Em uma viagem a Nova York no início dos anos 1970, Robert Evans, ex-chefe da Paramount, descobriu um rato morto na cama de seu quarto de hotel. De acordo com a nova série da Paramount+ The Offer, esta não foi uma experiência de viagem infeliz que hoje resultaria em uma crítica mordaz no Yelp, mas um aviso da máfia.
O chefe do crime Joseph Colombo acreditava que o livro de Mario Puzo O Poderoso Chefão era um insulto aos ítalo-americanos e não queria que a Paramount o adaptasse para o cinema.
A cena é ao mesmo tempo horripilante e hilária quando Matthew Goode, que interpreta Evans, sai rapidamente da cidade depois de pedir ao produtor do filme, Al Ruddy (interpretado por Miles Teller), para fazer o que era certo.
O que é revelado nos 10 episódios de The Offer, que estreia em 28 de abril, é que a pressão da máfia foi apenas um dos muitos obstáculos que Ruddy, Evans e outros envolvidos enfrentaram para fazer o filme.
“Eu não conseguia acreditar em algumas das histórias”, disse Goode.
Patrick Gallo, que interpreta Puzo, acrescenta: “se você ama o filme, não vai acreditar no tipo de coisa que aconteceu quando ele foi feito”
Embora O Poderoso Chefão seja um exemplo extremo, Colin Hanks, que interpreta um dos executivos da então proprietária da Paramount, Gulf + Western, diz que The Offer mostra o quão difícil é fazer qualquer coisa em Hollywood.
“É uma série interessante para as pessoas que assistiram O Poderoso Chefão e amam O Poderoso Chefão porque obviamente vão conhecer os locais, os personagens, e haverá alguns insights sobre a criação do filme. Mas acho que mesmo que alguém não tenha visto O Poderoso Chefão é uma análise bastante interessante de como é difícil''
Também mostra como Hollywood pode ser inconstante.
“Conversei com cineastas realmente aclamados e reconhecidos que fizeram um filme incrível e depois presumiram que seriam capazes de fazer o que quisessem em seguida. E eles não puderam”, disse Teller. “Mesmo grandes estrelas de cinema, você ficaria surpreso com a rapidez com que o entusiasmo por elas desaparece se não estiverem saindo de um sucesso. E alguém me disse 'Neste negócio, ninguém se importa com o que você fez há dois anos.' Eu acho que ninguém se importa com o que você fez sete meses antes. É um campo de provas constante.''
The Offer pinta um retrato heroico de Ruddy, que foi firme ao proteger a visão criativa do diretor Francis Ford Coppola, mesmo sendo pressionado por todos os lados. A série descreve como Coppola queria desesperadamente escalar um então desconhecido ator off-Broadway chamado Al Pacino para o papel de Michael Corleone, para a consternação inicial de Evans e da Gulf + Western. Ele também achava Marlon Brando perfeito como Don Corleone, embora Brando fosse considerado pouco confiável na época. Ruddy persistiu e fez acontecer.
“Se ele acreditasse em alguém e se dissesse que te apoiava, ele mantinha a palavra. Ele foi assim até o fim'', disse Teller.
Ruddy foi o único produtor do filme - uma raridade na Hollywood de hoje, mas seu sistema de apoio incluía sua assistente Bettye McCartt, que estava ao seu lado a cada passo do caminho.
Juno Temple interpreta McCartt e chama de "uma das maiores honras" de sua carreira trazer a parceria de Ruddy e McCartt para a tela, um par que confiava um no outro implicitamente.
"Você sempre ouve, ‘Homens e mulheres não podem ser amigos’. Sim, eles podem. Eles podem ser melhores amigos e podem fazer coisas incríveis juntos."
Dan Fogler, que interpreta Coppola, diz que The Offer é um lembrete da genialidade do diretor, e ele adoraria ter seu selo de aprovação.
“Eu me pergunto o que ele vai pensar de tudo isso. Espero que ele nos dê sua bênção,” disse. (Deve-se dizer que Coppola rejeitou o projeto, dizendo à Variety em março que The Offer não corresponde à sua memória do que aconteceu.)
E Hollywood ainda não terminou essa história. Um filme em torno da montanha-russa para fazer O Poderoso Chefão, estrelado por Oscar Isaac e Jake Gyllenhaal, chamado Francis and the Godfather, também está em andamento. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES
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