A Terra Média está em polvorosa. Tudo no universo de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder está mudando na segunda temporada, que terá episódios novos no Prime Vídeo a partir de 29 de agosto. Se em Game of Thrones o inverno era uma ameaça latente, sempre à espreita, no mundo criado por J.R.R. Tolkien o mal se concretiza com Sauron, criatura maligna desse universo que finalmente começa a ganhar mais espaço e a tomar forma.
“Agora estamos vendo os personagens evoluírem em circunstâncias extremamente novas”. contextualiza Benjamin Walker, o Alto Rei Gil-galad, em entrevista ao Estadão, durante sua passagem em São Paulo. “Temos anéis. O mal ressurgiu. Os elfos estão se movimentando. O rei está morto. Você teve perdas. E, assim que você começa a se concentrar na trajetória de onde estamos indo na Segunda Era, a série ganha vida, quer você goste ou não”.
É o caminho natural de uma série que, na primeira temporada, se preocupou mais em estabelecer seus princípios. Durante oito episódios, o espectador se deparou com um roteiro que caminhava aos poucos, preocupado em criar o ambiente e fazer com que os espectadores conheçam os personagens – muitos, aliás, criados apenas para a série, expandindo a mitologia de Tolkien e indo além do que vimos nos filmes de Peter Jackson.
“Na primeira temporada, você está entendendo seu personagem. Você está buscando esse personagem. Há uma ilusão de que você está criando o personagem. É isso que você faz como ator”, diz Ismael Cruz Cordova, o elfo Arondir. “Na segunda temporada, você precisa conversar com o personagem. É ele quem vai te dizer como abordá-lo. Ele viveu entre as temporadas. Coisas aconteceram. Você precisa sentar e dizer: vamos fazer uma atualização: ‘o que você tem feito?’. É uma experiência linda e um desafio interessante”.
Novos mundos, objetos e personagens
A primeira temporada já mostrou uma ousadia – necessária, vale destacar – de atualizar o mundo de Tolkien nos pontos que precisam ser modernizados. Há um elfo negro, por exemplo, vivido por Cruz Cordova. Não há registros disso nos escritos do autor sul-africano, mas a série não tem medo de ir além, como deve ser. Agora, explora ainda mais novidades, como anéis que não foram vistos antes e até mesmo o sempre enigmático deserto de Rhûn.
“Novidades como o deserto de Rhûn foram mencionados na obra de Tolkien. Agora, os showrunners foram realmente ótimos em expandir isso e ainda encontrar as locações que tragam a essência desses lugares”, diz a diretora Sanaa Hamri. “Ao ser convidada para dirigir episódios da segunda temporada, queria expandir o trabalho feito na primeira temporada e continuar a história, garantindo que os visuais tenham o mesmo impacto, além de apoiar os atores que estão lá desde o início. Não é um desafio. Considero uma honra”.
O fato é que mesmo expandindo a Terra Média, os atores confirmam que se voltam o tempo todo para o texto de Tolkien. Afinal, por mais que muitos assuntos, ambientes, objetos e personagens não estejam nos originais, a essência toda é encontrada ali. “Você retorna ao texto. Você retorna à densidade de Tolkien. Há muito para explorar lá”, explica Walker. Ou seja: por mais que haja muita novidade acontecendo, há uma busca em entender a obra.
“Cada desvio que tomamos é baseado nos fundamentos que conhecemos do mundo que ele criou. Então, permanece fiel a Tolkien”, continua Walker. “Mas é bom levar em conta que não tem como adaptar tudo ao pé da letra. Se fôssemos desenvolver até mesmo os apêndices palavra por palavra, levaria uma vida inteira para materializar a beleza densa que é sua escrita. Então, é natural que haja momentos em que você resume o texto e momentos em que você elabora. E se você permanecer dentro do vocabulário de Tolkien, está seguro”.
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E como ficam os fãs? Na primeira temporada, alguns reclamaram das mudanças e das licenças para mexer na obra de Tolkien – estavam acostumados com Peter Jackson e a sua busca por adaptações mais fiéis. Ismael Cruz Cordova, por exemplo, foi muito atacado por ser o elfo negro. Agora, os atores acreditam que esse preconceito começou a se dissolver.
“Essa reação até que é muito natural. Todos nós fazemos isso de certa forma. Você vai a um restaurante e pede o mesmo prato o tempo todo, e de repente eles mudam. E você reclama. Gravitar em direção à familiaridade, ao conforto e à nostalgia é um fio que atravessa a humanidade”, diz Cruz Cordova. “Enquanto as coisas permanecerem respeitosas, podemos todos ter um diálogo e desfrutar de personagens antigos e novos”.
Benjamin Walker, por fim, também se coloca no lugar dos fãs – e se entende nesse lugar. “Acho que todos concordamos que não somos nós e depois os fãs. Nós somos fãs. Sentimos a mesma pressão, o mesmo amor e a mesma responsabilidade para com Tolkien que eles gostariam que tivéssemos”, diz. “Espero que tenhamos conquistado aqueles que não conquistamos. E, com o tempo, acho que todos estaremos unidos como fãs de Tolkien”.
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