O tempo sempre foi uma questão que levou a humanidade aos mais variados questionamentos – também foi personagem de obras nas mais diversas áreas, como cinema, literatura, as artes, de forma geral. E é esse mesmo tempo que surge no novo podcast, ou melhor, na audiossérie Paciente 63, que estreia nesta quinta-feira, 22, no Spotify, com a direção de voz de Gustavo Kurlat. Mais do que um detalhe, a obra de ficção científica original escrita pelo chileno Julio Rojas traz uma trama repleta de suspense, que leva o ouvinte a viajar pela história de um homem, que tem plena convicção de ter vindo do futuro.
E o autor deixa claro que a pandemia foi um ponto importante para a elaboração da trama de suspense, mantendo ligação com o que se vive hoje. Segundo Rojas, tal história não existiria em uma situação de normalidade. “Sim, a pandemia é completamente responsável. Ela me fez pensar muito no tema do tempo e nas consequências e nas cadeias de causas e efeitos que nos definem”, conta. Na história, um homem, o tal Paciente 63, interpretado por Seu Jorge, tido como alguém fora de seu juízo normal, é recolhido em uma instituição, onde passa por sessões com a psiquiatra Elisa Amaral, vivida por Mel Lisboa, que tenta entender o que se passa com ele. Desde o primeiro episódio (são dez no total), o sentimento que pega o ouvinte é o de aflição, pois acompanhamos esse homem tentando de todas as formas provar algo que julga ser verdadeiro. “Ele fica nesse lugar e é tratado como uma pessoa com dificuldade, que precisa ser observada”, comenta Seu Jorge sobre o personagem que acredita “ter vindo realmente para salvar a humanidade”. Em cada sessão com a psiquiatra, o homem busca argumentos para tentar fazê-la acreditar no que diz. “É aflitivo mesmo, uma angústia muito grande, pois ele traz novidades do futuro, mas não é compreendido”, afirma o ator.
“No fundo, no fundo, a gente sabe que não sabe de muita coisa, então sempre fica numa dúvida”, comenta Mel Lisboa sobre a situação apresentada na série. Dia após dia, as revelações feitas pelo Paciente 63 nas sessões vão abalando as certezas da psiquiatra. Em uma escala crescente de tensão entre paciente e terapeuta, a atriz vê essa situação aflitiva para o Paciente 63, especialmente com ele se empenhando em mostrar que sabe algo desconhecido pelos outros, e sua luta para convencer todos sobre o que é verdade. Por outro lado, explica Mel, sua personagem tenta, a todo custo, convencê-lo de que ele está em surto. “Essa relação entre os dois, quase de movimento oposto, gera um conflito desde os primeiros minutos do primeiro episódio que, de certa forma, mexe com a gente.” Segundo o Paciente 63 – que, na verdade, se chama Pedro Roiter –, ele vem do ano de 2062, quando o mundo passa por uma terrível transformação, desencadeada por um vírus altamente letal. Nesse tempo futuro, o planeta não será mais o mesmo, pois, entre as consequências acarretadas pelas mudanças, está o fato de não existir mais tecnologia, tudo parou. Seria um mundo desconectado. Sua missão, ao voltar para o passado, como ele afirma, é impedir que o mundo acabe. Para isso, precisa evitar uma determinada situação, mas ninguém acredita em suas afirmações. “Ao ouvir a história, você se coloca no lugar dos dois personagens, o que é interessante, pois, de certa forma, o ouvinte – ao menos aconteceu comigo – se põe no lugar daquele homem e entende o quão desesperadora seria essa situação, assim como a dela”, diz a atriz sobre os questionamentos que vão surgindo com o decorrer da história. “Ouvindo essas informações, que começam a ficar cada vez mais críveis, e cada vez mais balançam suas estruturas e certezas, ela começa a duvidar de muita coisa, o que faz com que esse conflito fique muito interessante.” Como toda história que trata de viagem no tempo, desperta a curiosidade: se isso fosse possível, o que você gostaria de alterar ou fazer? Seu Jorge é categórico em dizer que não mudaria nada, mas poderia aproveitar para ver algumas coisas que não viu. “Gostaria de ter ouvido Michael Jackson gravando Billie Jean no estúdio”, diz, rindo, o ator, acrescentando que seria bem interessante “ver como que foi o descobrimento do Brasil, por exemplo, ou ver Cabral chegando (risos) e como os indígenas o receberam”, diverte-se. Já Mel Lisboa encara a questão como sendo filosófica, o que propicia várias reflexões. “Todos os dias a gente é obrigada a fazer escolhas, que inevitavelmente vão acarretar consequências, por isso é uma reflexão superfilosófica”, acrescenta a atriz.
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