Heloísa é uma advogada criminalista. É filha de Carolina, presa por matar o próprio marido quando a advogada era ainda uma menina. Sim, é complexo – mas piora.
Com a mãe sob risco de morrer e obcecada por desvendar os mistérios da morte do pai encobertos pelo trauma psicológico, Helô acaba ligada ao chefe da pior facção criminosa do Brasil.
Ele oferece a cirurgia que pode salvar Carolina e que burocratas – obviamente homens – dificultam ao máximo, sob o mais estrito processo legal e com a desculpa de resguardar o interesse público.
Uma crítica clara aos poderes que decidem quem merece ou não viver. E em quais circunstâncias isso acontece. Mas Sentença, da Amazon Prime Video, não é só sobre isso.
Mergulho carcerário
A série de seis episódios explora os bastidores do sistema judiciário e escancara os jogos de interesses que movem o poder. Tudo gira ao redor da prisão de uma mulher, negra e periférica, após ela jogar óleo em chamas em um policial que acaba morto.
Heloísa é chamada a assumir o caso e defender a acusada. Assim Camila Morgado carrega o enredo nas costas. Não porque o restante do elenco seja ruim, muito pelo contrário. Mas é raro ela não dominar o tempo de tela.
Uma escolha de roteiro que demonstra a intenção de contar a história pelos olhos da advogada.
Minorias em destaque
Sentença tem o grande mérito de contar uma excelente história e ainda privilegiar minorias sociais estruturalmente invisibilizadas.
Além de protagonizar as tramas femininas, a série conta, ainda, com pessoas negras e LGBTs vivendo os papéis de personagens fundamentais.
Por outro lado
Esses avanços em representatividade e na crítica aos abusos de autoridades, infelizmente, não escondem um rancinho que ainda resiste: o da sexualização gratuita.
Mais de uma vez Morgado aparece com o corpo à mostra sob pretexto narrativo, mas em cenas que servem exclusivamente aos olhos sedentos da parcela macho-hétero-cis do público. Julgue por si!
Punir resolve?
Histórias reais de um arranjo penal que não resolve. O podcast Crime e Castigo, da Rádio Novelo, provoca uma reflexão profunda sobre o distanciamento ou não da barbárie enquanto sociedade.
Na minissérie, Branca Vianna, Flora Thomson-DeVeaux e equipe escavam os motivos para o sistema penal brasileiro ser tão falho e discutem alternativas ao atual modelo punitivista. Tudo através das narrativas de quem foi diretamente afetado pelo modo legal e cultural que nos rege.
Para pensar, nas principais plataformas de streaming de áudio.
O que é punir?
Branca e Flora já se haviam unido em 2020 para revisitar a tragédia de Ângela Diniz em Praia dos Ossos. Lá, o propósito era desvelar um dos primeiros casos de feminicídio a gerar revolta no Brasil – a socialite fora morta a tiros pelo marido Doca Street.
O caso mostra como o Judiciário pode ser cruel com as mulheres. A ponto de, na prática, culpar a vítima pelo próprio assassinato. Revolte-se também nas plataformas de áudio.
Extra
De fora do tema, merece nota extra o esperado lançamento de The First Lady, da Showtime, que transformou Viola Davis na ex-primeira-dama dos EUA Michelle Obama.
O elenco estrelado tem também Gillian Anderson e Michelle Pfeiffer, com a promessa de mostrar a influência oculta das empoderadas primeiras-damas americanas e os bastidores e escândalos da Casa Branca.
No streaming, começa hoje e sempre às segundas-feiras. Surpreenda-se no Paramount+.
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