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Sebastián Lelio e The Wonder no Festival do Rio

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Sebastián Lelio dirige Florence Pugh nos sets do longa "The Wonder" Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Catapultado para o estrelato internacional após o sucesso (e o Oscar) de "Uma Mulher Fantástica" (2017), o chileno Sebastián Lelio vai mobilizar o Festival do Rio 2022 com "The Wonder". É o terceiro longa do cineasta sul-americano em língua inglesa, rodado na esteira da boa recepção a seu "Gloria Bell" (2018), com Julianne Moore. Agora é Florence Pugh que brota, magnânima, como sua protagonista, num thriller psicológico de época (no caso, o século XIX), com a grife Netflix. Segundo a plataforma, sua estreia ficou para o dia 16 de novembro. E já há quem fale em indicações para o Oscar 2023, até pra fina direção de Lelio, ao dar um novo tônus para as cartilhas do suspense. Projetado (sob polpudos elogios) na Espanha, no Festival de San Sebastián, no fim de setembro, o longa terá sessão na maratona carioca nos últimos dias do evento, com projeção agendada para 15 de outubro, no Reserva Cultural, e para 16 de outubro, no Kinoplex São Luiz, às 19h15. Sua trama é um tipo de "Édipo Rei" que se passa na Irlanda dos anos 1800 em conexão com a força política dos ingleses sobre o país. Florence dá voz, som e fúria ao arquétipo do estrangeiro que chega do nada para salvar uma população assombrada: no caso, a enfermeira britânica Lib. E o faz de uma forma autoral que celebra o pleito atual por empoderamento feminino, sempre visto na obra de Lelio. Numa conexão com a tragédia grega, a Tebas do diretor é a paisagem rural irlandesa de 1859, decalcada do romance "O Milagre" (em Portugal "O Prodígio"), de Emma Donoghue. A adaptação, roteirizada por Alice Birch e pelo próprio cineasta, galvaniza a natureza detetivesca nas entrelinhas da prosa de Emma, que vai a uma geografia acossada pela religião. Sob as sombras de uma leitura equivocada da Bíblia católica, substituindo a noção de perdão pela intolerância, aquela região se esforça para saber (e entender) o que se passa com Anna O'Donnell (Kíla Lord Cassidy), adolescente que se recusa a comer, sem apetite algum, e, apesar disso, sobrevive há meses, aparentemente sem graves consequências físicas, sem sequer perder peso. Sua greve de fome pode ser um gesto miraculoso do Altíssimo, como creem os habitantes do vilarejo onde ela mora. Eis que as autoridades clericais e um alcaide encomendam da Inglaterra a vinda de uma profissional da Saúde, com pleno conhecimento de enfermagem, para cuidar da garota - e investigar seu caso. Eis que chega Lib, uma mulher cética, abalada em sua relação com o Senhor pela morte precoce de seu bebê e o abandono de seu marido, a quem considera morto, assumindo um estado de viuvez. Dali vai nascer uma jornada heroica, sobre a qual Lelio falou com o Estadão, em meio à coletiva de imprensa do longa. "Eu tive a sorte de ter recebido dos produtores um livro que me oferecia um universo próprio, todo delineado. A questão que encontrei nele foi a luta de Lib para se salvar de se perder", disse o cineasta ao P de Pop. "Falo sempre da luta das mulheres, que filmo numa perspectiva de liberdade individual. Falo sempre de corpos femininos em disputas com forças sociais".

 Foto: Estadão

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Esta noite o Festival do Rio oferece uma chance de conferir "O CONTADOR DE CARTAS" ("The Card Counter"), de Paul Schrader em tela grande. Considerado pela revista "Cahiers du Cinéma" um dos melhores longas de 2021, quando concorreu ao Leão de Ouro, este thriller político arranca uma atuação impecável de Oscar Isaac no papel de um dínamo do baralho assombrado por um passado militar escuso. Práticas de tortura regadas a heavy metal são fantasmas em seu passado. Onde ver: Estação NET Botafogo 1, 21h30.

p.s.: O espetáculo "Renoir - A beleza permanece" estreia, nesta sexta-feira, às 20h, no Teatro do Masp. Com texto de Rogério Corrêa, direção de Isaac Bernat e idealização e produção de Jenny Mezencio, a peça é uma ficção inspirada na vida e na obra do Auguste Renoir (1841-1919), um dos mais importantes pintores do impressionismo francês. A partir de sua trajetória, a dramaturgia propõe reflexões sobre a arte e a cultura: a beleza de uma obra de arte é mesmo eterna? Ou pode ser definida pelo seu tempo? Como julgar um artista do passado com os valores do presente? No elenco, estão Isio Ghelman, Clara Santhana e Izak Dahora.

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