Documentários musicais: quais são os melhores em streaming, e como separar o bom do chapa-branca

Veja opções para assistir e descobrir os bastidores da vida e trajetória de músicos e de um festival que marcaram a história

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Por André Barcinski
Atualização:

O documentário musical está em alta. Basta passar os olhos pelos catálogos das maiores plataformas de streaming para perceber a grande quantidade de filmes e séries documentais que tratam de música.

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De grupos de rap como Racionais a boy bands como Menudo, de divas como Tina Turner e Donna Summer a ídolos que tiveram fins trágicos e inesperados, como Chorão e Kurt Cobain, há filmes e séries para todos os gostos musicais. Com a popularização de docs musicais, surgiu também uma leva de filmes absolutamente chapa-branca, geralmente produzidos pelos próprios artistas.

Produções recentes sobre Lady Gaga e o DJ Steve Aoki são exemplos de “documentários” que mais parecem releases de imprensa, de tão coniventes e laudatórios aos retratados. Uma das marcas de um bom documentário é manter a integridade jornalística das informações mostradas, sem deturpar a realidade.

Aqui vai uma lista, sem ordem de preferência, de cinco ótimos trabalhos documentais sobre o universo da música.

Palco do "Festival de Águas Claras", tema do documentário "O Barato de Iacanga" Foto: Reprodução de Vídeo/YouTube/@bigbonsai

O Barato de Iacanga (Netflix)

Muito antes do Rock in Rio e dos megafestivais corporativos de ingressos custando meio salário mínimo, o Brasil, em plena ditadura militar, teve a sua versão de Woodstock: o Festival de Águas Claras. Esse emocionante documentário de Thiago Mattar conta a história de Antonio Checchin Junior, o Leivinha, que realizou, na cidade de Iacanga, interior de São Paulo, quatro edições do festival, entre 1975 e 1984.

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Mais que um evento musical, Águas Claras foi um marco da contracultura brasileira, um evento alternativo e independente, realizado num país careta e onde o rock e os jovens eram perseguidos. As imagens de arquivo são lindas: milhares de pessoas dançam e se divertem ao som de Luiz Gonzaga, Gilberto Gil, de bandas desconhecidas e, no mais improvável momento, fazem silêncio para reverenciar João Gilberto, num encontro memorável entre os hippies e a bossa nova.

Whatever Happened, Miss Simone? (Netflix)

Nina Simone (1933-2003) teve uma vida e tanto. Nascida Eunice Waymon numa família pobre de oito irmãos na Carolina do Norte, Estados Unidos, sonhava em ser pianista clássica, mas acabou em bares de jazz, cantando a melancolia de amores fracassados. Cantando ao piano, forjou um estilo próprio, marcante e inimitável. Estava à beira do sucesso comercial quando, nos anos 1960, deu uma guinada política em sua música e radicalizou seu som.

Passou a cantar sobre o racismo e a América segregada e pagou por isso, com turnês canceladas e dificuldade de conseguir bons contratos com gravadoras. Mas fez os discos que queria e marcou a música mundial. A independência de Nina teve seu preço: ela terminou a carreira falida e com sérios problemas com álcool e drogas.

Esse documentário, dirigido pela talentosa Liz Garbus, foi produzido com ajuda da família de Simone e, talvez por isso, evite revelações mais dramáticas e tristes sobre o fim da vida da cantora, mas vale pela história incrível dela e para rever suas performances memoráveis.

Elvis Presley – O Rei do Rock (HBO Max)

O que mais resta dizer sobre Elvis Presley? Existe algo sobre ele que ainda não sabemos? Mesmo que você conheça todos os detalhes da vida dele, de como levou o rock’n’roll às massas, revolucionou a cultura pop e morreu dramaticamente, é impossível não se surpreender com esse documentário de 3h35, dividido em duas partes. E a principal razão é a impressionante qualidade do material de arquivo.

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Todo o filme é composto de cenas de entrevistas, shows, turnês, fotos, filmes caseiros, imagens de bastidores de turnês e gravações, exibidas sobre depoimentos gravados de artistas como Tom Petty, Bruce Springsteen e Emmylou Harris. O resultado é hipnotizante. Dirigido por Thom Zinny, que trabalha há anos com Bruce Sprinsgteen, o filme é uma aula de pesquisa e montagem.

20 Feet From Stardom (Amazon Prime)

Vencedor do Oscar de Melhor Documentário de 2013, 20 Feet From Stardom conta a fascinante história das cantoras de coral que, anônimas, ajudaram a fazer o sucesso de incontáveis canções. São intérpretes como Lisa Fischer, Judith Hill, Darlene Love, Merry Clayton e Tata Vega, que podem ser desconhecidas do grande público, mas emprestaram suas vozes a sucessos de boa parte da música pop dos últimos 50 anos, de Michael Jackson a Celine Dion, de Bee Gees a Bruce Springsteen, de Rolling Stones a Mariah Carey.

Os astros fazem fila para dar depoimentos no filme: Elton John, Sting, Bruce Springsteen, Bette Midler, Mick Jagger, Gloria Jones e Stevie Wonder, entre muitos outros, contam como as vozes dessas cantoras ajudaram a abrilhantar suas canções. Divertido demais.

O Canto Livre de Nara Leão (Globoplay)

Num país com tão pouca memória histórica e com uma lamentável falta de qualidade de arquivos, é uma felicidade ver uma série documental em cinco episódios sobre uma artista importante de nossa música que não pareça repetitiva. O Canto Livre de Nara Leão, dirigida por Renato Terra, usa o inteligente artifício de dedicar cada episódio a uma faceta diferente da vida e carreira de Nara Leão.

O resultado é um trabalho revelador que mostra como Nara foi muito mais do que apenas a musa da bossa nova. É muito interessante perceber o despertar político da cantora e como ela trouxe à sua música uma preocupação social que fugia do estereótipo escapista e um tanto alienado que muitos associavam à bossa nova.

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