Curadora da exposição Ianelli 100 Anos: Um Artista Essencial, aberta a partir de amanhã (14) no MAM, Denise Mattar, diz que, em raras ocasiões, encontrou um artista tão coerente como ele. Até por isso, a mostra de Arcangelo Ianelli (1922-2009) não segue um percurso cronológico. Ela vai e volta para mostrar que “no jovem artista dos anos 1950, já está contido o dos anos 1970″. Então, ela começa nessa década, volta aos anos 1950 e mostra como sua pintura evoluiu após Ianelli ter realizado um painel no edifício Diâmetro, na Faria Lima, em 1975. “Foi por meio dele que Ianelli descobriu a tridimensionalidade”, observa a curadora, referindo-se às esculturas que o artista iria realizar nos anos 1990.
De qualquer modo, Ianelli ficou conhecido por sua estreita relação com a cor, em que a configuração formal obedecia a uma dissolução luminosa para afirmar sua natureza. Denise Mattar descobriu, inclusive, um texto inédito do crítico italiano Giulio Carlo Argan a respeito de Ianelli que aproxima sua pintura da ‘colorfield painting’ (campo de cor) de Mark Rothko.
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A essência da cor, aliás, é um dos oito núcleos da retrospectiva, que revela como Ianelli desenvolveu sua “geometria sensível’ depurando a forma desde suas primeiras pinturas figurativas. “Rothko, sim, era uma referência, mas vemos na sua pintura uma relação mais íntima com os modernos artistas latinos, como Torres-García”, observa Denise. “Ele realizou obras acadêmicas, seguidas por pinturas com acentos cezanianos, que foram se tornando cada vez mais sintéticas e abstratas”, conclui a curadora.
“O trabalho de Arcangelo se reveste de características particulares, mais próximas da produção latino-americana: o traçado das linhas que deixa sentir a mão do artista, permanecendo semivisível como um pentimento, a instável leveza no equilíbrio dos volumes, que às vezes parece insustentável, e a suavidade da cor que exala lirismo”, analisa Denise Mattar.
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Entre as obras que Ianelli pintou, de 1959 e 1960, tem destaque na mostra a série das naturezas-mortas, segundo a curadora. Abandonando a figuração, o pintor cria puros planos de cor e a geometria se afirma em sua obra, embora ainda dependente da ordem cromática.
Outra série que se destaca na mostra é a do Balé das Formas. “Muitas vezes vista como uma fase concretista tardia, Balé das Formas se remete mais à Op-Art, pois o seu cerne é o movimento. Conforme vai compreendendo tecnicamente a têmpera, Ianelli se apropria da textura aveludada do material, percebe a profundidade que pode ser alcançada pela supressão do brilho, e também as possibilidades da transparência”, diz a curadora. A opção pela têmpera aconteceu por causa de uma intoxicação de Ianell pelo chumbo da tinta a óleo.
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Já a tridimensionalidade em sua obra, segundo Denise, “não traz como corolário apenas a escultura; ela é replicada ao mesmo tempo na pintura”. As justaposições de retângulos, até então delineadas. parecem se abrir, “revelando espaços enigmáticos”, conclui a curadora.
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