“Se eu disser que eu passei incólume pela experiência de Bom Dia, Verônica, eu vou estar mentindo”, diz Tainá Müller, em entrevista ao Estadão. A atriz é a intérprete da protagonista da série da Netflix, que ganha a terceira e última temporada nesta quarta-feira, 14, e conclui uma trajetória de cinco anos.
Acostumada à projeção da Globo, após fazer várias novelas na emissora, ela viu a popularidade e relevância explodirem ao embarcar no canhão da plataforma de streaming. Em evento de lançamento da nova parte da série, a atriz conta nunca ter visto tamanha repercussão de um papel.
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Na série, ela vive Verônica, uma escrivã de polícia que começa a investigar um crime e esbarra em um assassino de mulheres e em uma organização criminosa de raízes profundas. “Acho que faz os homens refletirem e as mulheres despertarem um pouco mais para o assunto”, afirma ela à reportagem sobre violência contra a mulher — tema pilar da trama.
‘Foi muito brutal’
As novidades desta temporada fecham o arco da trajetória de Verônica, que Tainá diz sempre ter enxergado em três fases. O desfecho passa pela chegada de Jerônimo, um misterioso criador de cavalos vivido por Rodrigo Santoro.
O ator diz que já achava o elenco sedutor e apontou os temas sociais como mais um atrativo para integrar o elenco da série — cujas temporadas anteriores chegaram ao Top 10 global de produções de língua não-inglesa mais assistidas na plataforma na primeira semana de agosto de 2023.
A interação entre as personagens confirma o modo de Tainá enxergar Verônica: uma figura de histórias em quadrinhos. “Para mim é o nascimento desta anti-heroína”, afirma a atriz.
Apesar disso, não há nada de infantil na história. A série é contraindicada para menores de 18 anos, com cenas explícitas de violência, abuso e morte. O que exigiu uma preparação psicológica significativa da protagonista. “Foi muito brutal, mexeu muito comigo”, diz Tainá.
“Como mulher, não tem como não me envolver emocionalmente com as questões que são tratadas ali”, completa a atriz. Apesar do desgaste, o peso do papel a estimulou a interpretar a personagem no intuito de que a ficção incentivasse mulheres a romperem com ciclos de violência em que estivessem inseridas.
Já na festa de estreia, ela compartilhou também o misto de sensações entre a personagem e a vida real. “De tarde eu estou lá matando o Brandão e quando chego em casa vou colocar criança para dormir”, brincou, sobre acontecimento da primeira temporada.
Amadurecimento dentro e fora das telas
Tainá considera que o desenvolvimento dramático de Verônica é também o processo de autodescoberta da identidade da protagonista, o que pode ser relacionado com a própria vida. “Foi muita coisa que eu vivi desde 2019, quando a Verônica chegou na minha vida. Foram muitas transformações”, afirmou.
Na trama, a personagem também é mãe, e Tainá diz que o período em que conciliou as duas coisas alterou também a forma como se via.
“Eu descobri uma força que eu não tinha, tanto física quanto emocional. A maternidade vai também nos ensinando. Eu fiz 40 anos fazendo a Verônica”,
revela.
E o crescimento foi também profissional. Ela conta que, em razão das cenas de confronto, foi desafiada fisicamente de maneira que o ofício nunca tinha demandado. “Me senti muito potente”.
Bem mais curta que as anteriores, esta temporada tem apenas três episódios, que condensam o desenlace dos mistérios que envolvem Verônica. Para isso, além da adição de peso de Rodrigo Santoro, também foi incorporada ao elenco Maitê Proença.
Atuando como mãe do astro, ela precisou enfrentar o medo de cavalos para as gravações e acabou praticamente resolvendo um trauma antigo de cavalgar. Mas não assistiu aos episódios antes do lançamento. “Eu não vi o resultado. Fiquei tensa”, contou no evento de estreia.
Como foram as temporadas anteriores
Na primeira temporada, Verônica tenta ajudar Janete (Camila Morgado), uma esposa submissa que sofre num casamento tóxico e abusivo com Brandão (Eduardo Moscovis). Policial, ele esconde a identidade de serial killer e é descoberto pela personagem de Tainá.
O casal acaba morto e a protagonista vira bode expiatório. Fugitiva da polícia, Verônica precisa abandonar a própria identidade e a família.
Na fase seguinte, Verônica larga a posição que ocupava na delegacia e segue uma pista que liga Brandão à máfia, com ramificações em uma igreja. É aí que aparece Matias (Reynaldo Gianecchini), pastor e curandeiro, que explora e violenta mulheres busca da “cura”.
Ele é pai de Ângela (Klara Castanho), que vive sob abusos psicológicos e físicos do genitor. Verônica se infiltra na seita tenta resgatar Ângela e consegue fazer Matias ser preso. Klara e Gianecchini voltam para o desfecho na terceira temporada e têm papéis cruciais para o fim da história.
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