Dinheiro, poder e família: ‘A Casa de Moda’ pode ser a versão francesa de ‘Succession’

Nova série do Apple TV+ explora o mundo da moda por meio de grifes rivais, unidas por laços familiares; ‘Estadão’ conversou com o elenco

PUBLICIDADE

Foto do author Flávio Pinto

Dinheiro e poder podem tanto elevar pessoas ao topo quanto destruí-las. E a situação se complica ainda mais quando a família entra nessa equação. Essa é a premissa central de A Casa de Moda, nova série do Apple TV+ que estreia nesta sexta-feira, 20, na plataforma de streaming.

PUBLICIDADE

Pegando uma coisa ou outra emprestada de Succession, da HBO, que explora a queda da elite, a nova série desenvolvida por Alex Berger (Asterix e Obelix: Missão Cleópatra) e escrita por José Caltagirone (Osmosis) e Valentine Milville (Speakerine), se passa em duas casas de luxo da alta costura parisiense, ligadas por laços familiares.

A primeira delas é a Maison Ledu, uma renomada casa de moda fundada pela família que lhe dá o nome e atualmente liderada por Vincent, interpretado por Lambert Wilson (Matrix). Brilhante e perspicaz, Vincent é um estilista respeitado e chefe da família que comanda as criações de alta costura da marca.

Amira Casar e Lambert Wilson em 'A Casa de Moda', que estreia em 20 de setembro de 2024 na Apple TV+. Foto: Apple TV+/Divulgação

Apesar de seu talento, ele possui uma personalidade cínica, cruel e egoísta, à semelhança de outros anti-heróis da televisão contemporânea, como Walter White de Breaking Bad e Don Draper de Mad Men.

Logo no primeiro episódio, vemos o começo de sua queda quando ele é filmado fazendo comentários racistas nos bastidores de um evento de moda. O vídeo rapidamente se torna viral, resultando no “cancelamento” tanto dele quanto da Maison Ledu. Mas como começar a jornada de redenção para um personagem tão tirano e problemático?

Publicidade

“Acho que Vincent incorpora um pouco de tudo. Às vezes, ele pode até ser um herói cômico com seu senso de humor. Ele é definitivamente um personagem trágico, como um rei deposto enfrentando a dor do envelhecimento e da perda de poder”, revela Vincent Lambert em entrevista ao Estadão. “Ele passa por mudanças significativas ao longo da história.”

Para tentar salvar a Maison Ledu, Perle Foster (Amira Casar, de Me Chame Pelo Seu Nome), ex-musa de Vincent, decide que ele precisa se unir a uma nova estilista para se reinventar. Ela encontra, então, a jovem designer ambientalista Paloma Castel (Zita Hanrot, de Paul Sanchez Está de Volta). O que se desenrola a seguir é um conflito geracional entre dois indivíduos com visões de mundo completamente diferentes.

Zita Hanrot (Perle Foster) e Amira Casar (Perle Foster) em 'A Casa de Moda', da Apple TV+. Foto: Apple TV+/Divulgação

“No início, quando Paloma chega, a situação é bastante complicada, pois a Maison Ledu é excepcionalmente cruel com ela. Ela inicialmente detesta tudo o que Vincent representa,” detalha Hanrot. “Ela o vê como um ‘dinossauro’. No entanto, à medida que começa a entender a realidade da Maison Ledu e as dificuldades enfrentadas por Vincent, Paloma passa a enxergar as semelhanças entre sua própria posição e a dele, reconhecendo tanto os privilégios quanto os desafios.”

“Além do ‘cancelamento’, há outros aspectos que ajudam a redimi-lo, como o envelhecimento, o desafio de se adaptar ao mundo moderno e às novas formas de comunicação, como as redes sociais — algo com o qual pessoas da minha geração frequentemente enfrentam dificuldades”, acrescenta Lambert, que completou 66 anos em agosto.

Assuntos de família

Outro fator que inquieta o magnata da moda é o fato de que seus passos estão sendo monitorados pela segunda família da série: os Rovel. Rivais da Maison Ledu, os Rovel são liderados por Diane Rovel (Carole Bouquet, de 007 - Somente Para Seus Olhos), uma empresária obcecada por poder, e seu irmão, Victor Ledu (Pierre Deladonchamps, de Um Estranho no Lago), que se encontra dividido entre as duas famílias. Em busca da dominação total do mercado fashion, os Rovel veem na queda da Maison Ledu uma oportunidade para adquirir a marca.

Publicidade

Para Deladonchamps, as apostas nessa disputa de poderes são ainda maiores para seu personagem, Victor, que busca sucesso enquanto anseia ser aceito novamente pela própria família. “Foi muito interessante explorar esses dois mundos, quase como um camaleão”, afirma. “Victor tenta encontrar seu lugar após ter sido expulso da família Ledu e, ao mesmo tempo, é acolhido por Diane. Ele está em uma constante luta para conquistar seu espaço no poder e na sucessão dentro do clã Rovel”, explica.

Pierre Deladonchamps em 'A Casa de Moda'. Ele vive Victor Ledu na série do Apple TV+. Foto: Apple TV+/Divulgação

PUBLICIDADE

Quem adiciona ainda mais complexidade à dinâmica familiar dos Ledu é Robinson, interpretado por Antoine Reinartz (Anatomia de uma Queda). Sobrinho de Vincent, Robinson é visto como a ovelha negra da família. “É muito difícil para ele construir sua própria identidade e entender seu valor, especialmente quando alcança algo notável. Robinson luta com as expectativas que lhe são impostas e sente que não pode se dar ao luxo de falhar”, explica o ator.

Apesar do luxo e dos privilégios, o que pode fazer de A Casa de Moda um sucesso é sua capacidade de ressoar com o público por meio das complexas relações familiares que explora. “Há algo universal na dinâmica familiar. Quando as coisas não vão bem, a tentação de se afastar completamente é grande. Mas como podemos promover mudanças sem romper todos os laços?”, questiona Reinartz.

“Todos podem se identificar com essas dinâmicas, pois são universais”, afirma Hanrot. “Estamos todos tentando encontrar nosso lugar, e esses papéis estão sempre mudando. Um dia, você é a criança; no dia seguinte, é o pai ou a mãe, e assim por diante. É realmente difícil descobrir onde você se encaixa, porque você não pode mudar a forma como sua família te vê.”

Moda e ‘Succession’

Para dar vida a uma série ambientada no mundo da alta costura, foi preciso um verdadeiro exército de roupas de grife. Sob o comando da designer de figurinos Carine Sarfati (Até a Eternidade), a equipe não apenas vestiu o elenco e os figurantes, mas também criou roupas, sapatos e acessórios exclusivos para três marcas de luxo distintas – algo que o elenco adorou.

Publicidade

“Tive a oportunidade de usar peças incríveis de designers como Dries Van Noten, Vivienne Westwood e Jean Paul Gaultier—roupas verdadeiramente deslumbrantes”, elenca Hanrot. “Todos nós fomos tentados a levar algumas delas, mas, infelizmente, não nos deixaram ficar com nada, dizendo: ‘Podemos precisar delas novamente!’”

“Eles não nos forneceram nenhuma roupa. Disseram: ‘Podemos precisar delas para a segunda temporada’, e nós pensamos: ‘Estamos lidando com a indústria da moda—eles nunca vão usar o mesmo vestido dois anos depois!’”, brinca Reinartz.

Quanto ao futuro da série, ainda não há definições claras. Ela pode ser recebida com entusiasmo ou críticas pelo público. No entanto, é certo que muitos espectadores a compararão com Succession, da HBO, devido aos temas de família, poder e dinheiro. Para o elenco, no entanto, isso não é um problema.

“Cada episódio de Succession é uma obra-prima, então a comparação é realmente lisonjeira. Assim como Friends marcou a história, Succession também deixou uma impressão duradoura, e nós adoramos isso. Portanto, essa comparação é algo que nos deixa felizes”, afirma Reinartz.

Publicidade

“Embora Succession seja incrível e ambas as séries tratem de temas semelhantes, a nossa é mais fantasiosa por se passar no mundo da moda, o que nos permite explorar criativamente trajes e penteados,” diz Hanrot. “Nossos roteiristas se inspiraram em Succession, mas também nos filmes de Almodóvar, adicionando humor e um toque artístico”, finaliza.

O elenco de A Casa de Moda também inclui César Anne Consigny (Elle), Florence Loiret Caille (Os Jovens Amantes) e Ji-Min Park (Retorno a Seoul). Com 10 episódios, a série original estreia mundialmente nesta sexta-feira, 20, no Apple TV+. Os dois primeiros episódios serão lançados nesse dia, e um novo episódio será disponibilizado a cada semana até 15 de novembro.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.