A greve dos roteiristas americanos completou uma semana e já ameaça afetar algumas produções americanas. Organizada pelo Sindicado de Roteiristas da América (WGA), a greve foi deflagrada após tentativas de acordo entre os estúdios e os trabalhadores para um aumento nos salários, que não deu certo.
Essa não é a primeira vez que os profissionais paralisam suas atividades. Algo semelhante aconteceu em 2007. De lá para cá muita coisa mudou na indústria, incluindo o surgimento do streaming. Naquela época, algumas produções foram diretamente afetadas como o sucessos Breaking Bad, que precisou cortar episódios e mudar o desenvolvimento de alguns personagens.
Agora, a greve já fez uma baixa: a interrupção da produção da quinta e última temporada de Stranger Things. O anúncio foi feito pelos irmãos Duffer, Matt e Ross, co-criadores da série. “Embora estejamos ansiosos para iniciar a produção com nosso incrível elenco e equipe, não é possível durante esta greve”, afirmaram os escritores em uma publicação no Twitter.
Além de Stranger Things, séries como Abbott Elementary e Yellowjackets, que também já estavam em processo de produção, tiveram que ser paralisadas. Isso pode afetar a quantidade de episódios na temporada que ainda vai ao ar.
A série Billions, que também se prepara para sua última temporada, foi outra que teve as atividades paralisadas. Outra produção afetada será Cobra Kai, da Netflix. Jon Hurwitz, um dos criadores, disse em uma publicação no Twitter, que não tinha roteirista no set da produção. E acrescentou: “Estes não são momentos divertidos, mas infelizmente são necessários. No momento em que um acordo justo estiver em vigor, voltaremos.”
George R.R. Martin, escritor dos livros da série Game of Thrones, publicou em seu blog, no domingo, 7, que a produção do spin-off da série A Knight of the Seven Kingdom (O Cavaleiro dos Sete Reinos — Histórias do Mundo de Gelo e Fogo) também está interrompida. “Quanto tempo vai durar a greve? Nenhuma ideia. Talvez os membros da Aliança dos Produtores de Cinema e de Televisão caiam em si amanhã e ofereçam algumas concessões significativas, e a coisa toda pode ser encerrada na próxima semana. Mas eu não apostaria nisso. Passei por várias delas desde que comecei a escrever para televisão e cinema em 1986. A greve de 1988, a primeira da qual participei, durou 22 semanas, a mais longa da história de Hollywood. A greve de 2007-2008, a mais recente, durou 100 dias. Esta pode durar mais”, escreveu o autor.
No cinema, a greve fez com que a Marvel decidisse fazer uma pausa na produção da nova versão de Blade. O novo filme do caçador de vampiros será protagonizado pelo ator americano Mahershala Ali (Green Book: O Guia). De acordo com o o Hollywood Reporter, elenco e equipe foram informados de que as filmagens serão interrompidas, e que só retornarão ao fim da greve.
Algumas produções, no entanto, não chegaram a parar. O Senhor dos Anéis: Anéis de Poder deve ter sua produção mantida, segundo a Variety. Porém, Amazon Prime Video diz que não usará os serviços dos produtores executivos JD Payne e Patrick McKay, já que os dois estão apoiando a greve.
A paralisação também trouxe impactos aos programas de TV semanais, como os talk-shows The Late Show with Stephen Colbert, The Tonight Show Starring Jimmy Fallon e Late Night with Seth Meyers, que não apresentarão novas gravações e vão reprisar programas antigos enquanto durar a greve. O humorístico Saturday Night Live também teve sua produção afetada e, assim como os demais, deve recorrer a reprises. O fato de serem semanais dificulta ainda mais a manutenção das atividades.
O que grevistas reivindicam?
Os roteiristas reclamam da falta de reajuste salarial em relação à inflação e pedem aumento. Além disso, se queixam da encomenda de seriados mais curtos, de serem contratados por projetos e de, em seguida, serem dispensados antes mesmo dos seus trabalhos serem aprovados para ir ao ar.
Outra reivindicação é um recebimento maio de lucros gerados pelas transmissões das produções no streaming. Segundo eles, faltam pagamentos aos envolvidos nas produções pelas reprises. Outra luta dos trabalhadores é a regulação do uso de Inteligência Artificial em produções.
A última greve, em 2007, durou 100 dias.
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