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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Sam Mendes na Star+ e na Tela Quente

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Por Rodrigo Fonseca
Sam Mendes e seus jovens protagonistas - Dean-Charles Chapman e George MacKay - nos sets de "1917", que a Globo exibe esta noite - Foto: François Duhamel - Universal Pictures

RODRIGO FONSECA Filme de abertura do Festival do Rio 2022, indicado o Oscar de Melhor Fotografia, "Império da Luz" ("Empire of Light") perdeu a vaga na sala de exibição, ganhando espaço em tela no Star +, levando ao streaming a estética emotiva de Sam(uel Alexander) Mendes, um inglês cujos avós vêm da população portuguesa de Trinidad, e cujo currículo estampa a obra-prima "007 Skyfall" (2012). Esta noite, a "Tela Quente" é dele. Vai passar "1917" (2019) depois de "Travessia". Seu currículo traz três estatuetas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood: Melhor Fotografia, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Mixagem de Som. Orçada em US$ 90 milhões, a produção de US$ 90 milhões é uma recriação da I Guerra Mundial, retratada com excelência narrativa singular. Sua bilheteria chegou a US$ 385 milhões pelo mundo afora. Laureado com o Globo de Ouro de Melhor Filme e de Melhor Direção, esse exercício autoral do diretor de "Beleza Americana" (1999) ganhou para si os holofotes do planisfério cinéfilo. Sua trama acompanha os esforços de dois jovens soldados Blake (Dean-Charles Chapman, dublado por Wagner Follare) e Schofield (George MacKay, numa dublagem feita por Wirley Contaifer) para entregar uma carta atravessando trincheiras. Vale um destaque pro taciturno oficial vivido por um inspirado Benedict Cumberbatch, o Coronel Mackenzie, dublado por Ricardo Schnetzer.

Benedict Cumberbatch é o coronel Mackenzie, um atormentado mestre do combate nas trincheiras da I Guerra, dublado por Ricardo Schnetzer  

Vale falar um pouquinho de "Império da Luz", já no Star Plus, que é uma máquina do tempo movida a intimismo. Ele volta a um período pouco contextualizado pelo cinema britânico, mesmo por mestres como Ken Loach e Mike Leigh: o início da década de 1980, em que o regime de cinto apertado da economia de Thatcher irrigou a lavoura do ódio. Esse belíssimo filme retrocede na História até 1981, numa cidadezinha litorânea da Inglaterra onde a sala de projeção Empire é a maior diversão. Ela é, também, um analgésico para os males da falta de pertencimento afetivo. Temos um potente ataque ao racismo feito por Mendes ao expor a maneira como a horda de skinheads daqueles anos atacavam as populações negras. Michael Ward brilha com sua precisão de algebrista ao compor o aspirante a universitário Stephen, que vai trabalhar no time de funcionários do Empire mas tem de enfrentar a intolerância racial. O personagem é dublado por Renan Freitas.

Olivia Colman brilha no elenco de "Império da Luz" - Foto: Fox Searchlight

Imponente em sua arquitetura pós-Guerra, o Empire tem duas salas, administradas pelo Sr. Ellis (Colin Firth), que trata Stephen com certo desdém. Mas o rapaz vai provar do amor também, enchendo de viço os dias vazios da bilheteria Hilary, personagem encarnada magistralmente por Olivia Colman. Dublada por Sylvia Salustti, ela dá ao longa (ainda) uma discussão sobre crise nervosa, inerente a uma faceta psiquiátrica obliterada pela desconexão com o real. Mas o que mais salta aos olhos é a maneira como Mendes - calcado numa fotografia grandiosa de Deakins ¬- aproveita a arena central de sua dramaturgia - um complexo exibidor - para esboçar um personalíssimo "Cinema Paradiso" à moda dos anos 2020. Navegando pelo imaginário cinemático pop da década de 1980, ele homenageia clássicos e cults dos anos 1980, como "Irmãos Cara-de-pau" e "Touro Indomável" e transforma a personagem de Colman num espelho às avessas do que foi Mia Farrow em "A Rosa Púrpura do Cairo" às avessas. Mia se afogava na ilusão da telona. Já Hilary vende ilusões, em forma de ingressos, mas nunca teve a curiosidade de provar do mel da tela grande. No mel do streaming, vamos conhecer seu processo de autodescoberta.

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