A busca desenfreada pela perfeição estética tornou-se uma das doenças de nosso tempo. Assim como a ambição desmedida pelo dinheiro e pelo sucesso. Mas o que acontece, afinal, com quem já conquistou tudo isso? O espetáculo Covil da Beleza vem mostrar um condensado retrato dessa parcela diminuta da sociedade: aquela que parece ter tudo o que os outros perseguem tão arduamente.
Dirigida por Lavínia Pannunzio, a trama reúne sete personagens. Todos gravitando ao redor de um par de amigas: Isa e Bia. Ricas e acintosamente bonitas, as duas constroem uma perversa rede de poder. Um jogo em que submetem seus cônjuges e amigos a desmandos e humilhações. Ou, melhor dizendo, em que os outros se colocam, de boa vontade, à mercê dessa dominação.
Escrito por Eduardo Ruiz – que foi indicado para o Prêmio Shell pela obra Chorávamos Terra Ontem à Noite –, o texto se vale de uma estrutura própria dos folhetins, com intrigas, reviravoltas e segredos sórdidos a serem gradativamente revelados. “Interessou-me essa aparência que a peça tem. Tudo soa fácil e novelesco, mas vai se revelando muito desagradável”, comenta a diretora.
Uma maneira de reforçar essa filiação com as telenovelas está na escolha do elenco. Nomes que não necessariamente têm trajetórias sólidas no teatro, mas que servem à perfeição para criar essa “vitrine” de belos espécimes.
O lastro da linguagem televisiva em cena é subvertido pelo desenrolar do enredo e, também, pela encenação. Propositadamente, o cenário se constrói como um espaço em que todos estão continuamente presentes. “É um lugar em que eles se relacionam e não se relacionam ao mesmo tempo, em que fica explícita a relação banal que mantêm com os outros e com a própria vida”, crê Lavínia.
COVIL DA BELEZATeatro Augusta. Rua Augusta, 943, Consolação, 3151-4141. 6ª, às 21h30; sáb., às 21 h; dom., às 19 h. R$ 50/R$ 60. Até 27/10.
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