PUBLICIDADE

Lisa Kudrow traz seu charme destrambelhado para ‘Os Bandidos do Tempo’: ‘Pura fantasia’

A atriz de 60 anos diz que a nova série, inspirada por filme de 1981 e disponível no Apple TV+, é diferente de tudo que já fez e relembra seus principais trabalhos, incluindo ‘Friends’: ‘A Phoebe tem muito de mim’

PUBLICIDADE

Por Esther Zuckerman (The New York Times)

Lisa Kudrow não gosta de viajar. Criada em Los Angeles, onde mora até hoje, ela nunca precisou viajar muito. Até mesmo Friends, comédia essencialmente nova-iorquina, foi filmada em Burbank.

PUBLICIDADE

“Eu gosto de Los Angeles”, ela disse numa videochamada de sua casa na cidade. “Acho legal tirar férias, mas sinto que moro num lugar de férias, então, para onde devo ir?”

Mas quando o cineasta Taika Waititi mandou uma mensagem no Instagram perguntando se ela viria para a Nova Zelândia para estrelar uma adaptação em série do filme homônimo de Terry Gilliam, de 1981, ela disse que sim. Era um compromisso de seis meses, mas em um dos poucos lugares na Terra que Kudrow sempre quis visitar.

E, como ela disse dando risada, “não era para fazer um filme do tipo Hobbit”.

Mas a Terra Média não fica muito longe de Os Bandidos do Tempo, uma aventura-fantasia em dez partes baseada num filme sobre anões que viajam no tempo. A série, que estreou no final de julho na Apple TV+, dá uma nova cara ao amado filme – uma tarefa ambiciosa, dada ao status cult do longa. O original foi escrito por Gilliam e Michael Palin, seu colega de Monty Python, e foi estrelado por John Cleese, Sean Connery, Shelley Duvall e Ian Holm.

Lisa Kudrow em 'Os Bandidos do Tempo', do AppleTV+. Foto: Matt Grace/AppleTV+

A nova versão, criada por Waititi e seus colaboradores frequentes Jemaine Clement e Iain Morris, traz Kudrow como Penelope, a líder improvisada dos bandidos, que se abala com a chegada de um novo membro, um garoto obcecado por história chamado Kevin (Kal-El Tuck) que acidentalmente se junta ao bando depois que um portal se abre no seu quarto. Waititi interpreta o aparentemente bondoso Ser Supremo, de quem os bandidos roubaram um mapa dos portais do tempo, e Clement faz o papel do vilão, que não consegue nem dizer o nome de seu inimigo cósmico sem engasgar de ódio.

Para quem ainda associa Kudrow, 60 anos, a seu papel mais famoso, a atrapalhada Phoebe Buffay de Friends, a nova série vê a atriz reprisar seus dotes cômicos bem afiados. Ela tem um talento especial para reações e falas inesperadas – e para brincar com estereótipos de garotas loiras do vale da Califórnia. (Ela cresceu no vale, em Tarzana). Suas personagens podem ser tão cortantes quanto peculiares. E tão memoráveis quanto Phoebe. Por exemplo: a tonta-mas-criativa Michele, de Romy e Michele, ou a ávida ex-estrela de sitcom Valerie Cherish, de The Comeback, da HBO.

Publicidade

Era esse legado de personagens indeléveis que a diretora Olivia Wilde tinha em mente quando procurou Kudrow para um papel na sua comédia de ensino médio Fora de Série (2019). Wilde disse que ficou honrada quando Kudrow disse sim.

“As pessoas ficam animadas para ver o que ela vai fazer, porque ela não precisa trabalhar, então, quando ela faz alguma coisa, parece que escolhe só as coisas mais interessantes”, disse Wilde.

Mas o gênero fantasia – fugir de perigos mortais, correr de monstros, pular em portais do espaço-tempo – era um território novo para Kudrow. E foi uma mudança bem-vinda. Quando Waititi entrou em contato para falar de Os Bandidos do Tempo, Kudrow estava procurando algo que fosse pura diversão.

Tadhg Murphy, Roger Jean Nsengiyumva, Lisa Kudrow, Kal-El Tuck, Kiera Thompson e Rune Temte em 'Os Bandidos do Tempo'.  Foto: Matt Grace/Apple TV+ via AP

A ansiedade da pandemia ainda estava no ar, e cada série que ela assistia parecia falar sobre algum tipo de fim do mundo.

PUBLICIDADE

“Era a última coisa que eu queria ver”, ela disse. Ela também não queria atuar em nada parecido. Os Bandidos do Tempo parecia se encaixar nesse perfil.

“É pura fantasia”, ela disse. “Não tem nem muito comentário social sobre nada”.

A Apple adquiriu os direitos em 2018 e Waititi assinou no ano seguinte. Mas Kudrow só subiu a bordo dois anos atrás, quando a série já estava em pré-produção. Naquela época, sua personagem ainda era um homem chamado Randall, em homenagem ao líder dos bandidos do filme, interpretado por David Rappaport. (Na versão de Gilliam, todos os bandidos eram interpretados por pessoas com nanismo; a mudança na composição do grupo enfrentou algumas críticas, sobretudo da neta de uma das estrelas originais).

Publicidade

Eles estavam com dificuldade de encontrar a pessoa certa para o papel, mesmo fazendo uma busca global. “Estávamos tentando fechar o elenco e meio que entramos em pânico”, disse Clement.

Os criadores conheciam Friends muito bem – Waititi certa vez usou uma camiseta “Smelly Cat” na frente de Kudrow – mas foi seu trabalho em The Comeback que os convenceu de que ela era a pessoa certa para o papel. Em The Comeback, Valerie está tão desesperada para recuperar a fama que concorda em fazer um reality show sobre sua vida. É uma performance brilhante sobre insegurança, exatamente o que a chefe dos bandidos precisava. Penelope é mestre em supercompensação.

“Nós dois achamos engraçada a ideia da Lisa – conhecendo o trabalho dela em The Comeback – como uma pessoa sempre frustrada”, disse Clement sobre si mesmo e Waititi. Eles adoraram “ver alguém assim tentando organizar assaltos com um bando de gente que não sabe fazer nada”.

“Tivemos sorte que ela veio e nos salvou e fez um ótimo trabalho”, ele acrescentou. “Agora é difícil imaginar outra pessoa no papel”.

O filme original estreou quando Kudrow estava chegando ao fim do ensino médio e, embora ela tenha achado engraçado na época, não era uma grande referência. Para ela, o apelo de se juntar à série era principalmente a chance de trabalhar com Clement, Morris e Waititi, cuja colaboração mais conhecida provavelmente é a comédia O Que Fazemos nas Sombras, da FX, sobre vampiros que moram juntos em Staten Island, baseada no filme de 2015 de Clement e Waititi.

No começo, Kudrow se perguntou como seu estilo se encaixaria no tom de Os Bandidos do Tempo.

“Eu faço o que faço”, ela disse. “Parecia uma coisa mais Monty Python. Será que consigo fazer isso uma coisa assim? Não sei se consigo”.

Publicidade

Mas ela não precisava se preocupar. Morris me disse que ela era uma “gênia da piada”. Clement disse que algumas de suas falas favoritas foram improvisadas por Kudrow, entre elas: “Bem, isso foi um imenso desperdício de viagem no tempo”.

Se alguns atores hesitam em deixar que seus primeiros papéis mais conhecidos os definam, Kudrow não se incomoda que os fãs ainda a associem a Phoebe. A personagem era resultado de suas sensibilidades cômicas, desenvolvidas com os Groundlings, uma trupe de improvisação de Los Angeles, e colhidas desde o começo de seu amor por Lucy e Ethel em I Love Lucy.

Lisa Kudrow em Beverly Hills, Califórnia. A atriz procurava algo leve e novo para ela quando aceitou participar de 'Os Bandidos do Tempo'. Foto: Amy Harrity/The New York Times

“O mais engraçado para mim é essa espécie de resmungo e reação exagerada a algumas coisas, então Phoebe tem muito de mim, de todo jeito”, ela disse.

Kudrow também aprecia o apego que as pessoas têm pelas sitcoms. Enquanto filmava Os Bandidos do Tempo, ela assistia a episódios de 30 Rock, Everybody Loves Raymond e The Big Bang Theory à noite. Depois da morte de Matthew Perry, seu colega de Friends, em outubro, ela começou a assistir a maratonas da série como um mecanismo de conforto, focando não tanto em si mesma, mas no resto do elenco.

“Tem ajudado muito”, ela disse.

Embora esteja assistindo a seu antigo programa um pouco menos nos últimos tempos, ela ainda deixa a TV ligada quando está passando e não tem ninguém em casa. Ela recentemente se pegou assistindo ao episódio em que Phoebe se casa, que ela nunca tinha visto antes.

“Ela estava com o sorriso mais genuinamente feliz no rosto”, disse Kudrow sobre Phoebe. “Tão inocente, tão esperançosa e tão feliz que me fez chorar. E me fez me sentir meio louca também”.

Publicidade

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.