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'Vórtex', joia de Gaspar Noé, chega sexta à MUBI

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Françoise Lebrun e Dario Argento encaram a velhice numa França assombrada pela finitude Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Gaspar Noé foi visto pela última vez no circuito dos festivais de cinema na última semana, na entrega do troféu honorário Donostia a David Cronenberg, em San Sebastián, no norte da Espanha, onde cruzou todo esbaforido com o P de Pop, com pouco tempo para falar sobre a estreia brasileira de seu melhor filme nos últimos 20 anos: "Vórtex". Nesta sexta-feira, esse doído ensaio sobre a finitude estreia na grade da plataforma digital MUBI. "Há pouco tempo, encarei um problema vascular grave, com hemorragia interna, e passei a refletir sobre o que vi e vivi, revisitando filmes japoneses clássicos, numa temporada sabática em convalescência, antes de correr atrás de trabalho para sustentar a casa", disse o diretor ao se referir ao devastador estudo sobre solidão, morte e degeneração do corpo que vem lhe rendendo uma série de alegrias, desde 2021. Exibido fora de concurso em Cannes, ovacionado em Locarno (de onde saiu com um status de obra-prima) e laureado em San Sebastián com o prêmio Zabaltegi-Tabakalera, "Vortex" (no original não há o acento) é o movimento mais maduro da aeróbica autoral que Noé vem praticando em sua relação com as narrativas audiovisuais. E está sendo lançado aqui no momento em que o diretor franco-argentino comemora duas décadas de estreia de seu (até agora) maior sucesso: "Irreversível". "O tempo passa e a gente vai vendo o cinema com uma outra e nova profundidade, que passa pelos nossos medos, nossas fragilidades, nossas urgências", disse Noé ao Estadão, em Locarno. "Recentemente, eu me propus a fazer um documentário, observando a vida, a juventude, explorando a fluidez da tecnologia digital. Mas aí e apareceu esse projeto para observar a condição humana de um lugar de perda".

 Foto: Estadão

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Teste suas emoções, a partir desta sexta, no www.mubi.com, pois é difícil não chorar litros depois de entrar em seu "Vórtex", uma cartografia do envelhecimento - tanto de pessoas, quanto do cinema como manifestação artística. Trata-se de uma experiência quase fúnebre, narrada com uma tela dividida, com ações distintas acontecendo em dois hemisférios paralelos, construído a partir de improvisos com o elenco. E é em sua trupe que Noé tem seu principal chamariz: ao lado da veterana Françoise Lebrun (estrela de "A Mãe e a Puta", de 1973) e do jovem Alex Lutz, está em cena um mestre do terror, o diretor Dario Argento. E a atuação do diretor de "Suspiria" (1977) e "O Pássaro das Plumas de Cristal" (1970) - clássicos do giallo, o horror à italiana - comoveu Locarno, no retrato de um artista acossado pelo Tempo e pela gradual destruição da lucidez de sua mulher. "Eu me esforcei para unir uma atriz por quem tenho um respeito imenso, com um diretor que deu ao terror vísceras e vida. Acredito que existe um toque de absurdo no cotidiano parecido com o que você encontra em filmes como 'Calafrios', de David Cronenberg, ou em 'Ensaio de orquestra', de Fellini, nos quais a estranheza se embrenha em ritos do dia a dia. Mas, no caso da obra de Argento, não se fala em absurdo e, sim, numa elegância singular, num capricho narrativo que conduz ao requinte. Ele é um mestre e eu o tratava como tal, nos sets. Dei sorte de o filme que ele está preparando, como realizador, 'Occhiali neri', atrasou. Com esse atraso, ele teve tempo de filmar comigo", explicou Noé.

Gaspar Noé visitou o Brasil em 2019, ao lançar "Clímax" Foto: Estadão

Classificado pela imprensa europeia como o melhor filme de Noé em duas décadas, "Vórtex" é um tristíssimo conto existencial (e psicanalítico) sobre a velhice e as dicotomias da memória, em analogia à própria arte cinematográfica e seus suportes, os físicos e os digitais. De um lado da tela dividida vemos, quase todo o tempo, Françoise Lebrun a atuar, no papel de uma mulher às voltas com o Alzheimer, e, ora ou outra, com seu filho dependente químico, vivido por Alex Lutz. Do outro lado vem a apoteose desse "filme saudade": Argento, hoje octogenário, interpreta um crítico de cinema devotado a escrever um livro, chamado "Psiquê", sobre sonhos e o audiovisual. "Foi um filme feito sem imposições, com absoluta liberdade, apreciando a presença de Dario entre nós", diz Noé ao P de Pop. "Admiro muito meu elenco".

p.s.: De carona na estreia de "Adão Negro", com Dwayne Johnson, o eterno The Rock, no dia 20 de outubro, a Panini Comics está lançando gibis especiais com as aventuras do ex-vilão de Shazam, repaginado nos anos 1990 por Jerry Ordway. Há também um encadernado de quase mil páginas com as peripécias da Sociedade da Justiça, que cruza o caminho de Adão, inclusive o Sr. Destino, encarnado nos cinemas por Pierce Brosnan.

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