RODRIGO FONSECA Tem coisa boa - e brasileira - na streaminguesfera. Saca só: Apaixonado por "comédias tristes" (referência a filmes de mestres como Ettore Scola), o diretor gaúcho Jorge Furtado certa vez disse que faltavam "filmes argentinos" ao cinema brasileiro, numa provocação em relação à ausência de produções de médio porte capazes de mesclar riso, pranto e reflexão numa narrativa de digestão popular. Mais do que provocar, o realizador do seminal "Ilha das Flores" (1989) resolveu dirigir um longa-metragem para preencher a demanda estética que enxergou: "Real Beleza", que integra atualmente a grade do Globoplay. Lançada em 2015, no Cine Ceará, a produção segue uma linha narrativa próxima ao cinema europeu dos anos 1970, como os filmes do francês Eric Rohmer ("Pauline na Praia") ou do italiano Luchino Visconti ("Os Deuses Malditos"). A referência europeia fez Furtado dizer "entrei na tradição do drama burguês" sobre este enredo centrado na busca de um fotógrafo por uma beldade. O longa marcou a primeira parceria, em tela grande, do casal Vladimir Brichta e Adriana Esteves, recontextualizando (como um grande ator) um dos maiores galãs da TV no país: Francisco Cuoco. Rascante, "Real Beleza" é centrado na luta de um especialista em fotografia publicitária e de moda para levar uma adolescente do interior do Rio Grande do Sul para virar modelo primeiro em São Paulo e, depois, em Nova York. Furtado escreveu o filme pensando em Brichta para o papel principal, João. O personagem é uma referência entre os fotógrafos de moda do Brasil. No filme, ele viaja ao Rio Grande do Sul atrás de uma aspirante a Gisele Bündchen. No trajeto, ele conhece Maria (Vitória Strada), que se encaixa com perfeição em suas ambições. Mas ele terá de convencer os pais da jovem de 16 anos. O pai, o professor aposentado Pedro (Cuoco, numa atuação comovente), é reticente e levou a menina para uma viagem por alguns dias. Enquanto espera por eles, João tenta um contato com a mãe da jovem, Anita (Adriana). E os dois acabam tendo mais do que apenas uma conversa, abrindo a deixa para um triângulo afetivo com cenas sensuais e menções à poesia, com os principais personagens citando versos do argentino Jorge Luis Borges e do português Fernando Pessoa.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.