"Eles tão me cobrando / Eu tô trabalhando / Minha mulher brigando / Meu amor, eu te amo / Se você tem nome de Deus, por que erra tanto? / Por que eu ainda canto? / Seus irmãos estão te odiando / Sua família, você tá largando"
Brincadeiras à parte (embora, mando aqui um pedido de desculpas para todo mundo que deixei de encontrar nos últimos meses: foi mal, pessoal), 2017 foi um ano especial para a música nacional.
E a lista de melhores álbuns do segundo semestre selecionados pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte), lançada com exclusividade no blog, como já é tradição (hehehe), faz um recorte do essencial lançado no período.
E é um recorte, mesmo. O trabalho de Alexandre Matias (do Trabalho Sujo), Marcelo Costa (do Scream & Yell) e José Norberto Flesch (do Destak) foi peneirar o que saiu. Foram, segundo Costa, quase 80 selecionados no primeiro corte.
Chegar a 25 foi dureza, confessou Mac.
Pois, então, voltamos à mesma canção de Baco Exu do Blues, em outro verso:
"Baco, cadê o ano lírico e o CD do ano?", canta ele, mesmo. Bom, Esú tá aí. E está entre os 25 selecionados da APCA.
O hip-hop, aliás, está bem representado. É o tal ano lírico, conceito criado por Baco e por Coruja BC1, a respeito do momento vivido pelo rap nacional.
A fase é tão boa que é possível fazer um top 5 de melhores discos produzidos no Brasil somente com álbuns de hip-hop lançados no segundo semestre.
Além de Esú, estão na lista da APCA Heresia (de Djonga), Rimas & Melodias (do grupo de mesmo nome), Pé no Chão (do Rodrigo Ogi) e Eletrocardiograma (de Flora Matos).
Foi um semestre de mulheres fortes na música também. Além das Rimas & Melodias e da Flora, já citadas, entram na lista Letrux, o novo projeto de Letícia Novaes, com seu atmosférico Em Noite de Climão, Nina Becker e o belo Acrílico, e Tiê com o delicioso e delicado Gaya.
Os veteranos mostraram gás para acompanhar a molecada que está produzindo em uma velocidade impressionante.
Foi o semestre de Chico Buarque e seu Caravanas, do retorno do Edy Star, com Cabaré Star, de Guilherme Arantes e Flores e Fores, João Bosco com Mano que Zuera, Os Paralamas do Sucesso e Sinais do Sim, Pato Fu e a brincadeira que deu certo de Música de Brinquedo 2 e o brasileiríssimo A Gente Mora no Agora, de Paulo Miklos.
A juventude, por sua vez, retrata um desencanto. Seja com o mundo ao redor, seja em assuntos relacionados aos coraçõezinhos quebrados.
Tim Bernardes lançou a facada gelada Recomeçar, um disco capaz de ressignificar a dor, o Far From Alaska criou espaços na sua potência sonora, ganhou ritmo e deu abertura à reboladas até o chão ao som de Unlikely, e Negro Leo criou o anti-pop torto mais perfeito do ano com Action Lekking.
Da gurizada, o verso mais representativo dessa geração vem da Maglore, agora um quarteto, no disco Todas as Bandeiras:
"Mas é normal, dor de amor e contas pra vencer", diz o verso de Clonazepam 2mg.
E, é bem isso. Como as contas estão para vender, é melhor não perder tempo.
Confira e ouça, abaixo, a lista dos 25 indicados pela APCA (listagem em ordem alfabética, tá?):
Apanhador Só - Meio Que Tudo é Um
Baco Exu do Blues - Esú
Barbara Eugenia e Tatá Aeroplano - Vida Ventureira
Chico Buarque - Caravanas (o disco não está no YouTube, tsc, tsc, tsc)
Edy Star - Cabaré Star (também não está no YouTube)
Flora Matos - Eletrocardiograma
Guilherme Arantes - Flores e Cores
João Bosco - Mano Que Zuera (você também, João?)
Linn da Quebrada - Pajubá
Maglore - Todas as bandeiras
Nação Zumbi - Radiola NZ (eita!)
Nina Becker - Acrílico
Os Paralamas do Sucesso - Sinais do Sim (ai, ai)
Pato Fu - Música de Brinquedo 2
Paulo Miklos - A Gente Mora No Agora
Rimas & Melodias - Rimas & Melodias
Rodrigo Ogi - Pé no Chão
Tiê - Gaya
Tim Bernardes - Recomeçar
Vitor Ramil - Campos Neutrais