RODRIGO FONSECA Cannes tem um tributo póstumo ao mítico cineasta nova-iorquino Peter Bogdanovich (1939-2022) agendado para sexta-feira, em sua orla. Em paralelo à briga pela Palma de Ouro, vai ter uma projeção ao ar livre de seu cult mais estudado, o drama "A Última Sessão de Cinema" (1971), às 21h30. Na primeira semana de janeiro deste ano, no dia 6/1, Bogdanovich partiu, aos 82 anos, deixando aparentemente inconclusos dois livros nos quais trabalhava, em paralalo a seus projetos como diretor. A partir da segunda metade da década de 1960, ele erigiu uma das carreiras de maior prestígio da chamada Nova Hollywood (ou Geração Easy Rider). Esse é o nome da turma de diretoras /es que mudou a maneira de se filmar nos EUA, entre 1967 e 1981, a partir de um engajamento social, de uma cartografia das desilusões inerentes ao sonho americano e da ruptura com os ditames dos estúdios. Scorsese, Coppola, De Palma, Elaine May, Spielberg apareceram ali e redefiniram a História, num casamento feliz (e raro) entre autoralidade e sucessos de bilheteria em série, do qual Bogdanovich fez parte também com "Essa Pequena É Uma Parada" (1972) e "Lua de Papel" (1973). Mas foi "The Last Picture Show - painel geracional em P&B sobre a perda da inocência da juventude do Texas, em 1951, tendo uma velha sala de projeção como ponto de encontro - que mais lhe deu projeção na indústria. Dois Oscars de melhor coadjuvante, dados a Cloris Leachman e Ben Johnson (numa atuação antológica), imortalizaram o longa. Em 2021, quando seu longa de maior prestígio completou 50 anos, Bogdanovich relembrou seus bastidores numa entrevista ao Estadão. "Sinto que 'A Ultima Sessão...' mudou a minha vida porque ele me deu a chance de ser alguém que as pessoas queriam escutar na indústria. Nunca penso no cinema dos anos 1970, nos EUA, como sendo um movimento ou uma revolução. Foi apenas uma troca de turno, uma passagem de bastão. Eu não andava com aquela turma, pois estava preocupado em entrevistar os velhos, os diretores dos anos 1930, 1940 e 1950 que estavam vivos, mas começavam a ser esquecidos. Eu queria filmar o meu tempo fiel ao passado. Ben Johnson, por exemplo, não queria fazer o filme. Ele recebeu meu roteiro e reclamou do excesso de palavras. Ele era um ator que gostava da ação física e não de falar, não de trama palavrosas. Eu precisei pedir ajuda ao John Ford, que eu andava entrevistando na época. Ele procurou Ben Johnson e disse a ele: "Você quer passar a vida toda sendo o 'escada' de John Wayne? Então faça o filme do garoto". E ele fez. Eu disse a ele: "Ben, se você fizer o papel de Sam The Lion, você vai ganhar o Oscar". Não deu outra.quele filme mudou a minha vida porque ele me deu a chance de ser alguém que as pessoas queriam escutar na indústria. Nunca penso no cinema dos anos 1970, nos EUA, como sendo um movimento ou uma revolução. Foi apenas uma troca de turno, uma passagem de bastão. Eu não andava com aquela turma, pois estava preocupado em entrevistar os velhos, os diretores dos anos 1930, 1940 e 1950 que estavam vivos, mas começavam a ser esquecidos. Eu queria filmar o meu tempo fiel ao passado. Ben Johnson, por exemplo, não queria fazer o filme. Ele recebeu meu roteiro e reclamou do excesso de palavras. Ele era um ator que gostava da ação física e não de falar, não de trama palavrosas. Eu precisei pedir ajuda ao John Ford, que eu andava entrevistando na época. Ele procurou Ben Johnson e disse a ele: "Você quer passar a vida toda sendo o 'escada' de John Wayne? Então faça o filme do garoto". E ele fez. Eu disse a ele: "Ben, se você fizer o papel de Sam The Lion, você vai ganhar o Oscar". Não deu outra", disse Peter.
p.s.: Nesta quinta, Cannes vai celebrar os 40 anos do fenômeno "E.T. - O Extraterrestre" (1982), com uma projeção na seção Cinema de La Plage, nas areias da Croisette. Sua receita beira US$ 790 milhões na arrecadação comercial. Há boatos de que Spielberg vá mandar um vídeo com depoimentos sobre a importância do longa para sua carreira.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.