THE WASHINGTON POST - Quando William Millsap soube que a Amazon passaria a exibir anúncios no serviço de streaming Prime Video, a menos que ele pagasse 2,99 dólares a mais por mês (cerca de R$ 14,71, na cotação atual), ele cancelou a assinatura.
Um espectador ocasional de televisão, Millsap já tem acesso a Netflix, Hulu (não disponível no Brasil) e HBO Max e diz que já passou muito tempo vendo os programas sem anúncios para voltar atrás agora. A empresa reembolsou a maior parte da taxa anual dele.
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“Estou apenas em uma fase da minha vida em que tento ser cuidadoso com o que faço, e interrupções constantes simplesmente me cansam”, diz Millsap, 66 anos, um padre episcopal aposentado de Reno, Nevada.
A Amazon começou a exibir os anúncios para todos os usuários do Prime Video (nos Estados Unidos) nesta segunda-feira, 29. Para alguns espectadores, esse é mais um sinal do fim de uma era para o streaming. Eles estão repensando por quantos serviços podem pagar e quantos anúncios estão dispostos a tolerar.
Durante anos, os serviços de streaming se distanciaram das armadilhas da televisão a cabo - contas altas, excesso de programas e canais de baixa qualidade, comerciais constantes. Além dos anúncios, o excesso de conteúdo está de volta, os “pacotes” com diferentes serviços estão se tornando padrão e pagar por todas as grandes opções facilmente rivaliza com o custo da TV a cabo.
A maioria dos principais aplicativos de streaming adotou os anúncios como outra forma de ganhar dinheiro. As empresas afirmam que as opções baseadas em anúncios são uma forma econômica de assistir, ao mesmo tempo em que aumentam os custos de suas assinaturas premium. O Apple TV+ é um dos poucos serviços de streaming que ainda não oferece anúncios de terceiros.
A abordagem da Amazon - fazer as pessoas pagarem mais para se livrarem dos anúncios - pode irritar os consumidores. (O fundador da Amazon, Jeff Bezos, é proprietário do The Washington Post).
“Eles não estão oferecendo nenhum valor adicional e estão simplesmente forçando os consumidores a usar anúncios”, diz Mike Proulx, diretor de pesquisa da Forrester. “Na verdade, os consumidores estão perdendo com essa mudança, e quem ganha com isso é a Amazon”.
Isso é parte do que desagradou Millsap, o ex-assinante do Prime. “Acho que o pior modelo de negócios é quando prometemos algo e mudamos os termos, e é isso que parece que a Amazon fez”, disse ele.
Em um post de blog anunciando a mudança, a Amazon disse que estava fazendo isso para “continuar investindo em conteúdo atraente e continuar aumentando esse investimento por um longo período de tempo”.
Fazer uma boa televisão custa dinheiro. Além de temporadas completas de programas clássicos e realitys e documentários, as empresas de streaming precisam de um punhado de sucessos de grande orçamento para manter os espectadores.
A primeira temporada de A Casa do Dragão, da HBO, custou à empresa menos de 20 milhões de dólares (R$ 98,4 milhões) por episódio para ser produzida, segundo a revista Variety. O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, do Prime, teve um custo estimado de 465 milhões de dólares (R$ 2,28 bilhões) somente para a primeira temporada, de acordo com o Hollywood Reporter.
Para cobrir os custos, as empresas de streaming têm mexido nas taxas de assinatura e em outras alterações. Quase todos os serviços aumentaram as taxas de streaming sem anúncios recentemente. Em maio passado, a Netflix começou a reprimir o compartilhamento de contas para transformar em receita parte dos cerca de 100 milhões de pessoas que assistem sem pagar. Espera-se que outras empresas sigam o exemplo.
“Com exceção da Netflix, a maioria das outras grandes plataformas de streaming ainda não são lucrativas”, diz Proulx. “Elas são forçadas a buscar outros fluxos de receita e a publicidade é um negócio de longa data dentro do entretenimento. Isso foi comprovado e demonstrou-se que funciona”.
Não se trata apenas de streaming. Os anúncios estão voltando a aparecer em outros produtos de tecnologia que não começaram dessa forma. Uber está usando o aplicativo para exibir anúncios para as pessoas que esperam ou andam nos carros.
O lançamento do TikTok Shop pelo TikTok deu ao aplicativo uma sensação de shopping center com uma guia dedicada à venda de produtos aleatórios e vídeos de pessoas vendendo coisas elas mesmas, com resultados preocupantes. Até mesmo o assistente de voz Alexa da Amazon inclui anúncios.
Alguns espectadores de streaming se queixam da qualidade dos anúncios e do pouco que eles mudaram desde a TV a cabo. As plataformas de streaming podem ter menos anúncios e, por isso, repetem os mesmos - e o momento em que são exibidos, especialmente em filmes, pode parecer aleatório e incômodo.
Proulx diz que o setor de anúncios em streaming é jovem e provavelmente terá que encontrar mais maneiras de inovar, como as propagandas estáticas que aparecem quando você pausa um programa.
Há uma diferença entre a abordagem de anúncios do streaming e da TV tradicional. Por enquanto, o Prime não exibirá anúncios em perfis de crianças ou em conteúdo infantil, diz a Amazon. A Netflix também mantém os anúncios fora dos perfis infantis.
Luis Kapel e Sandra G. Bell pagam um preço mais alto por todos os serviços de streaming deles para evitar anúncios. O casal diz que se livrou da TV a cabo em 2016, em parte porque estavam cansados de assistir ao alto volume de anúncios que não os atraíam.
“Há anunciantes que acham que podem voltar aos métodos do passado para aumentar os lucros, pois não conseguem inovar em produtos e serviços que aumentem a demanda”, disse Luis Kapel em um e-mail. “E há serviços de streaming que decidiram que a satisfação do assinante não conta, mas que bilhões de dólares em publicidade aumentarão o resultado final”.
Eles decidiram manter a assinatura do Amazon Prime e pagar os 2,99 dólares extras por mês para não ver nenhum anúncio. Eles acham que o streaming não valeria a pena se tivessem que assistir aos comerciais novamente.
“Podemos encontrar coisas melhores para fazer com nosso tempo”, disse Kapel.
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