Páginas da Vida discute a relação. E o sexo, sem culpa

Tema domina estréia da nova novela das 8, de Manoel Carlos, expert em inovar os conflitos repetindo a mesma fórmula

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Por Agencia Estado
Atualização:

A vilã estilosa que era Bia Falcão, quase inalcançável para a patuléia, cede vez a uma vilania que, para muitos, nem é assim tão maligna. Pois há mesmo quem esbarre numa figura como Marta, a personagem de Lília Cabral na novela que estreou anteontem na Globo, e até lhe dê razão. É gente que prefere fuzilar infratores, ainda que menores, a investir em educação. A megera da vez espicha o dedo médio sem constrangimento no meio da rua e cita o cunhado, advogado, para dar carteirada no trânsito. Não se engane: aquilo é uma praga e circula por aí em profusão. Daí ser mais nociva que Bia Falcão. Páginas da Vida, novidade no pseudo-repetitivo universo de Manoel Carlos, exorcizou a tensão de Belíssima transpirando sexo, sexo e mais sexo. Não o sexo bicho-papão que apressa moralistas de plantão a censurar o enredo. É sexo do mais elementar, bom de ser abordado. E concentrado. Em um só capítulo, a prática (ou a falta de) foi pretexto para diálogos entre Regina Duarte e Elisa Lucinda e entre Natália do Vale, Helena Ranaldi e Louise Cardoso. Natália protagonizou cena sob lençóis com José Mayer, de novo no incansável papel de sedutor. Saltando do Rio para Amsterdã, pano rápido para uma prostituta na zona da Luz Vermelha. Só no capítulo de estréia, a DR (prática de Discutir a Relação) abasteceu cenas de Marcos Caruso e Lília Cabral, Regina Duarte e Mayer, Natália e Mayer, Ana Paula Arósio e Viviane Pasmanter, Fernanda Vasconcellos e Leandra Leal. E que alívio encontrar em cena fumantes que não sejam necessariamente vilões. Desde que as novelas passaram a carregar a missão de evitar o tabagismo, prevalece a face mais fake do politicamente correto. Greg (Mayer) dá suas baforadas - mas não sem discurso contrário da amante, cujo marido também fuma. Manoel Carlos repete elenco, Leblon, parto de gêmeos, domésticas amadas e o batismo de sua heroína, sempre Helena, sem falar na bossa nova da abertura (de extremo bom gosto). É tudo fachada. Reprisa a forma, mas recicla o conteúdo. Agora, escolheu Amsterdã para apresentar a gravidez de Nanda (Fernanda Vasconcellos) só para dar-lhe a opção legal do aborto - sugestão a ser feita pelo namorado. Dado a closes capazes de denunciar os poros do impecável Thiago Lacerda (mesmo antes da TV de alta definição) e a focos épicos, Jayme Monjardim agora põe enredo urbano contemporâneo em primeiro plano e surpreende. Não que ele dispense a foto - do Redentor ao arrastão na praia. E, obcecado por iluminação, arranca matizes até da cinzenta Amsterdã. Bem novela das 8. Ôps, das 9.

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