Novo fenômeno da Netflix, a série Adolescência tem despertado muitos debates acerca de temas sensíveis como ódio online, machismo e o impacto de discursos radicais em jovens e adolescentes. A atração britânica, elogiada por levantar assuntos pertinentes, também desperta curiosidade. Afinal, poderia uma história como esta ter acontecido de verdade?
Em quatro episódios, a série conta a história de um adolescente de 13 anos, Jamie Miller (Owen Cooper), acusado de matar uma colega de escola a facadas. A trama não tenta descobrir quem cometeu o crime, mas sim os motivos por trás de um ato tão brutal cometido por alguém tão jovem.
Em entrevista concedida para a Radio Times Magazine, o cocriador Stephen Graham (que também interpreta o pai de Jamie na atração) explicou que a ideia não veio de um único lugar, mas sim de uma junção de casos que evidenciam uma epidemia crescente de crimes semelhantes no Reino Unido.
“Houve um incidente em Liverpool, em que uma jovem garota foi esfaqueada até a morte por um jovem garoto”, lembrou. “E eu só pensei: por quê? E então houve outra garota no sul de Londres que foi esfaqueada em um ponto de ônibus. E então houve outro caso mais ao norte, em que a jovem Brianna Ghey foi atraída até um parque por adolescentes, e eles a esfaquearam. E eu fiquei pensando: o que está acontecendo? O que é isso?”
Quais são os casos mencionados pelo criador de ‘Adolescência’?
Acredita-se que o primeiro caso citado por Graham é o da jovem Ava White, uma menina de 12 anos assassinada em novembro de 2021 por um menino de 14, que não teve a identidade revelada, em Liverpool. Segundo as investigações, o assassinato ocorreu após ela pedir ao garoto que deletasse um vídeo que ele registrou para compartilhar no Snapchat, em que ela e as amigas, de idades entre 11 e 15 anos, ingeriam álcool. Ele foi sentenciado a prisão perpétua com mínimo de 13 anos.
O segundo caso, ocorrido em um ponto de ônibus no sul de Londres, é o assassinato de Elianne Andam, uma adolescente de 15 anos esfaqueada por Hassan Sentamu, então com 17.
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O crime ocorreu em setembro de 2023, quando Elianne foi se encontrar com Hassan para fazer uma troca de itens. Ela era amiga da ex-namorada do rapaz, e as duas iriam encontrá-lo para cada um devolver itens pessoais um do outro. A ex de Sentamu, que não foi identificada por questões legais, levou uma sacola com itens dele, mas ele apareceu de mãos vazias. Ela ansiava para recuperar seu ursinho de pelúcia.
Na tentativa de ajudar a amiga, Elianne puxou de volta das mãos de Hassan a sacola que continha os itens dele. Em um acesso de raiva, ele encurralou a jovem e a golpeou com a faca repetidamente. Agora com 18 anos, ele foi sentenciado a prisão perpétua, com permanência mínima de 23 anos.
Já o assassinato de Brianna Ghey ocorreu em fevereiro de 2023. Aos 16 anos, a jovem, uma mulher trans, foi assassinada em um ataque premeditado por Scarlett Jenkinson e Eddie Ratcliffe, que tinham 15 anos na época. Ela recebeu 28 facadas após ser atraída pelos dois para um parque, em plena luz do dia. Os dois também receberam pena de prisão perpétua.
Série foi inspirada pelas crescentes ondas de ódio
Jack Thorne, cocriador da atração, ressalta que outra inspiração para a série foi o desejo de explorar o que é o “ódio masculino”. Conforme explicou ao Tudum, ele, Graham e o diretor Philip Barantini passaram a refletir sobre suas próprias identidades enquanto homens, pais, parceiros e amigos, e acabaram questionando alguns conceitos.
“Essa é uma jornada que eu nunca havia feito enquanto escritor antes, e me assustou e me animou, porque senti que tínhamos algo a dizer”, contou.
Graham também explicou para a revista Vanity Fair que não era familiarizado com o conceito da “machosfera”, ambientes virtuais que divulgam conteúdos normalmente ligados à cultura incel. “Eu não sabia o que era nada disso até o Jack me contar, e fiquei chocado.”
“Um dos nossos objetivos era perguntar: ‘O que está acontecendo com os rapazes hoje em dia, e quais pressões eles sentem de colegas, da internet e das redes sociais?’”, explicou à Netflix. “Essas pressões são tão difíceis para os adolescentes [do Reino Unido] quanto são para o mundo inteiro.”
