A Netflix estreia, nesta quarta-feira, 10, a série documental Rainha Cleópatra, que criou polêmica antes mesmo de ser lançada. Com Jada Pinkett Smith como produtora-executiva, a produção foi criticada por conta da escolha do elenco, que coloca a atriz negra Adele James para interpretar a famosa personagem histórica.
Rainha Cleópatra tem 4 episódios e faz parte de uma série chamada Rainhas Africanas. Essa é a segunda temporada, que vai mostrar a trajetória de uma das mais famosas rainhas africanas no período em que ela governou o Egito.
A primeira temporada teve como personagem central, Njinga, que está disponível na plataforma de streaming.
Mas por que a polêmica?
Segundo a sinopse da série no serviço, “por meio de reconstituições e entrevistas, este drama documental mostra como Cleópatra, a última faraó do Egito, lutou para proteger seu trono”. Em um trecho divulgado pela Netflix, há entrevistadas que dizem que “possivelmente ela [Cleópatra] não era egípcia” e “eu lembro de minha avó me dizendo: ‘Não importa o que eles te digam na escola: Cleopatra era negra’”.
No entanto, o advogado egípcio Mahmoud al-Semary e outras pessoas no país discordam da afirmativa. Mahmoud entrou com um processo no Ministério Público do Egito pedindo a investigação e suspensão da plataforma no país. Segundo ele, a série estaria distorcendo a história e a identidade do Egito, já que Cleópatra seria branca.
O ex-ministro de antiguidades do Egito, Zahi Hawaiss, também fez críticas à produção, afirmando que o retrato de Cleópatra como uma mulher negra é “completamente falso”. Hawass também disse ao jornal Al-Masry al-Youm: “Cleópatra era (de origem) grega, o que significa que ela tinha a pele clara, não negra.”
Cleópatra era ou não era negra?
Não há como saber, essa é a verdade. De acordo com o registro histórico disponível, Cleópatra nasceu em Alexandria, no Egito, no ano de 69 ou 70 a.C. e se tornou a última rainha da dinastia helênica. Ela sucedeu seu pai, Ptolomeu 12, no trono em 51 a.C. e governou até a sua morte, em 30 a.C. Depois disso, o Egito caiu sob domínio romano.
As identidades da mãe e, sobretudo, da avó da rainha, não estão bem estabelecidas historicamente e, portanto, elas podem ter sido mulheres egípcias ou mesmo de outras partes da África. E, embora Cleópatra pertença a uma dinastia de origem helênica conhecida por suas práticas endogâmicas, ou seja, priorizavam casamentos entre parentes, a família estava no Egito havia mais de dois séculos quando ela nasceu.
Isso significa que pode ter acontecido miscigenação em algum nível, o que poderia resultar num tom de pele que não seria branco caucasiano, como acostumou-se a imaginar, principalmente após a representação de Elizabeth Taylor nos cinemas.
Perfis de Cleópatra cunhados em moedas da época e estátuas feitas por escultores romanos e egípcios mostram uma mulher de traços mediterrâneos, com nariz alongado.
Mas por que escolheram uma atriz negra?
Curiosamente, a representação mais famosa da rainha no cinema é justamente a de Liz Taylor, no filme Cleópatra, de 1963. O filme é acusado de ter feito “whitewashing”, que é uma prática racista de embranquecer figuras históricas).
No entanto, em uma entrevista para a Variety, a diretora da série, Tina Gharavi, disse que a escolha de Adele James para viver a rainha foi um “ato político”. “Temos que ter uma conversa com nós mesmos sobre colorismo e a supremacia branca internalizada com a qual Hollywood nos doutrinou”, disse.
Já o site parceiro da Netflix na produção da série, Tudum, afirmou em fevereiro que a decisão de escalar Adele James “era uma referência ao debate de séculos sobre a raça da governante”.
A atriz passou a receber mensagens de ódio após o trailer. James usou sua conta no Twitter para rebater ofensas. “Esse tipo de comportamento não será tolerado em minha conta. Vocês serão bloqueados sem hesitação. Se você não gostou do elenco, não assista ao programa”, escreveu.
Outras Cleópatras
Além de Elizabeth Taylor, que viveu a rainha em Cleópatra, outras mulheres brancas também deram vida à personagem histórica. No filme de 1963, dirigido por Joseph L. Mankiewicz, a rainha convence Júlio César a formar uma aliança, para que ela continue controlando o império e faz com que ele desista de invadir o Egito, porém, o imperador é assassinado no senado romano. Cleópatra se volta então para o general Marco Antônio com a intenção de proteger seus poderes.
Outro filme, lançado em 1945, traz a atriz Vivien Leigh (...E o Vento Levou e Uma Rua Chamada Pecado) interpretando a rainha do Egito. Dirigido por Gabriel Pascal, acompanha o drama do casal César e Cleópatra.
Não para por aí, em 1954, a atriz Sophia Loren deu vida à Rainha do Nilo no longa Duas Noites com Cleópatra (1954), dirigido por Mario Mattoli.
Um ano antes, a atriz Rhonda Fleming interpretava Cléopatra no longa A Serpente do Nilo, dirigido por William Castle.
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