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Coluna quinzenal do jornalista e escritor Sérgio Augusto sobre literatura

Opinião|Dei falta do meu exemplar da Encyclopaedia Britannica - boa notícia: em sebos, sai por até R$ 6

E viva o iluminismo escocês, sem o qual a Britannica não teria vindo ao mundo em Edimburgo, 256 anos atrás

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Atualização:

Semana de três dias não é bem uma semana, é um tríduo, em que, geralmente, nada de muito relevante costuma acontecer depois da quarta-feira, prevalecendo, pois, o salomônico “nihil novi sub sole” – ou “sub pluvia”, ao câmbio climático atual. Daí porque, irrelevando a tunda que Trump levou na quinta, retomo a conversa da semana passada, não mais para falar da Barsa, mas de sua matriz, a Encyclopaedia Britannica, cujos 32 volumes, com suas alinhadas lombadas grenás e letras douradas, faziam a maior vista na minha estante.

Consegui comprar a edição de 1968, já conformado com o fato de que jamais teria condições de adquirir a cobiçada edição de 1911, até hoje disputada por bibliófilos a peso de ouro. Façanha do jornalista londrino Hugh Chisholm, com uma divisão por assuntos diferente das anteriores, foi a primeira edição a oferecer um índice onomástico e a contar com uma equipe de especialistas do balacobaco: Whitehead explicando a matemática e Kropotkin o anarquismo, e por aí vai – ou melhor, foi.

Encyclopaedia Britannica exibida em estantes no ano de 2017 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Ao que dela tive acesso sem precisar ir a uma bem fornida biblioteca pública até nós chegou através de uma antologia maneiríssima, traduzida no Brasil no final do século passado: O Tesouro da Enciclopédia Britânica, editada por Clifton Fadiman. Uma primeira seção cobria a evolução de dez campos do conhecimento nos séculos 19 e 20, a outra continha 46 ensaios assinados por uma plêiade de sabichões entre 1815 e 1974.

Algumas preciosidades: o texto que sir Walter Scott escreveu sobre cavalaria para a edição de 1815, o mais antigo da coletânea; o de Freud sobre psicanálise; o de Einstein sobre a noção de tempo e espaço; o de Thomas Malthus sobre controle na natalidade; o de James Frazer sobre totemismo e tabu; o de Bertrand Russell sobre as consequências filosóficas da relatividade – e um abundante, etc.

O socialista Fabiano Bernard Shaw sumarizou a evolução das ideias socialistas; o réprobo comunista Trotski embolsou U$ 106 para fazer um perfil de Lenin; o prolífico romancista inglês Anthony Burgess precisou de 22 páginas para dissertar sobre o romance, mesmo espaço que o escritor e jornalista húngaro Arthur Koestler gastou para refletir sobre o riso. E que título Koestler deu ao seu ensaio! Uma Contração de 15 Músculos Faciais.

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Noves fora os verbetes, bem mais curtos, igualmente encomendados a experts comprovados como Cecil B. De Mille (cinema), Lee Strasberg (interpretação) e George Jean Nathan (teatro norte-americano).

Dia desses, dei pela falta do meu exemplar, cujo destino permanece ignorado. O que alinhavei acima extraí de anotações feitas na época de seu lançamento pela Nova Fronteira. A boa notícia é que esse tesouro enciclopédico ainda é facilmente encontrado em sebos por até R$ 6. Isto mesmo: seis reais.

E viva o iluminismo escocês, sem o qual a Britannica não teria vindo ao mundo em Edimburgo, 256 anos atrás.

Opinião por Sérgio Augusto

É jornalista, escritor e autor de 'Esse Mundo é um Pandeiro', entre outros

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