O Pinguim busca por aprovação. A necessidade de reconhecimento do emblemático vilão do universo do Batman move a trama da nova minissérie estrelada por Colin Farrell. Nela, o ator galã surge barrigudo debaixo de próteses que lhe conferem a aparência carrancuda e fragilizada do criminoso de Gotham City.
O personagem coadjuvante em Batman (2022), filme inaugural da franquia sombria com Robert Pattinson na pele do homem-morcego, agora ganha protagonismo na produção da Max, que estreou na quinta, 19, no streaming.
O Estadão teve acesso antecipado aos oito episódios da série, que praticamente ignora a presença do iniciante Cavaleiro das Trevas, ainda tratado como “vigilante” (não como herói), e se passa logo após os eventos do longa-metragem de Matt Reeves, quando a cidade foi inundada após um atentado do Charada.
O texto contém spoilers.
Já nos primeiros segundos, é perceptível que a trilha sonora e a fotografia têm intenção de remeter ao universo do filme. Gotham está apodrecida, alagada e há um vácuo no poder do submundo do crime após a morte do mafioso Carmine Falcone, que controlava o tráfico da região. Sua filha, Sofia (Cristin Milioti), recém-libertada do sanatório Arkham, herda as rédeas da família sob desconfiança dos parentes. Ela tem planos ambiciosos que envolvem a distribuição de uma nova droga e precisa lidar com a máfia rival, liderada pelo encarcerado Sal Salvatore (Clancy Brown).
No meio disso está o faz-tudo Oswald Cobb, o Pinguim, em sua versão mais crua quando comparada à figura cartunesca – de cartola, monóculo e guarda-chuva – originária dos quadrinhos da DC Comics. Também não é possível relacioná-lo ao asqueroso modelo de Danny DeVito em Batman: O Retorno (1992) ou ao canalha franzino do seriado Gotham (2014-2019).
Na série, ‘Oz’ nem assume o apelido animalesco. A não ser pelo andar manco, há poucos elementos que façam o público conectar a interpretação de Farrell ao notável vilão. Mas isso faz parte da atmosfera realista idealizada por Reeves e não diminui em nada o trabalho do ator irlandês. Pelo contrário, desta forma ele consegue captar a essência do gangsterismo ítalo-americano, tendo como clara referência Tony Soprano, de James Gandolfini, em Família Soprano (1999-2007).
A empatia do público pelo protagonista é construída, principalmente, por meio do jovem Victor Aguilar (Rhenzi Feliz), que se torna um pupilo do Pinguim e representa o olhar inocente naquele cenário caótico, impiedoso e repleto de violência. Inocência que é destruída a cada capítulo conforme o rapaz se insere no jogo de traição e podridão que permeia a bandidagem de Gotham. “O mundo não foi feito para o homem honesto ter sucesso”, diz Oswald em determinado momento.
Outra razão que pode explicar a fácil empatia por Pinguim é o fato de ele ser um dos poucos vilões do Batman em pleno domínio de suas faculdades mentais. Apesar de ser ganancioso e traidor, não é um psicopata assustador como Coringa, Charada, Espantalho, Hera Venenosa ou Duas-Caras. Além disso, vemos seu lado carinhoso e protetor com a mãe Francis (Deirdre O’Connell), que sofre de demência.
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É Sofia Falcone, no entanto, quem rouba a cena e se torna a verdadeira atração do show. Com arco dramático de dar inveja a qualquer atriz, Milioti compõe uma moça aparentemente inofensiva que atravessa uma jornada de humilhação, insanidade e empoderamento. O destaque da mafiosa é, com toda certeza, a mais grata surpresa de Pinguim.
No fim das contas, fica claro que a série é um preâmbulo para o próximo filme do Batman, com previsão de lançamento em 2026. A produção, no entanto, é capaz de se sustentar por conta própria, abrindo margem para novos spin-offs ligados ao riquíssimo universo do homem-morcego. E contanto que Matt Reeves esteja na supervisão, os fãs vão comprar a ideia.
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