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Coluna quinzenal do jornalista e escritor Sérgio Augusto sobre literatura

Opinião | Cartas do Boom

Quando 207 cartas trocadas entre os mais renomados escritores da literatura da América Latina nos anos 1960 e 1970 são editadas num livro

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Atualização:

São ao todo 207 cartas, manuscritas e datilografadas, vindas e idas de várias cidades da América hispânica e Europa, bonificadas com alguns postais, telegramas e fax. Não é um epistolário qualquer, mas uma recompilação da intensa correspondência trocada entre os mais renomados escritores do chamado boom da literatura latino-americana, nas décadas de 1960 e 70. Missivas de e para o argentino Julio Cortázar, o mexicano Carlos Fuentes, o colombiano Gabriel García Márquez e o peruano Mario Vargas Llosa, editadas num livro histórico: Cartas del Boom, que a Alfaguara espanhola só lançará em setembro, mas já disponibilizou parcialmente na internet.

Capa do livro 'Las Cartas del Boom' Foto: Alfaguara

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O boom durou uns 12 anos, do começo dos anos 1960 ao início da década seguinte. Marcos iniciais: O Jogo da Amarelinha, de Cortázar, e A Cidade e os Cachorros, de Llosa, ambos lançados em 1963.

A despeito das contribuições prévias de Borges, Sábato, Roa Bastos e Astúrias, aqueles quatro jovens, brilhantes e exitosos autores foram mesmo os Beatles do boom, os “fab four” da prosa continental, os beats da América de baixo, um quarteto movido pela imodesta ambição de escrever romances que lograssem ser, ao mesmo tempo, Os Três Mosqueteiros e Ulisses, “uma pachanga de compadres” (apud Márquez) unidos por ideais estéticos e políticos comuns. Noves fora os projetos em parceria; no cinema, inclusive. Fuentes e Márquez chegaram a tramar, juntos, um filme de episódios para Buñuel, que não medrou.

Cortázar era Julio e “Sumo Cronópio”; Fuentes, Carlos e “Áquila Azteca”; Márquez, Gabo e “El Coronel”; Llosa, Mário e “Gran Jefe Inca”. Gabo e Llosa, como é sabido, um dia brigaram depois de meses e meses se tratando por, num crescendo, “estimado”, “querido” e “hermano”, mas a amizade fraternal, solidária e patusca que os unia quase sempre prevaleceu sobre ocasionais dissensões. Já em sua primeira carta para Cortázar, datada de 15/11/1955, Fuentes pede ao argentino que lhe envie uma colaboração para a revista literária que então codirigia, na Cidade do México.

Porque viajavam muito, encontravam-se com frequência nos dois continentes, principalmente em Paris, mas apenas uma foto do grupo (no restaurante Le Fournil, em Bonnieux, na Provença, em outubro de 1970) preservou sua imagem para a posteridade e este livro precioso. “Foi muito agradável e também estranho; algo fora do tempo e irrepetível”, comentou Cortázar sobre o encontro, proporcionado pelo Festival de Avignon e que culminou com uma esticada dos “compadres” até a casa do argentino em Saignon, nos Alpes provençais.

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Mais que uma recompilação epistolar, Cartas del Boom é um diálogo a quatro vozes, uma charla que nasce inevitavelmente singular e logo vira plural – donde a impressão, para Fuentes, reiterada por Márquez, de que todos eles escreviam não cartas, mas capítulos de um mesmo romance, o romance de uma grande aventura literária e existencial.

* É JORNALISTA E ESCRITOR, AUTOR DE ‘ESSE MUNDO É UM PANDEIRO’, ENTRE OUTROS

Opinião por Sérgio Augusto

É jornalista, escritor e autor de 'Esse Mundo é um Pandeiro', entre outros

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