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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'xXx', com Vin Diesel, é o filme mais subversivo em cartaz

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Por Rodrigo Fonseca
Vin Diesel com a indiana nascida na Dinamarca Deepika Padukone em "xXx: Reativado"  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA

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Combustível vivo de uma nova estética para a o gênero ação, baseada mais na amizade do que na brutalidade, Vin Diesel voltou às telas para salvar a pátria simbólica do cinema, seja ele pipoca ou não: nestes tempos em que a representação do masculino se resume a caricaturas niilistas ou ao emasculamento, o novo longa-metragem do astro, xXx: Reativado, é o filme mais subversivo em cartaz. Mulher pelada, futebol, sequências de tiro sem respeito a pudores, cenas de briga capaz de coreografia crua e saltos e deslizamentos (com ou sem paraquedas) capazes de desafiar regras da física:  elementos rejeitados na estetização chanchadística da ação ou posturas capazes de levar a correção política a um infarto desfilam nesta produção de US$ 85 milhões, pilotada por D. J. Caruso. Tudo o que tornou-se démodé sob a égide castradora do politicamente correto regressa ao écran num thriller desmiolado, avesso a qualquer verossimilhança, carregado de "autoesculhambose" em diversos trechos, mas vivo, sem medo de ser impuro, nem de incorrer no brega, nem de saturar cores.

 

Herdeiro da linhagem de O.M.A.C.s (One Man Army Combat - Exércitos de um Homem Só) dos anos 1980, Vin Diesel, este Schwarzenegger metido a Burt Lancaster (por estrelar, produzir e dar palpite em causas humanitárias), sempre injetou um tom de "filme de patota" em seus projetos. Graças ao empenho dele, Velozes e Furiosos virou uma das franquias mais rentáveis de Hollywood, apostando num esquema de "filme de família", no qual ladrões de carro formam clãs pautados a companheirismo.

Se passa algo similar nesta trama de regresso do dublê com aretai (virtudes) dignas de 007 Xander Cage, incumbido aqui de encontrar um dispositivo capaz de orquestrar a queda (criminosa) de satélites de última geração.

Sua jornada vai representar um retorno às telas de arquétipos que andavam banidos nesta época de homens difíceis (termo usado pelo pesquisador Brett Martin para definir o frisson contemporâneo por protagonistas anti-heróicos de virilidade falida, em crise, como Walter White de Breaking Bad). Xander é um Stallone sabor groselha, mais leve, mais risonho, de casado felpudo, mas de retidão irretrocedível. Como os velhos caubóis condenados à desaparição do western clássico, ele retoma a ideia de que "um homem tem que fazer o que um homem tem que fazer". Perfumado a litros

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De testosterona, o filme aposta num erotismo e numa violência de natureza dionisíaca, poética, capaz de suspender a lógica do realismo em prol do escapismo. É espetáculo puro, rasgado, sem medo de ser pop, o que cai como colírio em nossos olhos em grau máximo de miopia ideológica. É trash mas tem alma: acerta pelo erro, sem medo da carne, do sexo, da virulência. Mais transgressor do que ele... difícil.

Dono de uma carreira irregular, dada como notória a partir de sua incursão na moléstia das drogas em A Sombra de um Homem (2002), Caruso aqui dá o melhor de si nas rédeas narrativas da cartilha da ação e na incorporação de uma linguagem mais próxima da internet que do cinema. O início, com Neymar atacando de herói, dá a impressão de estarmos diante de um carro alegórico da Beija-Flor de Nilópolis disfarçado de filmes. Mas, logo, encontra-se um caminho rígido para ele: uma trilha de solavancos pela tradição dos grandes thrillers de .38tão na mão. É um experimento mercadológico, mas de essência explosiva frente ao ethos moralista atual. Só isso já faz de xXx uma iguaria.

 

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