Em ‘A Diplomata’, nova série da Netflix, Keri Russell mostra seu lado boazinha

Depois de intepretar Elizabeth Jennings em ‘The Americans’ por seis temporadas, a estrela de ‘Felicity’ encarna mais um desafio

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Por Alexis Soloski
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THE NEW YORK TIMES - A atriz Keri Russell parou num canto do Brooklyn Bridge Park para admirar um passarinho. Já era primavera nessa quinta-feira de semanas atrás, mas o clima tinha outras ideias, e Russell, numa plumagem discreta, enfrentava o vento com botas grossas e jaqueta preta. Cabelos despenteados, delineador ainda nos olhos, possivelmente uma lembrança das muitas margaritas da noite anterior com os amigos. Ela não se parecia muito com uma mulher que dedicou anos da vida a minar o projeto democrático americano. Muito menos com uma mulher agora encarregada de protegê-lo.

Mas Russell tem sido essas duas mulheres (e muitas outras). Neste ponto da carreira, ela provavelmente é mais conhecida por suas seis temporadas no drama FX The Americans como Elizabeth Jennings, uma agente soviética com uma ambiciosa coleção de artimanhas e perucas que rendeu a Russell três indicações ao Emmy. Agora, Russell assumiu um papel oposto: em A Diplomata, série da Netflix que estreia nesta quinta-feira, 20, ela interpreta Kate Wyler, uma experiente funcionária pública dos Estados Unidos encarregada de defender a reputação da América no exterior.

Keri Russell como Kate Wyler em uma cena de 'A Diplomata'. Foto: Netflix/AP

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Embaixadora veterana, Kate está prestes a assumir um cargo em Cabul, no Afeganistão, quando um incidente internacional a leva a Londres com o marido, Hal (Rufus Sewell). Uma mansão inglesa não é uma zona de guerra, mas não é assim que Kate se comporta. Armada em saltos altos e vestidos elegantes, ela trata até mesmo conversas educadas como manobras no campo de batalha. Mas, diferente de The Americans, o trabalho de Kate é quase totalmente às claras. Ela não usa perucas.

Enquanto alguns gansos passavam por perto, Russell considerou as disparidades entre os dois papéis. “Foi divertido ser vilã, fazer coisas sorrateiras”, disse ela. Mas A Diplomata também tem seus prazeres, ela insistiu. “É incrível ser inteligente e capaz, estar sempre mais bem-vestida que todo mundo e ser firme”, disse ela.

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Se Elizabeth é vilã, isso faz de Kate a mocinha? Russell abriu um sorriso cauteloso. “Vamos ver”, disse ela.

Carreira

Russell começou a carreira ainda adolescente como dançarina no programa infantil The Mickey Mouse Club e depois estrelou em Felicity como estudante universitária caprichosa e santa padroeira das garotas indecisas do mundo todo. Ela não necessariamente esperava passar o meio da carreira interpretando mulheres hipercompetentes, ao mesmo tempo em que mostra a incerteza por baixo dessa competência. Além de interpretar Elizabeth e Kate, ela também apareceu recentemente como uma mãe indomável na comédia de terror O Urso do Pó Branco e como uma assassina bacana, embora não especialmente eficaz, na série Extrapolações.

Felicity não teria se destacado nem na espionagem nem na diplomacia de alto risco. “Felicity talvez escrevesse um poema a respeito”, disse Russell. Mas isso foi vinte anos atrás. Russell, que pessoalmente é franca, descomplicada, charmosa e tão sincera que incentiva uma sinceridade semelhante nas outras pessoas, cresceu. Desde então, ela se tornou mãe. Tem dois filhos com o ex-marido, Shane Deary, e um filho pequeno com o companheiro atual, Matthew Rhys, que estrela ao seu lado em The Americans.

“As mães são assim!” ela disse sobre suas personagens mais recentes. “Você faz acontecer. As mães conseguem fazer trinta e sete coisas no mesmo dia!”

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Russell vem a este parque, perto da casa que divide com Rhys e os filhos, nas raras ocasiões em que tem uma manhã só para ela. Às vezes, antes que alguém acorde, ela anda de bicicleta pelos caminhos do parque. “É um lugar bonito e movimentado”, disse ela, apontando para o rinque de patinação, as quadras de basquete, o gramado, a indelével vista de Manhattan do outro lado do East River.

No último ano, essas manhãs foram mais raras. Foi durante o Natal de 2021, quando Russell se ofereceu para preparar o jantar para os três casais de avós das crianças, que ela recebeu os roteiros de A Diplomata. Com Rhys já ausente por parte do ano filmando o sombrio revival de Perry Mason para a HBO - “Eu já o estava punindo com culpa por não estar em casa”, disse - ela não estava procurando outro papel principal.

Ainda assim, algo na ambição e inteligência de Kate, bem como o humor de suas brigas conjugais com Hal, a atraíram para o papel. Ela concordou em fazer uma videochamada com a criadora da série, Debora Cahn, veterana de Homeland e The West Wing.

O caminho até Kate

Cahn queria Russell para o papel, confiando que Kate se beneficiaria da beleza, da graça e da capacidade de Russell de transmitir emoções, mesmo em personagens que controlam e reprimem os sentimentos. Mas Kate era uma proposta mais neurótica do que os personagens anteriores de Russell: linda o suficiente para ser capa da Vogue, mas também suada, estranha, com muita angústia por trás do equilíbrio.

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“Tem uma parte de Kate que está sempre se coçando e se contorcendo e desconfortável na própria pele”, disse Cahn numa recente entrevista por telefone.

Russell é uma mulher muito mais equilibrada, Cahn admitiu, mas ela sabia que Russell também é uma atriz talentosa. Ela conseguiria expressar esse desconforto. E, ainda assim, enquanto observava Russell se contorcer durante a videochamada, ela descobriu que o desconforto também fazia parte do pacote de Russell.

Keri Russell ao lado de Rufus Sewell, que intepreta o embaixador Hal Wyler em 'A Diplomata'. Foto: Netflix

“Fico muito nervosa”, confirmou Russell no parque. “E realmente suo muito” (Ela não parecia estar suando, embora estivesse bastante frio.)

Se Kate é uma criatura ambiciosa, Russell sempre encarou o trabalho com mais leveza, mesmo quando se esforça para dar performances vívidas e comprometidas.

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“Quando estou lá, trabalho muito”, disse. “Quero ser boa”. Mas fez uma distinção entre ela e Rhys, embora eles assumam muitos dos mesmos projetos. (Ele também está em Extrapolações e O Urso do Pó Branco.)

“Ele gosta de estar ocupado”, disse ela. “Eu gosto de nunca estar ocupada. Gosto de me distrair e passear pelo parque”.

Ela estava perto do rio agora. O sol deixava a água dourada. Patos vieram perto. Ao contrário de Kate, hoje ninguém precisava dela para salvar o mundo ou para suar nas roupas enquanto neutralizava uma nova crise. A hipercompetência podia esperar. Ela só precisava encontrar o caminho de volta pelo parque e mandar uma mensagem para Rhys para ver se ele poderia encontrá-la num restaurante italiano na vizinhança. Entre as 37 coisas, só havia tempo para uma cervejinha antes de buscar as crianças na escola. /TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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