‘A Casa do Dragão’: Atores falam sobre aquela batalha aérea eletrizante do episódio 4; confira

O ‘Estadão’ conversou com Eve Best, que faz Rhaenys, e Ewan Mitchell, o Aemond, sobre o início da guerra entre dragões. ATENÇÃO PARA OS SPOILERS

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'A Casa do Dragão': Episódio 4 trouxe surpresas marcantes Foto: Divulgação / Max

Atitudes obscuras, traições, sacrifícios, batalhas: o quarto episódio de A Casa do Dragão, que foi ao ar na noite deste domingo, 7, na HBO e na Max, entregou tudo o que o fã mais ama no universo criado por George R.R. Martin e amplificado por Game of Thrones.

NÃO CUSTA AVISAR DE NOVO: ATENÇÃO PARA OS SPOILERS, LEIA APENAS SE TIVER ASSISTIDO AO QUATRO EPISÓDIO DA SEGUNDA TEMPORADA

O que aconteceu no quarto episódio de ‘A Casa do Dragão’

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Depois de três capítulos de acúmulo de mal-entendidos e crescimento de tensões entre o Conselho Preto, que considera Rhaenyra (Emma D’Arcy) a rainha, e o Conselho Verde, que segue Aegon II (Tom Glynn-Carney), a batalha direta entre os dois lados da família Targaryen começa de verdade. E com uso dos dragões, as armas de destruição em massa de Westeros.

É um daqueles episódios que deixa o fã tenso, xingando a televisão ou o computador, soltando gritos. É um episódio também em que a tragédia é inevitável, com perdas de parte a parte.

Ele marca o adeus de Rhaenys (Eve Best), que se oferece para entrar na batalha contra as tropas lideradas por Criston Cole (Fabien Frankel) com seu dragão Meleys, a maior do Time Preto, mas não o suficiente para fazer frente ao monstro que é Vhagar, o dragão comandado por Aemond (Ewan Mitchell), o irmão do rei Aegon II.

Fabien Frankel como Criston Cole em cena do episódio 4 de 'A Casa do Dragão' Foto: Divulgação/Max

Mas no ataque de Vhagar e Aemond a Rhaenys e Meleys há outra vítima, Sunfyre e seu montador, nada menos que Aegon II, que apareceu de surpresa. E pior: não parece ter sido um acidente por parte de Aemond, que além de tudo parece disposto a terminar de vez com a vida de Aegon na última cena do episódio.

O Estadão participou de mesas-redondas com Eve Best e Ewan Mitchell, que falam sobre os destinos de Rhaenys e Aemond em A Casa do Dragão.

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Eve Best: ‘Rhaenys era a única adulta na sala’

Eve Best no papel de Rhaenys, em 'A Casa do Dragão' Foto: Divulgação/Max

Pode-se dizer que a guerra civil entre os Targaryen teve seu início, de alguma forma, lá atrás, quando Rhaenys foi impedida de se tornar rainha apenas por ser mulher, cedendo o Trono de Ferro ao primo Viserys (Paddy Considine). Com a morte de Viserys, o mesmo drama se desenrolou: sua filha mais velha, Rhaenyra, não é vista como herdeira legítima. A segunda mulher de Viserys, Alicent (Olivia Cooke), coloca seu filho Aegon no Trono de Ferro depois da morte do rei, desencadeando uma guerra civil entre os Targaryen.

Depois de tentarem evitar o uso de dragões, Rhaenyra e Rhaenys percebem que a guerra nuclear é inevitável, e Rhaenys parte para a batalha, dando sua vida pelo reinado de Rhaenyra.

A Casa do Dragão tem várias personagens femininas fortes, e de certa forma a guerra civil começa com a sua personagem, não?

Eva Best - Sim, a história começa com Rhaenys sendo preterida para ser a rainha por ser mulher. Por isso, durante as duas temporadas em que Rhaenys está conosco, ela defende a ideia de que essa história não pode continuar sendo contada, de que uma mulher de sagacidade, inteligência, experiência, conhecimento e claramente a melhor candidata à liderança seja preterida com base no seu sexo.

Rhaenys é uma das personagens mais queridas da série. Como reagiu ao ler o roteiro do quarto episódio?

Fiquei arrasada, na verdade. Eu não esperava ficar triste porque sabia que isso aconteceria. Meu contrato era para duas temporadas, e eu conhecia a história. Eu sabia que ela teria essa grande batalha e chegaria ao fim. Mas fiquei triste.

O papel de Rhaenys para Rhaenyra e para suas próprias netas, Baela e Rhaena, é muito importante, não?

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Sim, Rhaenys se torna uma mistura de mãe e mentora para jovens repentinamente empurradas para o meio de um sistema patriarcal que está desmoronando. Elas estão tentando entender o que significa ser mulher em uma posição de liderança e como é possível ocupar uma posição de autoridade e governança e não sacrificar a sua feminilidade, a essência do que faz de você uma mulher, a sua compaixão. Obviamente essas não são qualidades de ser mulher, mas são qualidades femininas. É a essência da liderança feminina em oposição a um estilo masculino de liderança, mais focado no poder e no controle. E isso não é específico do gênero. Por exemplo, eu diria que Viserys era um tipo de líder muito feminino. Ele liderou com o coração.

Rhaenys é quase como a Mão de Rhaenyra, embora não oficialmente. E agora, como fica o reinado de Rhaenyra?

Acho que Rhaenyra vai ficar perdida sem Rhaenys. É muito típico da vida de Rhaenys ser ignorada, sem nem sequer ser chamada de Mão, embora essa seja efetivamente a posição que ela assume. Mas Rhaenys tem força e caráter e sempre vê o panorama geral, deixando seus próprios sentimentos de lado. Eu acho que todos eles estarão perdidos, porque Rhaenys, especialmente na segunda temporada, se torna uma espécie de rocha titânica em um mar de crianças. Ela é a única adulta na sala.

Ela não se cansa disso tudo?

Eu acho que na segunda temporada seu distanciamento foi aumentando. Ela vai desistindo aos poucos, vendo esse bando de crianças ricas e mimadas efetivamente brigando na caixa de areia em busca de mais fontes de poder. Senti que havia uma espécie de paz interior chegando para ela.

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Qual é o estado de espírito de Rhaenys quando ela vai para a batalha?

Ela sabe que provavelmente será uma missão kamikaze. Mas os produtores e o diretor fizeram questão de não destacarmos isso porque obviamente não queríamos dar a entender que ela estava indo para a morte. Mas acho que ela sabe no fundo. E assumiu uma postura tão forte de tentar impedir a todo custo travar uma guerra nuclear, ou seja, usar dragões, que ela sabe estar apertando efetivamente o botão vermelho. Ela entende que precisa se sacrificar pela causa. Antes de partir, ela faz as pazes com a Rhaenyra – é um momento muito sutil, em que as duas se perdoam. Ela vai para a guerra com tudo passado a limpo e com uma clareza do que vai acontecer.

E o que ela está sentindo quando cai de seu dragão e sabe que vai morrer?

Na batalha, ela precisa estar absolutamente focada no presente e no que precisa ser feito. Eu também solicitei que ela tivesse um momento de conexão com seu dragão, a Meleys. Há um momento de grande vulnerabilidade e peso no coração, e a única testemunha disso é Meleys. Eu acho que, quando ela está caindo para sua morte, Rhaenys sente paz. É um livramento, uma libertação, um alívio.

Como o público reagirá à morte de Rhaenys?

Não tenho noção de como o público reagirá. Espero que sintam falta dela. Interpretei muitas personagens que tiveram finais terríveis, mas fiquei bem triste desta vez porque sinto que Rhaenys é um exemplo maravilhoso de mulher. O mundo precisa de líderes iluminadas. Ela é realmente uma figura de classe e uma ótima mulher. A verdade é que você nunca se despede desses personagens. E eu sinto que esse é o caso de todas as pessoas que morrem, especialmente as fora de série. Elas podem não estar fisicamente aqui, mas estão sempre por perto. E eu certamente sinto isso com Rhenys.

Ewan Mitchell: ‘Neste momento, Aemond é a pessoa mais perigosa de Westeros’

Ewan Mitchell em 'A Casa do Dragão' Foto: Divulgação/Max

Segundo filho do segundo casamento do rei Viserys (Paddy Considine) com Alicent (Olivia Cooke), Aemond (Ewan Mitchell) sempre foi deixado de lado. Só em um caso extremo teria chance de ascender ao Trono de Ferro. Afinal, antes de sua morte, o rei escolheu sua filha mais velha, Rhaenyra (Emma D’Arcy), do casamento anterior, como sua herdeira. Diante da contestação por ela ser mulher, o irmão mais velho de Aemond, Aegon (Tom Glynn-Carney) foi coroado pelo Conselho Verde. E Aegon já tinha um herdeiro, um filho homem, morto no episódio 2 (no livro Fogo & Sangue, Aegon é pai de dois meninos e uma menina).

Por isso, Aemond, que perdeu um olho na adolescência em uma briga com o sobrinho Lucerys, filho de Rhaenyra, foi treinado para a guerra e acostumou-se a atuar nas sombras. De posse do maior dragão de Westeros, Vhagar, ele é uma arma poderosíssima, como se viu no episódio 4, em que ele atacou a rival Rhaenys e também seu próprio irmão, Aegon, que apareceu de surpresa no campo de batalha. Ewan Mitchell falou sobre as motivações ambíguas de seu personagem.

É realmente difícil entender o que Aemond pretende. Qual é o plano nesse quarto episódio?

Ewan Mitchell – No episódio 1, Aemond e Cole, no que chamamos de Conselho das Sombras, estão orquestrando um tipo particular de manobra, em que Cole mobiliza suas tropas de Porto Real e passa por todas as aldeias recrutando homens para seu exército. E, no final das contas, eles acabarão em Rooke’s Rest (Pouso de Gralhas, onde se dá a batalha aérea entre dragões). A ideia é que Aemond forneça apoio aéreo. Ou seja, se enfrentarmos oposição na forma de um dragão rival, Aemond e Vhagar estarão à espreita, prontos para atender a esse chamado.

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Para mim, fica muito claro que Aemond sabe que, ao atacar os dois dragões (Meleys, de Rhaenys, e Sunfyre, de Aegon), haverá consequências para seu irmão. Não parece ter sido um acidente como quando ele atacou Lucerys. Qual é a diferença aqui? E você está pronto para enfrentar os amantes dos livros que vão discutir isso por semanas?

No episódio 4 Aegon entra em uma batalha que ele não entende. Ele não compreende de que os dragões são capazes, enquanto Aemond, depois do que aconteceu nos céus de Ponta Tempestade (quando Vhagar matou Lucerys), entende. E o que eu adoro naquela cena de batalha no episódio 4 é que ela levanta a questão se Aemond pretendia queimar Aegon e Rhaenys intencionalmente ou se ele queimou Aegon apenas porque ele estava no caminho. É isso que me atrai. Há um acúmulo de mágoas nas trajetórias de Aemond e Aegon. Aquele momento no episódio 4 é um ponto de virada, e acho que Aemond sabe que não há como voltar atrás depois disso.

Aemond é responsável pelas mortes de personagens importantes, e ele é visto como um cara cool, mas também bastante mau. Existem algumas características ou qualidades em Aemond que você gostaria de destacar e que podem não ser tão óbvias para algumas pessoas?

O que há de atraente nas obras de George R.R. Martin é que nenhum personagem é preto ou branco, eles são todos cinza. Há coisas que você ama, há coisas que você pode desprezar. Com Aemond eu sempre tenho em mente aquele jovem garoto negligenciado e intimidado que vimos nos episódios 6 e 7 da primeira temporada, e o que ele finalmente consegue ao reivindicar o dragão Vhagar. É um tremendo feito de coragem enfrentar a adversidade e realizar algo que as pessoas não conseguiram antes. Eu sempre tento manter isso na cabeça e me inspirar em uma infinidade de outras coisas que me ajudam a encontrar leveza em Aemond. Ele é um personagem muito multifacetado.

Mas Aemond é bom ou mau?

Aemond é um príncipe que não herdará nada. Ele reconheceu muito cedo em sua vida o que queria e que teria de conseguir sozinho. Ele tem muito a provar. É dever do segundo filho lutar na guerra. Ele está preparado para fazer o necessário. O que adoro no personagem e o que também acho bastante assustador é que ele não se importa com o que as pessoas pensam dele. Ele não está preocupado com a opinião pública. Ele vê o mundo muito preto e branco. Ele não considera as consequências do quadro geral. Ele é difícil de definir. No momento, ele definitivamente se inclina mais para o lado sombrio.

Na cena final do episódio, encontramos Aemond próximo ao dragão de Aegon e ao corpo de Aegon, empunhando sua espada. Criston Cole chega, e não sabemos o que Aemond queria fazer. Ele ia matar o irmão?

Essa é uma boa pergunta. Foi uma decisão consciente nesta temporada interpretar Aemond de uma forma que você não consegue definir. Não dá para saber o que ele está pensando. É isso que chama a atenção no personagem, esse medo do desconhecido. Você não sabe o que ele ia fazer com o Aegon no final do episódio 4. Se eu der a resposta, as pessoas vão parar de fazer perguntas.

É seguro dizer que Aemond é agora a pessoa mais perigosa de toda Westeros?

É um personagem que possui um poder tremendo que ninguém mais tem, graças a Vhagar. Ele pode fazer coisas que ninguém mais pode fazer. E Aemond sendo Aemond vê isso como uma oportunidade de escrever seu nome nos livros de história. Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. Ele tem que ser visto como alguém que pode controlar este dragão, que pode utilizá-lo. E ele quer fazer isso de forma eficaz. Se eu acho que ele é a pessoa mais perigosa de Westeros? Neste momento, provavelmente sim.

Por causa das mudanças feitas na série em relação ao livro, o único filho menino de Aegon foi assassinado, ou seja, ele não tem herdeiros homens. Aemond, portanto, é o segundo na linha de sucessão dos Verdes. Isso impacta as ações de Aemond? O que isso significa para ele nos próximos episódios?

Aemond tem muito a provar. Ele era um menino que se sentia o segundo filho, embora desejasse ser tratado como o primeiro. Ele nunca experimentou aquele amor incondicional de sua mãe e teve que encontrá-lo em outros lugares, em Vhagar, na (prostituta) Madame Sylvie, que vemos na segunda temporada. Esse amor incondicional é necessário para desenvolver uma visão equilibrada de si mesmo. Se uma criança não for acolhida pela aldeia, irá incendiá-la para sentir o seu calor. Aemond buscará validação por outros meios, pela guerra. Ele tem um peso enorme em seu ombro que, em última análise, o motiva.

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