reinventarem em solo português. E é delas que eu falo, em planos que distendem uma percepção mais comercial do tempo", disse o cineasta, que ganhou o prêmio de Melhor Direção no CinePE, no Recife, em 2015, por "Cavalo Dinheiro". Além de revernciar Costa, o Centre Pompidou ainda presta uma homenagem ao documentarista Chris Marker, morto há dez anos, exibindo uma instalação sua sobre televisão. Acerca da Locarno... "Regra 34", de Julia Murat, tem forte chance de trazer o Leopardo pro Brasil, narrando a imersão de uma estudante de Direito (Sol Miranda) no universo do sexo BDSM. Esperam-se troféus ainda para "Gigi La Legge", de Alessandro Comodin (Itália), e "Tengo Sueños Eléctricos", de Valentina Maurel (Costa Rica).

p.s.: "Decision to Leave", thriller que rendeu a Park Chan-Wook o prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes já está em cartaz nas telas da França e desponta como a principal aposta ao Oscar de Melhor Filme Internacional de 2023. É a saga de um policial que se envolve com a principal suspeita de uma morte nada aleatória.

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