Saiba quem é Colleen Hoover, escritora mais vendida do que a Bíblia nos EUA

Autora vendeu este ano mais livros do que Dr. Seuss, James Patterson e John Grisham – juntos.

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Por Alexandra Alter

THE NEW YORK TIMES - Dizer que ela é atualmente a romancista mais vendida nos Estados Unidos, até mesmo compará-la a outros autores de sucesso que desembarcaram vários livros nas listas de mais vendidos, não captura o tamanho e a lealdade de seu público. Ela ocupa seis dos dez primeiros lugares na lista de best-sellers de ficção do New York Times, um número impressionante de best-sellers simultâneos. E vendeu 8,6 milhões de livros impressos somente este ano – mais cópias do que a Bíblia, de acordo com o NPD BookScan.

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Seu sucesso – um choque que ela ainda está processando, disse ela – derrubou as suposições mais arraigadas da indústria editorial sobre o que vende livros. Quando ela publicou seu primeiro romance para jovens adultos, Slammed, em janeiro de 2012, Hoover ganhava US$ 9 por hora como assistente social e morava em um trailer com o marido, motorista de caminhão, e seus três filhos. Ela ficou exultante quando ganhou US $ 30 em royalties. Foi o suficiente para pagar a conta de água.

Hoover, 42 anos, não tinha editora, agente ou qualquer um dos mecanismos usuais de marketing que fazem parte da engenharia de um best-seller: as campanhas de marketing de seis dígitos, os talk-shows e as turnês de podcast, as palestras e prêmios literários, as críticas favoráveis na mídia tradicional.

Retrato da escritora Colleen Hoover em sua casa em Sulphur Springs, no Texas Jake Dockins/The New York Times) Foto: Jake Dockins/The New York Times

Mas sete meses depois, Slammed chegou à lista de best-sellers do Times. Em maio, Hoover ganhou US $ 50.000 em royalties, dinheiro que ela usou para pagar seu padrasto pelo trailer. No verão, com dois livros na lista dos mais vendidos – Slammed e uma sequência, Point of Retreat – ela largou o emprego para escrever em tempo integral. Seu sucesso aconteceu do seu próprio jeito, impulsionado por leitores que agem como seus evangelistas, estimulando as vendas por meio de críticas online e vídeos de reação que viralizam.

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Seus fãs, que são na maioria mulheres, se autodenominam CoHorts e postam reações entusiasmadas aos clímaces devastadores de seus livros. Uma CoHo fez o seguinte apelo no TikTok: “Queria que Colleen Hoover me desse um soco na cara. Ia doer menos que esses livros”. Até agora, em 2022, cinco dos dez livros impressos mais vendidos de qualquer gênero são de Hoover, de acordo com o NPD BookScan, e muitos de seus best-sellers atuais foram lançados anos atrás, um fenômeno quase inédito. “Ela está desafiando as leis de funcionamento do mercado”, disse o analista da indústria editorial Peter Hildick-Smith.

A maioria dos autores de sucesso surgem por causa de uma série popular, como Crepúsculo ou Harry Potter, ou constroem sua marca escrevendo em um gênero específico. Hoover é eclética. Escreveu romances, um thriller psicológico fumegante, uma história de fantasmas, romances angustiantes sobre violência doméstica, abuso de drogas, falta de moradia e pobreza. Embora seus livros sejam difíceis de categorizar, a maioria tem uma combinação viciante de sexo, drama e reviravoltas arrebatadoras.

Hoover começou a publicar por conta própria

“As pessoas ficavam me dizendo que os autores precisam se identificar como uma coisa só. E eu ficava, tipo, bom, por que não posso me rotular como um pouco de tudo?”, disse Hoover. “Por que não posso simplesmente me identificar como Colleen Hoover?”

A base de fãs de Hoover deu a ela um grau de controle sobre sua obra que é incomum no mundo da publicação. Ela começou a publicar por conta própria e continuou a fazê-lo de vez em quando, mas também fechou acordos com várias editoras, às vezes vendendo direitos de impressão e mantendo os direitos de e-book. Ela está sob contrato para lançar seis livros com três editoras nos próximos cinco anos: três thrillers com o Grand Central, um selo da Hachette; dois romances com a Atria, uma divisão da Simon & Schuster; e um romance com a Montlake, selo de romances românticos da Amazon Publishing.

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“Você pensa em John Grisham ou Lee Child ou James Patterson, esses caras são criaturas do mercado editorial tradicional. Foram feitos por grandes editoras, trabalham com as mesmas editoras há muitos anos, têm uma fórmula forte – é como se fosse uma máquina”, disse Kristen McLean, analista da NPD BookScan. “Ela é diferente. Ela está no comando”.

A autora Colleen Hoover assina um autógrafo em um evento em Grapevine, Texas  Foto: Allison V. Smith/The New York Times

Os livros de Hoover agora dominam as listas de best-sellers anos depois de terem sido lançados. Seu livro mais vendido, It Ends With Us, um drama sobre uma florista que se apaixona por um neurocirurgião abusivo e taciturno, foi lançado há seis anos, mas reapareceu na lista dos mais vendidos em 2021 e foi ficando: atualmente está no primeiro lugar da lista do Times e já vendeu 4 milhões de cópias. Depois que os fãs imploraram por uma sequência, Hoover escreveu uma continuação, It Starts with Us, que a Atria lançou em 18 de outubro, com uma primeira impressão de 2,5 milhões de cópias.

A habilidade de Hoover nas mídias sociais, onde ela tem 3,9 milhões de seguidores em todas as plataformas e publica vídeos engraçados e autodepreciativos, ajudou a aumentar seu público. O mesmo aconteceu com o timing: embora ela tenha construído uma forte base de fãs no início da carreira, suas vendas dispararam durante a pandemia, quando seus livros viraram uma sensação no TikTok. Até o momento, a hashtag #colleenhoover acumulou mais de 2,4 bilhões de visualizações.

Libby McGuire, chefe da Atria, principal editora de Hoover, chamou o fenômeno de “o reverso do clube do livro de Oprah”. Enquanto Oprah Winfrey era uma mulher fazendo uma recomendação e, às vezes, vendendo 2 milhões de livros, agora são 100 pessoas fazendo uma recomendação – e vendendo 4 milhões de livros, disse McGuire.

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Seus livros viraram uma sensação no TikTok. Até o momento, a hashtag #colleenhoover acumulou mais de 2,4 bilhões de visualizações

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“Todos nós estamos só pensando, ‘OK, qual é o próximo que eles vão escolher?’”, disse McGuire. Hoover, que diz sofrer do “pior caso de síndrome do impostor do mundo”, parece perplexa com tudo isso. “Eu leio os livros das outras pessoas e fico com muita inveja. Fico pensando: ‘Oh, meu Deus, são livros muito melhores, por que os meus estão vendendo tanto assim?’”, disse ela.

“Não sou eu”, continuou ela. “Agora são os leitores que controlam o que vende”. Em um dia escaldante de verão em Dallas, Hoover estava sentada em uma sala de conferências corporativa e parecia ansiosa sob os cuidados do maquiador. Quando o estilista perguntou alegremente que tipo de look ela estava procurando, Hoover ficou confusa.

“Qualquer coisa que você ache que possa ajudar”, disse Hoover. “Tudo isso é muito estranho para mim”. Mais tarde, com o cabelo enrolado e cílios postiços, Hoover foi até um cavernoso salão de convenções subterrâneo. E ocupou seu lugar à mesa preparada para receber uma multidão no Book Bonanza, uma convenção anual beneficente que ela organiza.

Com legiões de fãs dedicados e um talento para drama emocional de alta tensão, Hoover vendeu mais de 20 milhões de livros Foto: Allison V. Smith/The New York Times

As noites de autógrafo de Hoover são operações bem azeitadas que se desenrolam com a precisão de uma linha de montagem. Uma equipe de assistentes mantinha a fila em movimento: um cumprimentava os fãs e rabiscava seus nomes em notas adesivas. Outro distribuía sacolas de guloseimas. Um terceiro pegava os celulares dos leitores e tirava fotos de Hoover sorrindo com eles enquanto assinava.

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O encontro geralmente durava menos de um minuto, mas para CoHorts, conhecê-la é fazer uma peregrinação religiosa. “Eu vou chorar”, disse uma leitora, Angie LePine, de Denton, Texas, a Hoover. “Você faz parte da minha vida”.

Hoover cresceu em Saltillo, uma pequena cidade a cerca de 150 quilômetros a leste de Dallas. Sua memória mais antiga é de quando ela tinha 2 anos: certa noite, ela acordou com o pai gritando e o viu jogar um aparelho de televisão na mãe. Seus pais se divorciaram pouco depois. Hoover soube mais tarde que o pai, que morreu quando ela tinha 25 anos, era alcoólatra e havia abusado fisicamente da mãe.

Quando ela tinha 4 anos, sua mãe se casou novamente. O dinheiro era apertado. A família tinha uma pequena fazenda de gado leiteiro com cerca de 50 vacas, onde Hoover e sua irmã mais velha, Lin, trabalhavam de manhã cedo e nos fins de semana.

Quando Hoover pediu ajuda financeira para frequentar uma faculdade comunitária em 1997, ela descobriu que a família ganhara US$ 13.000 naquele ano. Ela se formou em serviço social e passou anos trabalhando em vários setores: um centro de proteção à criança, um asilo, uma agência estatal que oferece aconselhamento nutricional.

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Em 2011, quando seu filho mais novo tinha 7 anos, ele foi escalado para uma peça no teatro local. Hoover pegou emprestado o laptop de sua mãe para se divertir durante os ensaios. Assistir a vídeos de poesia slam no YouTube deu a ela a ideia para um romance sobre uma adolescente solitária que descobre a poesia slam.

Colleen Hoover tira uma foto na Book Bonanza, uma convenção anual de romance de caridade em Grapevine  Foto: Allison V. Smith/The New York Times

Ela compartilhou capítulos com familiares e amigos. Sua chefe no centro de nutrição, Stephanie Cohen, gostou tanto que passou a pegar alguns dos casos de Hoover, permitindo que ela escrevesse durante o dia. Em janeiro de 2012, Hoover carregou o livro – Slammed – na plataforma de autopublicação da Amazon.

“Um dia ela me ligou e disse: ‘Mãe, seis pessoas que não conheço compraram o livro’”, lembrou a mãe de Hoover, Vannoy Fite. “No dia seguinte, foram sessenta pessoas”. Quando o fluxo de vendas se transformou em enxurrada, os editores atacaram.

Depois de Slammed, Hoover escreveu mais de vinte livros, pulando do romance para os livros de jovens adultos para o erótico e para o thriller. Mas foi em 2020, com a pandemia, que as vendas de Hoover realmente começaram a subir. Naquela primavera, Hoover liberou cinco de seus e-books de graça. Os leitores devoraram os romances gratuitos – e começaram a comprar toda a lista. Hoover pensou que era um momento fugaz, mas o fluxo persistiu. Romances com anos de idade voltaram às listas de best-sellers.

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A fama foi um choque para Hoover, que é quase dolorosamente introvertida e não gosta de estar no centro das atenções

A fama foi um choque para Hoover, que é quase dolorosamente introvertida e não gosta de estar no centro das atenções. “Fico muito nervosa com tudo isso”, disse ela sobre a participação neste artigo. “Não me dou bem com entrevistas”. Ela ainda faz compras no Walmart de pijama e mora no mesmo terreno de 40 hectares onde ficava a fazenda da família. O tio dela ainda colhe feno para o gado na propriedade.

Em 2015, com os lucros dos livros, a família demoliu o antigo celeiro e construiu uma casa térrea espaçosa, mas aconchegante. Hoover se permitiu algumas indulgências: a sala de estar tem espaços de exibição para pedras preciosas e cristais. Em seu escritório, uma estante se abre para um segundo escritório secreto onde ela às vezes se esconde para escrever.

A mãe dela mora na propriedade. As duas são extremamente próximas e têm tatuagens de coração iguais nos pulsos; Hoover escreve sobre a admiração por sua mãe em uma nota da autora para It Ends With Us, seu livro sobre abuso doméstico. Hoover conhece quase todo mundo na cidadezinha e ainda mantém contato com colegas de escola. “Não somos pessoas espalhafatosas”, disse ela.

A escritora norte-americana dá autógrafos para a sua legião de fãs Foto: Allison V. Smith/The New York Times

À medida que seu público crescia, Hoover às vezes lutava para manter a conexão próxima com os leitores. Após a convenção, Hoover ouviu reclamações de alguns voluntários e amigos que se sentiram menosprezados. Hoover chorou no caminho para casa e ligou para a mãe.

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“Ela ficou, tipo, ‘Quer saber, Colleen? É uma questão de escolha’”, disse Hoover. “E eu fiquei, tipo, você está certa. Você sabe, sou muito grata por tudo o que está acontecendo com minha carreira. Mas também é assustador”. Assim como ela nunca imaginou ser uma autora best-seller, disse, ela não espera que isso dure.

“Ainda assim, na minha cabeça, fico pensando: ‘Isso vai acabar amanhã’”, disse ela. “Então preciso aproveitar”./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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