Rodrigo FonsecaEra de Aquarius no Supercine: na madrugada de sábado para este domingo, à 0h40, a Rede Globo vai exibir o cultuado thriller de Kleber Mendonça Filho - sofisticadíssimo para o padrão narrativo do cinema brasileiro - que se tornou emblema de resistência moral nos dias que antecederam o Impeachment de Dilma Rousseff. Exibido em Cannes em 2016, com direito a cartazes dizendo "Golpe de Estado", o longa-metragem devolveu a Sonia Braga holofotes tão poderosos quanto os de que ela desfrutava nos tempos de Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976). Na Croisette, sua atuação foi comparada ao trabalho de mitos como a italiana Anna Magnani, estrela de Roma, Cidade Aberta (1945). Em 2017, ela ganhou o Troféu Platino de Melhor Atriz por sua interpretação. Foi uma das 33 láureas conquistadas pela produção, eleito Melhor Filme no Festival de Sydney. Foi ainda a atração de abertura do Festival de Gramado.
Com uma estrutura narrativa que lembra a estética de realismo seco do cinema americano da década de 1970 - sobretudo o filme A Conversação, que rendeu a Palma dourada a Francis Ford Coppola em 1974, Aquarius explora o clima de paranoia em torno de Clara (Sonia), uma jornalista sexagenária cujo prédio está em negociação para ser vendido - o que não vai acontecer se depender da vontade dela. Num controle cirúrgico das ferramentas da tensão, Kleber ainda arranca de Humberto Carrão uma interpretação louvável, fazendo dele uma espécie de vilão muito discreto. Ele é o herdeiro da construtora que quer comprar o prédio de Clara, usando uma série de artimanhas nada legais para fazer com que ela saia. A peleja dela para ficar é narrada em paralelo a sua rotina afetiva, com seus filhos, seus netos, seus discos e seus ensaios amorosos. Tudo isso é embalado por uma trilha sonora que vai de Roberto Carlos a Queen, passando por Alcione.
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