“O i, como vai você?”
“Vou bem, e você?”
“Tento escrever uma crônica e está complicado. Você está fazendo o quê?”
“Roberto, eu não estou fazendo nada!”
Essa afirmação me intriga. Afinal, o “não fazer nada” está em oposição complementar ao “fazer alguma coisa” que nos remete à universalidade do trabalho e do lazer. Do pêndulo: movimento/repouso. E, no caso brasileiro, a expressão tem uma ligação direta com a preguiça como um valor que consagra o ter emprego, mas não trabalho. Sai e entra governo, mas esse projeto permanece imutável.
Afinal, o que isso significa realmente? Sei que o nada é uma categoria difícil de ser traduzida. Aliás, eu não seria ingênuo a ponto de pretender explicar o tratado de Jean-Paul Sartre – O Ser e o Nada – publicado nos anos 1940, no qual se discute a construção do humano como um atuar sobre o mundo. Uma intenção sem a qual nos colocaria diante da paralisia do “nada”...
Paralisia ou impotência que hoje experimentamos na vida política brasileira, narcotizados que estamos por uma polarização a qual, como todo dualismo, congela e impede a história.

Voltando, porém, à coluna e ao jornal, pode-se dizer que o “não fazer nada” remete a imobilidade e, nesse sentido, o “nada” seria como o zero da matemática; ou o espaço vazio e uma tela esperando um pintor. Seria o ar bolorento inutilmente guardado numa gaveta; ou, quem sabe, seria esse batido (e esgotado) populismo que tudo promete e nada realiza...
Eu sou pequeno para o tamanho da questão, mas posso afirmar que o nada do nosso dia a dia define uma pausa ou um hiato nas permanentes tarefas e trabalhos impostos pela vida. Trabalhos sem os quais nós não teríamos vida; ou melhor, teríamos uma vida oca. Um existir no qual não houve espaço para que nela ocorresse alguma coisa. Uma vida vazia fabrica uma biografia sem coisa alguma – uma bela contradição, porque o vazio existencial é um feito formidável. Daria um conto de Edgar Alan Poe, imaginar uma vida na qual nada ocorreu; ou melhor dizendo: na qual o nada foi o tudo daquela existência.
Eu luto para escrever, mas o meu amigo imaginário nada faz. Ele me lembra os ajustes fiscais do Brasil que punem o povo e continuam mantendo uma camada dominante que se aristocratiza a cada eleição. Pois elegemos muita gente comum que, empossada, torna-se nobre com os privilégios embutidos nos cargos. Então, embriagados, viram reis e fazendo tudo sem fazer nada...