Quando pensou em Round 6, Hwang Dong-hyuk estava em um período financeiro complicado, logo depois do fracasso de seu primeiro longa. “Para mim, criar era uma questão de sobrevivência, de vida ou morte”, disse ele em entrevista com a participação do Estadão. Com isso na cabeça, ele desenvolveu a série sul-coreana em que desesperados por dinheiro entram em uma competição, descobrindo tarde demais que só o último sobrevivente leva o prêmio.
Leia tembém
É em circunstâncias bem diferentes que ele estreia, nesta quinta-feira, 26, a segunda temporada da série que virou febre no mundo inteiro e quebrou recordes na Netflix, alcançando 300 milhões de streamers desde seu lançamento em 2021. “Nunca imaginei que chegaria a esse ponto. Quem poderia prever algo assim?”, disse Hwang. Atenção: este texto tem spoilers da segunda temporada.
Na segunda temporada, que se passa três anos depois da primeira, Seong Gi-hun, ou Jogador 456, interpretado pelo vencedor do Emmy Lee Jung-jae, está de volta, com uma ideia fixa na cabeça: retornar ao jogo e destruí-lo por dentro. “Depois de se tornar o vencedor, Gi-hun não sabia o que fazer com sua vida. Ficou sem teto e não usou nada do prêmio em dinheiro”, disse Lee em entrevista ao Estadão. “Gi-hun reúne coragem para ir visitar sua filha, mas no caminho vê o Recrutador e sabe que não pode deixar aquilo acontecer novamente. Fica determinado a parar o jogo e levar as pessoas por trás à justiça.” É disso que tratam os novos episódios.
O ator, porém, não enxerga Gi-hun como um herói. “Para mim, ele é apenas um homem comum que reuniu muita coragem.”
Os sete novos episódios representaram um novo desafio para Lee Jung-jae. “Na primeira temporada, Gi-hun expressava seus sentimentos. Agora, eu precisava primeiro perceber e aceitar as emoções dos outros. Ele está determinado, quer salvar vidas e terminar com o jogo. Por isso, precisava esconder suas emoções. Foi mais difícil de fazer.”
Novos jogadores, o mesmo rival
Em sua segunda participação, Gi-hun encontra novos jogadores, inclusive um de seus melhores amigos, Park Jung-bae (Lee Seo-hwan), que aparecia brevemente na primeira temporada. “Para mim foi muito fácil interpretar o personagem”, disse Lee Seo-hwan. “Passei por alguns momentos difíceis na minha vida. Eu me perguntei o que faria se estivesse no lugar dele. Acho que teria aceitado o desafio e entrado no jogo também. Também tenho um amigo com quem perdi contato por cinco anos, assim como Jung-bae com Gi-hun. E depois de cinco anos ele me ligou do nada e disse que ia se casar. Fiquei muito bravo com ele, mas somos bons amigos agora. Não foi muito difícil para mim entrar no meu personagem. Eu apenas tentei ser eu mesmo, mostrar meu senso de solidão, de humor e o que penso sobre amizade.”
Outro personagem que volta com mais importância é o Frontman, o líder do jogo interpretado por Lee Byung-hun. “Na segunda temporada, você verá mais da pessoa Hwang In-ho sem máscara”, disse o ator ao Estadão. Inclusive, em mais de uma versão. “Em algumas cenas, todas as suas faces aparecem simultaneamente. Gostei muito disso como ator. Espero que, quando virem o Frontman na segunda temporada, os espectadores fiquem tensos e às vezes riam. Vai ser uma experiência intrigante.”
Entre as novas caras da série, estão a Jogadora 149 (Kang Ae-sim) e seu filho, o Jogador 007 (Yang Dong-geun), que só descobrem no jogo que ambos foram recrutados. “Imediatamente empatizei com minha personagem porque eu também sou mãe de um filho”, disse Kang. Jo Yu-ri vive a Jogadora 222, que conhece aqui de fora o Jogador 333 (Yim Si-wan), um rapaz ganancioso que perdeu tudo em um golpe de criptomoedas.
Novidades no jogo
Quem viu o trailer já sabe que “Batatinha frita” está de volta. Mas a segunda temporada surpreende com novos jogos infantis, igualmente mortais. A cada rodada, os jogadores têm a opção de votar se querem continuar no jogo ou não. Como na realidade, essas eleições têm enorme potencial de divisão.
“Uma coisa que estava na minha cabeça era o nosso mundo e como cada vez mais estamos divididos e hostis a quem está do outro lado. Há tantas coisas nos separando: raça, religião, língua, quem tem e quem não tem, gerações. E, nas eleições, a esquerda contra a direita, os conservadores contra os progressistas. Existe uma linha que praticamente não pode ser cruzada. Os líderes mundiais estão criando essas fronteiras e muros”, disse Hwang Dong-hyuk. “Durante a escrita da segunda temporada, eu fiquei pensando: Há esperança para nós? Há um futuro sem essas divisões e hostilidades? Se continuarmos no atual caminho, vamos precisar construir muros em cada canto do mundo. Eu criei os episódios pensando que eu não quero viver em uma sociedade assim.”
Gi-hun volta ao jogo para enfrentar as cabeças por trás do jogo cruel. Mas o roteirista e diretor Hwang Dong-hyuk disse que seu objetivo não era exatamente mostrar que esses sujeitos são maus nem se Gi-hun vai conseguir pará-los. “Ao longo da História, o mundo nunca mudou porque os poderosos se arrependeram. Queria colocar a pergunta: nós, que estamos do lado fraco, temos a vontade e a força de tornar o mundo um lugar melhor?”, contou. “Podemos deixar de lado nossa cobiça, nossos desejos para criarmos juntos um mundo melhor?”
Foi justamente a generosidade de Gi-hun que fez o público gostar dele, acredita Lee Jung-jae. “Ele sempre está disposto a ajudar os outros. Pode não ser o mais forte, o mais inteligente, mas usa o que pode para auxiliar.”
Round 6 é uma alegoria do mundo competitivo em que vivemos, onde “os perdedores” são eliminados ou apagados, abandonados sem rede de proteção. É um tema atual e que rende. Não à toa, Hwang Dong-hyuk escreveu e dirigiu duas temporadas de uma vez só, e os episódios da terceira devem chegar às telas ainda em 2025.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.
