‘The Chosen’: ‘Eu sei que a mensagem de Jesus pode criar polarização’, diz criador da série bíblica

Nova temporada da produção estreia com dois episódios nos cinemas em 10 de abril. Em passagem pelo Brasil, Dallas Jenkins refletiu sobre o sucesso e afirmou que a série não tenta manipular o espectador

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Foto do author Julia Queiroz
Atualização:

Imagine uma série que praticamente não precisa contratar figurantes. As milhares de pessoas que ficam por horas a fio em pé, com figurinos por vezes desconfortáveis, apenas para compor cenários são fãs que receberam o benefício de acompanhar gravações após participarem de um financiamento coletivo para colocar a produção de pé.

Esse é o nível de devoção dos espectadores da série The Chosen, drama histórico inspirado na Bíblia. Fenômeno no Brasil, ela retorna para sua quinta temporada com os dois primeiros episódios lançados nos cinemas em 10 de abril. Depois, chega a um aplicativo próprio e ao Prime Video.

Jonathan Roumie interpreta Jesus Cristo em 'The Chosen'. A quinta temporada da série estreia primeiro com dois episódios nos cinemas em 10 de abril de 2025. Foto: The Chosen/Divulgação

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“Nunca imaginei esse sucesso. Eu estava apenas tentando conseguir dinheiro suficiente para fazer quatro episódios e, depois, mais quatro episódios. E decidimos manter a série gratuita, então precisamos que as pessoas a apoiem”, diz o criador, diretor e corroterista Dallas Jenkins, de 49 anos, em entrevista ao Estadão.

Ele esteve no Brasil na última semana para divulgar a nova temporada e reuniu centenas de fãs em pré-estreias em São Paulo e no Rio de Janeiro. Com status de celebridade - ao menos na bolha cristã -, ele passeou pelas capitais, posou ao lado de Neymar e visitou o Cristo Redentor com uma camisa com a frase “Eu tenho apenas uma coisa a fazer hoje... seguir Ele”.

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The Chosen nasceu em 2017, quando Jenkins conseguiu arrecadar US$ 11 milhões para começar a contar a história de Jesus Cristo (Jonathan Roumie) e seus doze discípulos em parceria com a produtora Angel Studios (com quem ele rompeu em 2024). Oito anos depois, são, segundo a produção, mais de 250 milhões de espectadores ao redor do mundo e 17 milhões de seguidores nas redes sociais.

Dallas Jenkins (esq.) e Jonathan Roumie (dir.) nos bastidores da terceira temporada de 'The Chosen'. Foto: The Chosen/Divulgação

Intitulada The Chosen: Última Ceia, a quinta temporada vai retratar os eventos da Semana Santa, com a crucificação e a ressurreição de Cristo. Filmados com lentes anamórficas, os episódios foram pensados para o cinema e são descritos como os mais ousados da produção. Mas, para Jenkins, não é a escala que torna a série especial, e sim a tentativa de humanizar personagens tão famosos.

“Conhecemos as histórias e já vimos filmes bíblicos que são só versículo a versículo, milagre a milagre, e isso é ótimo, mas às vezes parece muito formal. Acho que nossa série, por ser mais íntima e humana, parece mais atual e nova para muitas pessoas. Acho que isso toca o coração das pessoas”, afirma.

‘Não estou tentando manipular’

A forma como The Chosen move fiéis é impressionante. Mesmo com o sucesso, ela segue sendo financiada por doações. No site oficial da produção, as arrecadações para a sexta temporada já somam US$ 34,2 milhões, com um objetivo final de US$ 56 milhões. Mas Jenkins afirma que ela não é apenas para pessoas religiosas.

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“A série não passa a sensação de que está pregando para você ou que está forçando você a acreditar em algo. Quando estou escrevendo e dirigindo, não estou pensando nas reações. Não estou tentando manipular você. Estou apenas tentando revelar as histórias o mais autenticamente possível”, diz.

No entanto, ele acredita que a série faz com que as pessoas tenham um relacionamento mais próximo com a fé, porque, para ele, os problemas da época de Cristo não são tão diferentes dos problemas que enfrentamos hoje. Ele cita o ano de 2020, quando a pandemia de Covid-19 e as eleições presidenciais nos Estados Unidos acentuaram a polarização no mundo.

“Quando não entendemos outras pessoas, as rejeitamos e ficamos muito fechados em nossa própria tribo”, diz. “Eu acho que a série permite que as pessoas digam: ‘Ok, há 2 mil anos, era parecido. E talvez a resposta para isso não seja a nossa própria perspectiva, mas talvez uma rendição a alguém maior do que nós mesmos’.”

'The Chosen: Última Ceia', quinta temporada da série, estreia nos cinemas em 10 de abril. Foto: The Chosen/Divulgação

O diretor não se esquiva de perguntas sobre críticas à serie e como ela pode alimentar fundamentalistas religiosos, mas afirma que não é “responsável pela forma como as pessoas reagem” a The Chosen. “Eu sei que a mensagem de Jesus pode criar polarização, porque ele dizia: ‘Me siga. Eu sou o Salvador. Eu sou o caminho para Deus. Eu sou a solução para seus problemas se você se render a mim’. E algumas pessoas não querem se render a ninguém.”

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“Algumas pessoas pensam e julgam com base nos cristãos e na Igreja. Talvez elas tenham sido feridas por seres humanos ou até mesmo por crentes em Jesus. Mas nós sempre dizemos, mesmo os cristãos, que nós somos falhos”, defende. “Não somos diferentes de ninguém. E tentamos apontar as pessoas para Jesus, mas às vezes nos atrapalhamos. A série está apenas tentando revelar quem Jesus era. Como você responde cabe a você.”

Brasileiros apaixonados

Jenkins celebra o sucesso de The Chosen no Brasil e avalia que a popularidade da série por aqui se dá por dois motivos: a tradução e dublagem em português, que estiveram disponíveis desde o primeiro episódio, e o fato dos brasileiros, por serem “apaixonados e emotivos”, apreciarem “a humanidade e a emoção das pessoas da série.”

“Desde o início, antes mesmo de sermos tão populares, nós víamos comentários nas redes sociais com ‘obrigado, obrigado’ [em português] ou a bandeira brasileira. As pessoas adoram colocar a bandeira brasileira nos comentários”, lembra. O criador se diz surpreso pela forma como a produção cresceu, mas afirma que isso não altera o seu trabalho.

“Enquanto estou escrevendo e dirigindo, não estou pensando no público porque eu tenho que me concentrar em fazer uma boa série”, explica. “[Esse apoio] é lindo, e eu nunca imaginei isso, mas ainda assim, isso não impacta a escrita e a direção. Elas são as mesmas agora e seis anos atrás.”

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