Foi em fevereiro de 2024 que a HBO Max, plataforma de streaming da Warner Bros. Discovery, perdeu o HBO de seu nome e passou a se chamar apenas Max. A mudança, parte de um posicionamento global da companhia, não veio sem controvérsia, dada a força da marca que por anos tem sido sinônimo de alta qualidade televisiva - basta lembrar o slogan que consagrou o canal: “Não é TV, é HBO”.
O saldo, no entanto, tem sido positivo: no terceiro trimestre de 2024, o serviço registrou a chegada de 7 milhões de novos assinantes no mundo todo, em um crescimento maior do que o da Netflix no período, com 5 milhões.
A gigante de mídia não revela números específicos para o Brasil ou para a América Latina como um todo, mas o presidente da empresa na região, Fernando Medin, avalia o impacto da mudança como “muito positivo”.
Segundo o executivo, a troca de nome veio para abarcar as várias marcas da WBD, incluindo aí não só aquelas associadas a grandes franquias, como Harry Potter, mas também a produções de estilo de vida e voltadas ao público infantil – segmento no qual a companhia tem participação expressiva, visto que é proprietária dos canais Cartoon Network e Discovery Kids.
“Estávamos buscando uma plataforma que pudesse acomodar todas as marcas que a gente tem, e a marca HBO era um pouco mais limitada, um pouco mais associada ao público adulto”, explica, em conversa com o Estadão. “HBO não é um produto para o meu filho, mas Max é um produto para todos; dá para colocar programas de estilo de vida, de culinária, reality, competição… tudo isso entra, a marca acomoda.”
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Outra mudança bem-vinda foi nos aspectos técnicos da plataforma. Tanto a HBO Max como sua encarnação anterior, a HBO Go, sofriam com problemas técnicos, especialmente na transmissão de séries de grande demanda. Não era incomum encontrar relatos de quem não conseguisse assistir na hora a novos episódios de Game of Thrones, A Casa do Dragão e The Last of Us, por exemplo.
“A gente tinha como intenção número 1 trazer uma plataforma robusta, estável, uma plataforma amigável para o uso; esse era o objetivo técnico, e conseguimos”, diz Medin, citando o fato de que o aplicativo da Max chegou até a ser premiado pelo Google Play como melhor aplicativo em 2024.
Produções do Brasil para o mundo
O catálogo continua como prioridade da Max. “A gente cria conteúdo autoral diferenciado, dando os tempos necessários para cada propriedade”, afirma Medin. “Quando a gente entrega um produto, você vê claramente que esse não é um produto criado por ChatGPT. Não sei se outros [serviços] podem falar a mesma coisa.”
Nesse cenário, o conteúdo local também é visto com atenção pela WBD. De acordo com o executivo, há cerca de 60 produções em desenvolvimento só no Brasil, em segmentos diversos que vão das animações às novelas – no próximo dia 27, inclusive, a Max estreará seu primeiro folhetim original brasileiro: Beleza Fatal, estrelado por Giovanna Antonelli, Camila Pitanga e Camila Queiroz.
A expectativa da empresa é que a novela seja bem assistida não só no País, mas também no resto do mundo, contando que a tradição brasileira no gênero ajude a história a viajar para outros países, em movimento semelhante ao da nova versão da novela mexicana Como Água Para Chocolate.
“A gente pensa com essa cabeça e age com esse bolso, porque se eu tivesse que bancar essas produções unicamente com o que o Brasil pode pagar, aí fica complicado [entregar] o nível da qualidade que a gente espera. É isso que permite uma companhia que tem escala global fazer produções de excelente qualidade”, explica Medin. “A boa dramaturgia, que é autêntica, que eu vejo porque é tão diferente da minha vida, também atrai.”
Segundo o executivo, a WBD enxergou o potencial do gênero ao notar que o público jovem diz não acompanhar novelas, mas vê seriados “cuja dramaturgia é, em essência, uma novela”. O caminho, então, foi encontrar uma nova forma de levar o gênero ao streaming – daí veio, por exemplo, a duração de 40 capítulos da nova novela.
“Uma novela de 130 capítulos não parecia caber no streaming; agora, ter um número reduzido de episódios – que, ainda assim, é um investimento violento – com a possibilidade de ter outras temporadas parece estar mais alinhado com a lógica do meio”, diz Medin, afirmando que o investimento em Beleza Fatal e no remake de Dona Beja, ainda sem data de estreia, “é a maior aposta que já fizemos”.
2025 na Max
Para a Max, o ano recém-chegado deve ser, mais uma vez, marcado por grandes estreias: a plataforma lançará a aguardada segunda temporada de The Last of Us, estrelada por Pedro Pascal, e também O Cavaleiro dos Sete Reinos, nova série do universo Game of Thrones. O principal objetivo, porém, é que ela continue crescendo e chegue a mais assinantes, seja por meio da própria plataforma ou por meio de parceiros estratégicos, como o Mercado Livre e o Nubank – por meio dos quais a Max pode ser assinada.
“Essa é a nossa missão: levar o melhor conteúdo, mais relevante, com um mix de gêneros e de produções locais e, ao mesmo tempo, com a possibilidade de assinar na forma que você quiser”, diz Medin. “Seja em um pacote com banda larga e TV por assinatura, ou por uma plataforma de e-commerce. O objetivo é continuar crescendo de forma sólida e acelerada.”
Na ânsia de crescer na chamada guerra do streaming, concorrentes da Max têm restringido o compartilhamento de senhas – o ato de um usuário dividir a senha com uma pessoa que não necessariamente more na mesma residência que ele. Globalmente, a empresa já sinalizou que irá aderir à prática, mas não especificou quando isso irá acontecer. “A realidade do streaming está indo para essa direção, mas a gente não tem uma data certa nem pode afirmar se será em 2025″, diz Medin.