Picasso, Renoir, Calder, Oiticica, todos na mesma exposição na Casa Niemeyer

Mostra integra edição inaugural do projeto Aberto, criado pelo designer Filipe Assis, que junta modernos e contemporâneos

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Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

Aberta no sábado (dia 5) na única casa projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer em São Paulo, no Alto de Pinheiros, a mostra Aberto 01 é um pouco o resumo da arte contemporânea brasileira e da história da arte moderna no século passado, a começar por uma obra histórica do cubista Pablo Picasso, a tela Mulher Nua Sentada (1901). Na mesma sala, o visitante poderá ver outra obra rara de Renoir, mais uma de Chagall e ainda outras de Klimt, Giacometti e Henry Moore. No piso inferior, onde ficava a sala de jantar, esse visitante vai topar com um Relevo Espacial do neoconcreto Hélio Oiticica e, na parede ao lado, com uma obra em papel do escultor minimalista Richard Serra. E isso é só o começo: a casa está cercada por grandes nomes, de Calder a Tunga, passando por Chagall, Maria Martins e Mira Schendel.

Concebida pelo jovem Filipe Assis com curadoria de Claudia Moreira Salles e Kiki Mazzucchelli, a exposição transnacional deve acontecer em um país diferente a cada ano. Assis, arquiteto e designer campineiro, morou na Itália e agora divide seu tempo entre Londres e São Paulo. Poderia estar num banco administrando fundos de investimento, como o fez até recentemente, mas preferiu o caminho da arte. Uniu-se a galerias renomadas de São Paulo para atrair jovens artistas contemporâneos capazes de dialogar com as obras citadas dos grandes mestres.

Dentre as obras expostas ha trabalhos de Pablo Picasso, Renoir, Alberto Giacometti, entre outros  Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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“Sempre fui apaixonado por arte e, ao ser apresentado a esta casa que Niemeyer projetou nos anos 1970, senti que era o lugar certo para uma mostra que foge da impessoalidade das feiras e permite um convívio mais íntimo com a obras”, diz Filipe. Embora não seja tombada pelo Patrimônio, a casa de Niemeyer, alugada para eventos e cheia de curvas, não pode sofrer alterações por força do contrato com seus proprietários, o que obrigou a designer Claudia Moreira Salles a buscar soluções criativas para a exposição das obras, projetando, inclusive, um cavalete adaptável para telas.

As obras não foram agrupadas aleatoriamente pela designer. Assim, no grupo de Picasso, estão os grandes mestres modernos. Apresentada no núcleo Nus, instalado na suíte master da residência, a pintura do cubista mostra uma modelo em seu ateliê no boulevard de Clichy, numa pose que remete às dançarinas de Degas. A tela, histórica, fez parte da primeira exposição individual de Picasso no Kunstmuseum em Zurich, em 1932. Confiscada pelos nazistas e posteriormente restituída ao marchand judeu-alemão Alfred Flechtheim, a tela é exibida pela primeira vez no Brasil.

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Exposicao "Aberto/01" com curadoria de Kiki Mazzucchelli, Claudia Moreira Salles e Filipe Assis montada no espaço Casa Niemeyer em São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Outro núcleo de importância similar é o que reúne uma escultura de Maria Martins (1894-1973), pioneira surrealista no Brasil, uma tela da pintora Mira Schendel (1919-1988) e uma foto do contemporâneo Mauro Restiffe, representado por várias imagens da casa de Niemeyer espalhadas pela exposição. A associação parte da obra de Maria Martins (1952), exibida na segunda edição da Bienal de São Paulo (1953). A escultura mostra duas figuras antropomórficas, ajoelhadas e com as cabeças inclinadas, que sugerem uma cena da Anunciação. Restiffe fotografa um fragmento de um afresco renascentista. A tela de Mira pertence à série “do ouro”, em que ela identifica no antigo signo da tradição bizantina não a imagem sagrada e incorruptível dos santos, mas o ponto de individuação no caótico.

Claudia Moreira Salles, Felipe Assis e Kiki Mazzucchelli à frente da Casa Niemeyer  Foto: Denise Andrade/Estadão

A exposição está repleta de obras assinadas por contemporâneos como Marcius Galan, Daniel Buren, Maria Klabin e Panmela Castro, todas comissionadas para a ocasião. Panmela Castro mostra três retratos pintados de Oscar Niemeyer. O próprio arquiteto é representado por uma pintura insólita, feita em 1964, sob impacto do golpe militar, que mostra Brasília em ruínas. Nos jardins da casa estão esculturas assinadas pela brasileira Erika Verzutti e pelo mexicano Pedro Reyes, um arquiteto que renova a tradição de seu país com obras que remetem à iconografia totêmica de seus antepassados. E que dialoga perfeitamente como o moderno Niemeyer.

Aberto 01

Casa Niemeyer. Rua Sílvia Celeste de Campos, 607. Visitação somente por agendamento através do site https://www.aberto.art/

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Entrada franca. Até 04/12.

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