Maligno é um filme para... tremer de medo.
E isto é uma dádiva por si só, já que a safra de terror da última década traz mais riso que horror. James Wan mantém a ultraviolência que lhe é peculiar em Jogos Mortais, mas agora prevalece o arrepio que provoca - de verdade - já de cara.
A direção dele é um dos melhores atributos do filme, com ângulos inesperados supereficientes para acompanhar Madison Mitchell (Annabelle Wallis). Grávida de um marido abusivo, ela vê uma figura sombria dar cabo dele como um tumor extirpado do próprio corpo.
Os curtos minutos de tela do embuste - o marido Derek (Jake Abel), no caso - são valiosos no retrato do típico macho-hétero-cis-branco-tóxico. Ele agride, mas de pronto finge arrependimento e promete virar um homem melhor. E teve chance disto antes do encontro fatal com o desconhecido. Não rolou!
Tudo bem que surgem traços mexicanescos na trama, mas é perdoável pela genialidade nas transições entre tensão e leveza. Difícil outro thriller psicológico conseguir com tanto sucesso gotejar também comédia sem soar ridículo.
O terceiro ato descarrilha para a ação, mas quem gosta de sangue à lá Tarantino deve curtir. No fim caótico, Wan joga fora o suspense e acaba quase meloso, num desfecho que tem cara de intervenção de estúdio e gancho para sequência.
Maligno vai te deixar com frio na nuca na HBO Max e nos cinemas. Veja de dia.
Bruxas modernas e o poder da maternidade
Desalma é densa e uns três episódios maior do que deveria, mas entrega o que promete: mistério, bruxaria e sobrenatural. E entrega mais: é uma série sobre o protagonismo feminino e sobre como os homens destroem as mulheres.
Algumas vezes isso aparece muito sutilmente, entremeado às maldições que entidades antigas atiram sobre os personagens. Em outras, o empurrão é literal. É mérito da série retratar as relações pessoais - absolutamente não sobrenaturais - de forma muito natural e até dissimulada, como geralmente são. Tudo envolto na feitiçaria da névoa gelada dos picos catarinenses. Gelada como as pessoas da remota Brígida.
Os conflitos geracionais e de gênero transitam quase sempre no segundo plano, dissociados da esfinge mística que a produção aborda. No caso, as lendas ucranianas. Com um pouco de tino, a trama te entrega de bandeja bem no começo um dos principais enigmas do enredo.
Desalma é difícil de absorver numa maratona, mas talvez isso seja bom: no GloboPlay dá para parar, voltar e ver de novo. Não será assim nas madrugadas da TV. O Corujão a exibe a partir de hoje, 25. Não dispense um amuleto ao assistir.
O retrato cinematográfico da brutalidade humana
Para comemorar o primeiro ano de casamento, Jackie e Jules viajam para a isolada cabana da família de Jackie - num bosque às margens de um lago deslumbrante. Mas o cenário muda muito rápido nesse terror psicológico e cruel, obrigando Jules a literalmente lutar pela própria vida.
A brutalidade é gráfica e chega a doer nos ossos, tanto quanto a realização de como é difícil conhecer as pessoas. O que antes se mostra banhado em charme, logo revela o quão sombrios podem ser os humanos.
Puxe o cobertor, pois O Que Nos Mantém Vivos vai te gelar a espinha na Amazon Prime Video.
Quase 'trash'
A Nuvem, na Netflix, a princípio parece bem trash: mãe e dois filhos criam gafanhotos numa fazenda, que serão usados como fonte de proteína. Isso para evitar falir após a morte do pai da família. Mas os insetos desenvolvem um estranho instinto carnívoro, uma fome incontrolável de sangue e passam a atacar.
Acontece que o contexto socioeconômico francês e os traumas humanos nos bastidores salvam a trama.
Atmosfera sufocante
A Vastidão da Noite é um filme de suspense com ETs como nunca antes visto. O jeito que a história é contada, o clima que se passa nos anos da década de 1950 e a atmosfera sufocante de nunca saber o que exatamente está acontecendo são fascinantes.
As criaturas, inclusive, ficam escondidas ao máximo! E quando finalmente a conclusão da história se aproxima, o mistério ainda paira no ar. Não atenda o telefone enquanto vê na Amazon Prime Video.
O orfanato
O Orfanato é um desses filmes em que a casa é a protagonista da história. Neste caso, um abrigo de crianças onde a personagem Laura cresceu. Na busca por dar a outra criança a infância que ela não teve, adota um filho depois de se casar e volta a morar no mesmo lugar onde foi criada. Só que os fantasmas do passado estão prontos para assombrá-la. Prepare-se para um desfecho macabro e triste. E feche as janelas antes de ligar na Netflix.
Histórias de gente real sobre o inexplicável
Luz acesa é um dos quadros do podcast ‘Não Inviabilize’, nas principais plataformas de áudio. Déia Freitas narra contos do cotidiano, entre absurdos, ciladas e amores. Mas as histórias de dar medo são para ouvir em lugar bem iluminado.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.