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Coluna quinzenal do jornalista e crítico Sérgio Martins com histórias da música

Opinião | Playlist: Qual é a melhor música para acordar, fazer café, sair de casa, trabalhar e voltar?

Nas Olimpíadas da vida cotidiana, cada atividade é pontuada por uma canção que nos prepara para os desafios que vêm a seguir. A exemplo das nossas atletas, criei uma combinação de canções tradicionais, nomes consagrados e algumas pequenas descobertas

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Atualização:
Veja canções tradicionais, consagrados e pequenas descobertas para escutar na rotina diária. Foto: stockbusters/adobe.stock

O ótimo desempenho das atletas da ginástica olímpica brasileira tornou a nossa vida, a de colunistas do mundo das artes, mais difícil. Como sugerir músicas e espetáculos quando o país se maravilha com o triunfo – merecido, diga-se – de Rebeca Andrade, Jade Barbosa, Julia Soares e Flávia Saraiva? A solução veio em formato de trilha sonora.

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O desempenho das meninas da ginástica mostrou a evolução dos temas musicais tocados durante esse tipo de competição. Se antes ele era restrito a balés e peças eruditas, como me contaram a ex-ginasta Luisa Parente (que, audaciosa, enfiou um The Entertainer, do jazzista americano Scott Joplin num de seus solos), e Rhony Ferreira, mentor das atletas que deram um show em Paris. E em matéria de piruetas e repertório, somos melhores que nossas concorrentes. No mínimo, inimitáveis. Como replicar o samba rock do Raça Negra e o pancadão do funk se eles não possuem essa cultura?

Outra reflexão é que, na Olimpíada do nosso dia a dia, a gente também usa temas específicos. Cada atividade é pontuada por uma canção, que nos prepara para os desafios que vêm a seguir. E a exemplo das nossas atletas, eu criei uma combinação de canções tradicionais, nomes consagrados e algumas pequenas descobertas. Vamos então às principais categorias e suas canções-tema.

O desempenho das meninas da ginástica mostrou a evolução dos temas musicais tocados durante esse tipo de competição. As atletas que compõem o time brasileiro são Rebeca Andrade, Jade Barbosa, Lorrane Oliveira, Flávia Saraiva e Júlia Soares.  Foto: Ricardo Bufolin/CBG

Categoria melhor despertar

Mar de Cirandeiras, de Amaro Freitas; Girassóis, de Silva (com arranjos de cordas de Arthur Verocai), e Reescreve, de Céu

O porquê da escolha: o toque delicado do pianista pernambucano Amaro Freitas cria um clima bucólico, que depois ganha a guitarra do americano Jeff Parker. A melodia de Silva, por seu turno, é suave – especialmente por causa do canto do compositor capixaba, mas dá vontade de sair pulando da cama. Já Céu é indicada para levantar na base do susto. O “acorda” e “te ergue” que ela solta nos momentos iniciais da canção, que tem uma levada de afrobeat, são daqueles que nós despertamos pulando da cama.

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Categoria melhor café enquanto pensamos no que fazer

Voando, de Rita Lee & Roberto de Carvalho; Tobogã, de Lô Borges e Fernanda Takai, e Black Hole Sun, de Scott Bradlee`s Post Modern Jukebox with Willie Ray Moore

O porquê da escolha: porque o momento pede um pouco de calma antes dos estresses do mundo moderno. Rita Lee e Roberto de Carvalho fizeram uma versão bossa nova da italiana Volare, interpretada com aquele jeito delicado que só Rita sabia (e sabe) ter; o mesmo se aplica à doçura na voz de Fernanda Takai ao lado de Lô Borges numa música cuja letra (de autoria de Manuela Costa) fala coisas como “O tempo é uma abstração da mente/ E eu quero a sua bem sã…” Black Hole Sun é aquela mesma do grupo de rock pesado Soundgarden, mas aqui surge numa versão jazz/soul. É aquele sinal de que está na hora de finalizar a refeição e sair para o trabalho.

Categoria melhor maneira de dar partida no carro, esperar o ônibus ou o metrô

I Guess Time Just Make Fools of Us All, de Father John Misty; Por Mais que se Discuta, de Gui Amabis, e Um Vento Passou (Para Paul Simon), de Milton Nascimento e Esperanza Spalding

O porquê da escolha: um dos nomes do pop alternativo americano, Father John Misty apresenta uma composição de mais de oito minutos (ideal para aguentar o trânsito e o aperto do transporte público) cujo título supostamente faz uma reflexão a um texto do matemático Eric Bell, que diz: “O tempo faz de todos nós tolos. Nosso único conforto é que algo maior virá depois de nós.” A criação de Gui Amabis tem uma melodia tristonha e é ideal para aceitar a demora em chegar ao local em que precisamos estar. E já que o atraso é inevitável, nada mais recomendável que a beleza de uma composição de Milton Nascimento, reforçada pelo talento da jazzista Speranza Spalding.

A saga do transporte traz ainda uma categoria extra, na qual o sujeito simplesmente dá de ombros para a situação. Caso de Flores de Rua, que Samuel Rosa indica para quem gosta de sair falando sozinho mundo afora, e Jack White manda todo mundo para o inferno no rock/blues That`s How I`m Feeling.

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Categoria trabalho sob pressão

Pequeno Mapa do Tempo, com João Fenix e Juliana Linhares; Don`t Stop, de Fleetwood Mac, e No Fim das Contas, de Renato Godá

O porquê da escolha: a canção de Belchior fala exatamente de enfrentar os medos que nos cercam, a necessidade de buscar forças, e vira um manifesto nas vozes fortes de Fênix e Juliana; Don`t Stop, aqui numa versão ao vivo, fala tanto de resiliência que virou hino da campanha do democrata Bill Clinton nas eleições americanas de 1992, e o folk de Renato Godá atua como uma reflexão de mais um dia de trabalho – “se as horas voam e as histórias vêm”, professa ele.

Outro adendo a essa categoria: Larga Tudo, com Adriana Calcanhotto brincando de samba do Recôncavo Baiano, e a baiana Emanuelle Araújo pedindo para fazer seu trabalho sossegada em Vá na Paz do Senhor, que evoca a música do bloco afro Olodum e de Gerônimo.

Categoria eu te amo (De volta pra casa)

Dois Reveillóns, de Nando Reis; O Prazer de Viver Para Mim é Você, de Guilherme Arantes; Meu Pedaço de Pecado, de Mãeana, Simply Beautiful, de Maxwell, e Love Goes, de Mayer Hawthorne

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O porquê da escolha: é a lista mais longa porque, afinal, somos eternos românticos. Nando Reis e Guilherme Arantes surgem com duas baladas – uma folk, outra ao piano – que falam sobre a beleza de ter alguém ao nosso lado. Mãeana, nome artístico de Ana Cláudia Lomelino, tem uma voz tão doce e emotiva que nos faz descobrir a doçura de versos do forrozeiro João Gomes. Mesmo que nunca foi vaqueiro vai gostar de versos como “Quero ser teu namorado ficar do seu lado e falar no ouvido/ Você é a mais bonita, um pedaço da vida, de felicidade…”. Maxwell e Mayer Hawthorne são dois cantores americanos de soul music e uma das mais expressões do gênero nas últimas décadas. A emoção que colocam nas melodias e letras que interpretam nos fazem acreditar que vale a pena começar tudo de novo. E você, o que me indicaria para uma trilha do dia a dia? O que te faz, a exemplo daquelas meninas tão talentosas, dar um duplo twist carpado para driblar as mazelas que são apresentadas à nossa frente?

Opinião por Sérgio Martins

Jornalista e crítico musical

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